Otimismo: Estudos mostram segurança de vacina em crianças, grávidas e lactantes

  • Nina Ribeiro
  • Publicado em 22 de março de 2021 às 08:30
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Embora esses grupos tenham ficado de fora dos primeiros testes de imunização contra o coronavírus, eles precisarão ser contemplados para se alcançar a imunidade ampla

Estudos e resultados são  promissores sobre a vacinação em crianças, gestantes e lactantes

 

Enquanto a vacinação contra Covid-19 dá seus passos (ainda lentos no Brasil) entre adultos e idosos no mundo, alguns grupos – particularmente crianças, grávidas e lactantes – seguem ainda mais distantes da imunização, por não haver certeza sobre a segurança da vacina em seu organismo.

Estudos e resultados preliminares, porém, dão motivos para otimismo – embora os dados precisem ser vistos com cautela por enquanto.

Vacinar o máximo de pessoas possível, com rapidez, é considerado indispensável para conter a disseminação do coronavírus e o surgimento de novas variantes ainda mais perigosas do que as atuais.

As crianças, em particular, compõem um quarto da população mundial, se levarmos em conta apenas o total de pessoas entre zero e 14 anos.

Crianças e a experiência ‘animadora’ de Israel

Israel, o país do mundo com ritmo mais alto de vacinação contra a Covid-19, já imunizou mais de 60% de sua população com ao menos uma dose.

Mas estão fora desse grupo imunizado as pessoas com menos de 16 anos, a idade mínima recomendada para a vacina aplicada no país, a da Pfizer/BioNTech.

Também de Israel que vem uma das primeiras boas notícias relacionadas à vacinação infantil: cerca de 600 crianças e adolescentes de 12 a 16 anos foram vacinados no país por terem doenças pré-existentes que as tornam mais vulneráveis ao novo coronavírus.

E, até o momento, elas não sofreram nenhum efeito colateral significativo da vacina, disse recentemente ao jornal britânico “The Guardian” o chefe da força-tarefa de vacinação israelense, Boaz Lev.

Não se trata de um estudo clínico, mas até o momento Lev qualificou os resultados como “animadores”.

Estudos avançam em crianças e adolescentes

Para além de Israel, representantes da Pfizer afirmaram à agência Reuters que esperam confirmar nos próximos meses se sua vacina é segura para adolescentes. Para crianças mais novas, os resultados devem vir até o final do ano.

No Reino Unido, o Instituto Nacional de Pesquisas em Saúde iniciou em fevereiro estudos para avaliar o desempenho da vacina da Oxford/AstraZeneca em voluntários de 6 a 17 anos.

Quanto à CoronaVac, atualmente a vacina predominante no Brasil, ainda não há previsão de testes em crianças e adolescentes, informa o Instituto Butantan – acrescentando, porém, que a Sinovac (empresa chinesa parceira do instituto na fabricação do imunizante) está fazendo estudos de fase 1 e 2 com voluntários de 3 a 17 anos na China.

A vacinação no público infantil ganha ainda mais importância diante das novas (e mais contagiosas) variantes do novo coronavírus, explica à BBC News Brasil o pediatra e epidemiologista Fernando Barros, da Universidade Federal de Pelotas.

Apesar de ainda não haver dados conclusivos, a percepção de muitos cientistas é de que as novas variantes, ao afetarem um número maior de pessoas, acabam também afetando, proporcionalmente, mais crianças.

Aqui no Brasil, um estudo de caso para avaliar a imunidade coletiva está em curso em Serrana (SP), cidade escolhida pelo governo do Estado para imunizar toda a população adulta e verificar o comportamento do vírus depois disso.

Os resultados, segundo o Instituto Butantan, sairão em maio. “Vamos ver ali o que vai acontecer com a infecção entre as crianças”, aponta Barros.

“Aumentando (o contágio) em crianças, será ainda mais importante ter a vacina para esse público”, diz Barros à BBC News Brasil.

“Nos países com grande cobertura vacinal, o grupo de 16 anos ou menos vai precisar ser imunizado para atingir-se uma (ampla) imunidade.”

Nos EUA, o médico Anthony Fauci, que comanda os esforços oficiais contra o coronavírus, tem dito à imprensa americana que, se os resultados dos testes clínicos já em curso forem positivos, crianças e adolescentes do país poderão começar a ser vacinados em setembro, no início do ano letivo no hemisfério Norte.

Os EUA são o país que, em números absolutos, mais aplicou vacinas até agora: cerca de 113 milhões de doses, ou quase dez vezes mais do que o Brasil.

Aqui, como não conseguimos sequer vacinar os grupos prioritários, não há dúvidas de que a vacinação infantil ainda vai demorar muito.

Por sinal, se o ritmo atual de vacinação for mantido, o Brasil só conseguirá vacinar toda sua população em 2024, segundo as estimativas do portal Monitora Covid-19, da Fiocruz.

Mães que amamentam podem tomar vacina contra Covid-19?

Lactantes (mulheres amamentando) e grávidas também não foram incluídas nos primeiros testes clínicos das vacinas contra a Covid-19, portanto ainda não se sabe o suficiente sobre a segurança da imunização entre elas.

Mas estudos recentes trazem sinais preliminares alentadores – particularmente para lactantes.

O portal internacional e-lactancia.org, que reúne informações científicas sobre amamentação, revisou em janeiro o nível de risco da vacina contra Covid-19 para “muito baixo” em mães que amamentam.

O portal também destaca a recomendação atual da Organização Mundial da Saúde (OMS): “a vacina pode ser oferecida a uma lactante que seja parte do grupo recomendado de vacinação (por exemplo, profissionais da saúde), e não se recomenda a interrupção da amamentação depois da vacina”.

Em março, veio de Israel mais um estudo de resultados positivos, feito com lactantes vacinadas: “o estudo mostrou produção de anticorpos no leite materno, sem maiores prejuízos para as mulheres, que também foram imunizadas”, explica Daniel Becker.

Na prática, a vacina em si não passou ao leite materno, mas os anticorpos, sim, agrega o médico.

Mas é preciso fazer duas ressalvas importantes ao estudo israelense: primeiro, ele ainda não foi revisado por pares e portanto não pode, por enquanto, ser usado para orientar a prática clínica.

Em segundo lugar, ele foi feito com as vacinas da Pfizer e Moderna, que usam a tecnologia de RNA mensageiro – diferente das vacinas da CoronaVac (vírus inativado) e AstraZeneca (adenovírus), as aplicadas no Brasil até o momento.

Portanto, não podemos transpor as mesmas conclusões para vacinas com tecnologias diferentes.

Mulheres grávidas e vacinas contra Covid-19

Outro estudo, da Universidade de Harvard com o Hospital Geral de Massachusetts (EUA), testou vacinas da tecnologia mRNA em 131 mulheres, sendo 84 grávidas, 31 lactantes e 16 não-grávidas, como grupo de controle.

A conclusão, publicada em março, é de que “a resposta imune foi equivalente nas grávidas e lactantes, em relação às mulheres não grávidas”.

E anticorpos foram identificados tanto no cordão umbilical quanto no leite materno, sendo assim transferidos aos bebês.

“As vacinas mRNA contra Covid-19 geraram uma resposta imune robusta nas grávidas e lactantes”, escrevem os autores.

Mas, novamente, trata-se de um estudo ainda não revisado por pares e que não abrangeu as vacinas por enquanto usadas no Brasil.

Por enquanto, ainda prevalece então a cautela, em especial para gestantes.

 


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