Melatonina para crianças: entenda quais são as principais dúvidas e riscos

  • Nina Ribeiro
  • Publicado em 12 de abril de 2024 às 22:00
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O hormônio ajuda a regular o sono, reduzindo os sintomas relacionados à insônia, mas o uso por crianças deve ser feito com indicação médica e com cautela

A melatonina é um hormônio produzido naturalmente pelo corpo humano – foto Freepik

 

A melatonina é um hormônio produzido naturalmente pelo nosso corpo que é responsável pelo nosso sono e, por isso, a sua suplementação é muito comum entre adultos que buscam aliviar os sintomas da insônia.

Porém, ainda existem dúvidas acerca do uso do suplemento por crianças que também têm dificuldades para dormir: será que é seguro? Quais são as indicações? Há riscos?

De acordo com especialistas, a suplementação de melatonina pode ser segura em crianças, mas deve ser feita com cautela e apenas com indicação médica.

Além disso, ainda não existem evidências científicas sobre os possíveis efeitos colaterais do uso do hormônio pelos pequenos à longo prazo.

“Apesar de ser, sim, seguro dar melatonina para a criança, é importante lembrar que esse é um hormônio, o que significa dizer que, assim como todos os outros hormônios, pode ter vários efeitos sobre o corpo”, afirma Leticia Soster, neurologista infantil, médica do sono e membro da SBNI (Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil).

“Embora haja um perfil de segurança, ainda falta muita pesquisa para dizermos quanto esses efeitos podem modificar outros fatores do corpo da criança à longo prazo”, completa.

O que é melatonina?

A melatonina é um hormônio produzido naturalmente pelo corpo, mais especificamente pela glândula pineal localizada no cérebro.

A sua produção é controlada pelo ciclo circadiano de 24 horas, que se baseia na alternância entre luz e escuridão.

À noite, os níveis do hormônio começam a subir, levando à sonolência, e seu pico é atingido durante a madrugada, garantindo um sono profundo e necessário para as funções cerebrais, conforme explica o neurologista infantil Antônio Carlos de Farias, do Hospital Pequeno Príncipe.

“Com o amanhecer e o aumento da claridade, a produção de melatonina diminui, pois a luz solar inibe sua produção, sinalizando ao corpo que é hora de despertar e ficar alerta. Essa oscilação natural é fundamental para regular o ciclo sono-vigília e manter um padrão saudável de sono”, afirma o especialista.

A suplementação de melatonina, em adultos, é indicada para auxiliar na regulação do sono em casos de dificuldade para dormir, desequilíbrios no ciclo circadiano e problemas para manter um sono profundo.

Quando a melatonina pode ser indicada para crianças?

A AASM (Academia Americana de Medicina do Sono) recomenda que o uso de melatonina “pode melhorar o sono em crianças cujos relógios biológicos estão ‘fora do horário’ e em algumas crianças com problemas de desenvolvimento”, em posicionamento oficial da entidade.

No entanto, a AASM reforça que os pais devem conversar com um profissional de saúde antes de dar melatonina e qualquer suplemento às crianças.

De acordo com de Farias, a suplementação de melatonina em crianças deve ser feita com a indicação correta, utilização de dosagens adequadas e com atenção às características individuais da criança, por um tempo de uso não prolongado. “[São] Aspectos que exigem orientação médica especializada”.

Quais são os possíveis riscos da suplementação de melatonina?

A suplementação de melatonina, quando feita sem orientação médica e em dosagens inapropriadas, pode levar à sonolência durante o dia, distúrbios gastrointestinais (náuseas, vômitos ou dores de estômago), além de alterações de humor.

Em crianças, esses efeitos podem variar de acordo com a sensibilidade individual e podem afetar o desempenho escolar e a rotina da criança, de acordo com de Farias.

De acordo com a AASM, a melatonina é o segundo produto “natural” mais popular que os mais dão aos filhos.

Diante desse cenário, ainda segundo a entidade, houve relatos, nos Estados Unidos, de aumento nos casos de overdose de melatonina e nos atendimentos de emergência para crianças, principalmente durante a pandemia de Covid-19.

No Brasil, em agosto de 2021, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu a fabricação, comercialização, distribuição e o uso de um suplemento alimentar de melatonina para crianças, chamado “Soninho Perfeito Melatonina Kids”, da empresa Oemed.

De acordo com a agência, “não há segurança de uso comprovada junto à Agência para essas faixas etárias”.

Dicas importantes para melhorar a qualidade do sono das crianças

A neurologista infantil Leticia Soster explica que “o sono começa na hora que acordamos”. Ou seja, ele é composto por todas as atitudes que tomamos durante o dia. “Isso é muito válido para as crianças, principalmente as mais novas”, afirma.

Portanto, uma das primeiras dicas essenciais é manter a rotina estabelecida com horários regulares.

“É importante ter horário regular para acordar, para se alimentar, para realizar atividade física e para dormir. O cansaço é um fator que a gente chama, tecnicamente, de fator homeostático que, lá no final do dia, vai fazer a criança adormecer”, explica.

Uma outra questão importante é saber lidar com a aversão da criança ao sono. “A criança tem aquela sensação aversiva que é sentir sono, ela se incomoda com ele, sentir sono é ruim. Esse é um fator comportamental”, complementa.

“Para solucionar essa questão, é preciso fazer a criança relaxar antes de adormecer para que ela não brigue com a sensação ruim que é ter sono.”

Outras dicas importantes, segundo os especialistas, incluem:

– Evitar estímulos próximos da hora de dormir (televisão, música, dispositivos eletrônicos);
– Proporcionar atividades relaxantes (música suave, luz com baixa intensidade, leitura de livros com conteúdos ajustados a faixa etária);
– Evitar alimentos e bebidas estimulantes, como café, refrigerantes e chocolate;
– Proporcionar um ambiente confortável, silencioso, escuro, ventilado e com temperatura adequada para favorecer o início e manutenção do sono.

*Informações CNN


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