Qual é a diferença entre o estresse comum do dia a dia e o verdadeiro burnout?

  • Dayse Cruz
  • Publicado em 28 de outubro de 2024 às 12:30
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A compreensão da diferença pode ajudar a fazer algumas mudanças na sua rotina antes que as coisas piorem de verdade

Cansaço, sobrecarga, exaustão… Saiba quando é estresse do dia a dia ou burnout de verdade – foto Pexels

 

Em algumas semanas, o trabalho pode ser… simplesmente demais. Talvez você esteja se matando com tarefas intermináveis que te fazem querer chorar, gritar ou desistir. Ou, está tão cansado que ouvir o som de um e-mail chegando na sexta à noite já é o suficiente para arruinar seu fim de semana.

Em uma cultura que valoriza a produtividade, infelizmente é muito comum sentir-se totalmente exausto, esgotado e, como alguns diriam, “acabado”.

Mas, na verdade, há uma grande diferença entre o estresse comum do dia a dia e o verdadeiro burnout, explica Jessi Gold, diretora de bem-estar do Sistema da Universidade do Tennessee e autora de How Do You Feel?: One Doctor’s Search for Humanity in Medicine, em entrevista à SELF.

“Tendemos a usar muitas palavras relacionadas à saúde mental de forma imprecisa — e burnout é definitivamente uma delas”, diz Gold.

“Muitas pessoas dizem que estão experimentando isso quando, na verdade, estão apenas cansadas ou sobrecarregadas.”

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o burnout não se refere a uma sensação ocasional e temporária de estar sobrecarregado devido ao estresse elevado; trata-se de uma síndrome causada por um acúmulo de estresse crônico que não foi bem administrado.

É claro que, quando você está perdendo o sono após vários turnos noturnos consecutivos ou afundado em uma lista de tarefas sem fim, pode ser difícil saber se você só precisa de uma pausa ou se está lidando com um verdadeiro burnout. Por isso, terapeutas explicam as principais diferenças entre os dois.

1. O burnout é relacionado especificamente ao trabalho

Você pode estar completamente exausto com a cena dos encontros, por exemplo, ou totalmente desgastado após treinar para várias corridas de 5 km.

Mas, tecnicamente falando, o termo “burnout” se refere apenas ao esgotamento relacionado ao trabalho, de acordo com a OMS.

“Isso significa que a fadiga que você está experimentando vem do seu trabalho — seja você um pai ou mãe que fica em casa, estudante em tempo integral, profissional de saúde ou alguém que trabalha em um escritório”, explica Angela Neal-Barnett, professora de psicologia e diretora do Programa de Pesquisa sobre Transtornos de Ansiedade entre Afro-Americanos (PRADAA) na Kent State University.

Então, termos como “burnout de namoro” ou “burnout de exercício” não são tecnicamente corretos: nesses casos, você provavelmente está se referindo apenas ao cansaço.

2. O burnout não desaparece após concluir uma tarefa importante ou cumprir um prazo

É verdade que uma apresentação de alta pressão ou uma crise de atendimento a pacientes podem aumentar a ansiedade.

Mas se você sentir uma onda de alívio após o fim da pressão (e voltar a se sentir como antes), provavelmente está lidando apenas com o estresse normal, e não com o burnout.

Como Neal-Barnett explica, o estresse é a resposta fisiológica do seu corpo a um desafio específico.

No momento, você pode se sentir inquieto, tenso ou com o coração acelerado — mas esses sintomas devem desaparecer assim que a situação causadora da ansiedade passar.

Já o burnout é o resultado de estresse contínuo e não resolvido que se acumula ao longo do tempo, geralmente por mais de seis meses.

Você provavelmente não estará “em burnout” por causa de uma única escassez de pessoal ou prazo apertado.

“É mais como se você estivesse lutando contra esse estresse implacável por tanto tempo que ele acaba te esgotando de tudo, e seu corpo e mente meio que desistem,” diz a Dra. Neal-Barnett — o que explica por que o burnout pode ser mais complicado de tratar.

3. O burnout traz sentimentos de desapego ou cinismo em relação à sua carreira

Estresse e burnout compartilham muitos sintomas, como ansiedade, fadiga e irritabilidade.

Mas, com o burnout, você está tão emocionalmente esgotado (e por tanto tempo) que começa a se sentir sem esperanças, cínico e desapegado do seu trabalho, explica Christina Maslach, professora de psicologia da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e coautora de The Burnout Challenge: Managing People’s Relationships with Their Job.

Quando você está estressado, ainda pode ter energia e motivação suficientes para continuar, enquanto no burnout, “você não está dando o seu melhor, porque seus esforços parecem inúteis”, diz a Maslach.

“Você está mentalmente desligado, fazendo apenas o mínimo necessário e pensando: Como eu faço para apenas sobreviver a isso?”

Como resultado, você pode começar a se afastar de seus pacientes, por exemplo, por estar com dificuldade de mostrar a compaixão que eles merecem. Ou, se você alcançar algum grande feito (como uma promoção ou elogios do chefe), não se sente feliz ou orgulhoso: você simplesmente… não se importa.

4. Seu desempenho no trabalho vai piorar quando você estiver em burnout

“Se você ainda gosta do seu trabalho e sente que está produzindo com qualidade, provavelmente está apenas sobrecarregado, mas não em burnout”, afirma a Maslach.

Isso porque o burnout, como explicamos anteriormente, tende a fazer com que você se sinta pessimista e totalmente desmotivado — o que, naturalmente, diminui sua satisfação no trabalho e pode afetar também seu desempenho.

Você pode começar a perder prazos importantes ou entregar tarefas sem revisar para evitar erros, simplesmente porque não tem mais disposição para se importar. Ou, pode estar tão mental e fisicamente esgotado que demora mais para reagir em situações de emergência.

No entanto, você não precisa necessariamente estar à beira de ser demitido para estar em burnout: “Também é comum desenvolver um senso de fracasso ou uma avaliação negativa de si mesmo, como ‘Eu não sou bom nisso.

Não consigo lidar com isso. Não quero mais fazer isso’,” diz Maslach — e essa autocrítica pode fazer você acreditar que a qualidade do seu trabalho está caindo (mesmo que outras pessoas não tenham notado).

5. O que alivia o seu estresse, provavelmente, não vão ajudar em caso de burnout

A maioria de nós tem algo pelo que espera após uma semana exaustiva — seja um bom treino, bebidas com amigos ou alguns episódios de um programa de TV descontraído.

Mas, segundo a Dra. Gold, o burnout drena sua energia a tal ponto que até as atividades que antes ajudavam a equilibrar o estresse deixam de funcionar.

Por exemplo, talvez você adorasse cozinhar, mas agora pede comida todas as noites — não porque você deseja, mas porque não consegue encontrar motivação para cozinhar.

Ou talvez você sempre tenha encontrado paz em correr algumas milhas antes de ir ao trabalho, mas, nos últimos meses, calçar seus tênis e sair de casa tem parecido uma tarefa enorme. Basicamente, quando seu autocuidado habitual não alivia mais o estresse, isso pode sinalizar um problema crônico como o burnout.

6. …e nem alguns dias de folga resolverão

Novamente, o burnout não vem de um mês superocupado ou de uma tarefa exigente. Ele está enraizado em problemas mais sistêmicos, como pressão contínua dos superiores, falta de apoio ou uma enxurrada constante de chamadas de emergência (ou e-mails urgentes) mantendo você no trabalho 24 horas por dia.

Embora férias tranquilas possam aliviar alguns sintomas, elas não resolverão o burnout de verdade, de acordo com a Maslach.

“O problema maior é que esses descansos geralmente não mudam a fonte do burnout,” ela explica — nem a viagem mais relaxante resolverá questões como um chefe tóxico, expectativas irreais ou o constante medo de demissões, por exemplo.

Por isso, todos os especialistas concordam: locais de trabalho e empregadores precisam assumir a responsabilidade e fazer mudanças reais para criar um ambiente mais positivo e de apoio.

Mas, como isso não vai acontecer do dia para a noite (infelizmente), uma das melhores coisas que você pode fazer é conversar com seu chefe sobre maneiras de melhorar sua situação, sugere a Neal-Barnett.

Isso pode significar reduzir sua carga de trabalho ou ajustar seu horário para evitar turnos consecutivos à noite.

E se isso não der resultado, pode ser hora de começar a planejar uma saída — explorando novas oportunidades, conversando com ex-colegas ou economizando para uma pausa na carreira — porque nenhum emprego vale a sua saúde mental.

Independentemente dos seus próximos passos, lembre-se de ter paciência consigo mesmo. “Lembre-se, você não é preguiçoso. Você não é um fracasso por se sentir assim”, diz Gold.

Se isso ainda não estava claro com todas as informações dos especialistas: o burnout é um problema sério e reflexo de um sistema falho — não do seu valor.

*Informações Glamour


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