Paradas, micro e pequena empresa não têm fôlego nem para um mês

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 5 de abril de 2020 às 01:52
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:34
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Segundo especialistas, a maioria não tem fluxo de caixa suficiente para bancar um período longo sem receitas

​Enquanto as grandes companhias do País têm, pelo menos, três meses de caixa para bancar todas as despesas do dia a dia sem faturar, nas micro, pequenas e médias empresas a situação é bem diferente. 

Segundo especialistas, a maioria não tem fluxo de caixa suficiente para bancar um período longo sem receitas.

O presidente da Trevisan Escola de Negócios, VanDyck Silveira, diz que tradicionalmente essas empresas têm 27 dias de caixa para honrar seus compromissos.

“Se param de vender, podem quebrar mais rapidamente”. Além disso, elas mal conseguem se financiar no mercado, mesmo em condições normais.

Exemplo dessa dificuldade é a escalada da inadimplência das empresas pelo 11.º mês consecutivo.

Em janeiro, segundo a Serasa Experian, o País teve um novo recorde: 6,2 milhões de empreendimentos com contas atrasadas e negativadas, número quase 10% superior a igual período do ano anterior.

Desse total, 94,2% são micro ou pequenos negócios, com os demais se dividindo entre médio e grande portes. Metade dos inadimplentes são do setor de serviços.

“Os atrasos vinham numa escalada desde a recessão e depois na semiestagnação. O crescimento de 1% ao ano não chega aos pequenos negócios. Por isso, o atraso nas contas só aumenta”, diz o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi.

Segundo ele, com a crise atual, o índice de inadimplência deve acelerar a alta dos últimos meses.

“Nunca tivemos uma crise dessas com paralisação das atividades. Por enquanto, o que sabemos é que quem vai sofrer mais são as micro e pequenas que têm estruturas financeiras mais frágeis.”

Um problema apontado por Rabi é que 30% da dívida em atraso dessas empresas menores são com outras empresas, no chamado crédito mercantil.

“A inadimplência de pessoa jurídica no Brasil não está com os bancos, mas com os fornecedores (o que provoca efeito em cascata)”.

Para ele, o melhor seria se fosse com o mercado bancário, uma vez que as instituições financeiras têm “mais bala na agulha para aguentar esses movimentos”.

Em muitos casos, os inadimplentes não quebram nem fecham as portas. Mas a atividade fica comprometida, já que só podem comprar insumos, matéria-prima ou mercadorias à vista.

“Eles perdem o acesso a crédito com taxas menos caras”, diz Rabi.


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