Empresário francano, líder da Blue3, quer ter R$ 100 bilhões em custódia até 2027

  • Teo Barbosa
  • Publicado em 14 de dezembro de 2021 às 14:30
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A empresa tem 630 colaboradores, R$ 13 bilhões sob custódia e deve fechar 2021 na casa dos R$ 14 bilhões ou R$ 15 bilhões.

Sucesso no mundo dos investimentos, o francano Wagner Vieira, líder da Blue3, é filho de uma cozinheira e de um barbeiro

A Blue3, assessoria de investimentos vinculada a XP, tem uma meta clara: se tornar corretora em um ano e meio, buscar o IPO em 2027, atingir R$ 100 bilhões em custódia nos próximos anos e estar presente, fisicamente, em mais capitais.

Hoje, a sede da empresa fica em Ribeirão Preto e conta com unidades de negócios em 12 cidades brasileiras.

Para o francano Wagner Vieira, CEO da Blue3, a educação financeira é o caminho para que mais brasileiros se tornem investidores e  desmistificar o universo dos investimentos.

“As pessoas acham que investir é um bicho de sete cabeças, que entrar na bolsa é coisa de maluco, mas não é nada disso. É muito mais simples do que a gente pensa, mas é óbvio que você precisa estudar”, afirma Vieira.

Wagner Vieira concedeu uma entrevista ao portal 6 Minutos, que o Jornal da Franca transcreve a seguir:

Como começou sua trajetória até se tornar CEO da Blue3?

Eu sou de uma família muito simples. Meu pai era barbeiro e minha mãe cozinheira de um hospital psiquiátrico em Franca (interior de São Paulo), ambos aposentados hoje.

Eu tive uma infância humilde e comecei a trabalhar com 12 anos como empacotador de supermercado para poder comprar minhas coisinhas que meu pai não tinha condição de dar. Eu nunca passei fome, mas passei vontades quando era criança, então resolvi começar a trabalhar.

Depois do supermercado, trabalhei na Pernambucanas. Depois, consegui uma vaga como estagiário no Santander e, em seguida, como gerente da sala de ações do banco.

Na época, ganhei R$ 10 mil em vale-compras em uma premiação por desempenho e usei o dinheiro para começar a empreender. Comprei três computadores, uma máquina de café e um bebedouro. Foi ali que nasceu a Blue3, um escritório de 30 metros quadrados em Franca.

A Blue3 está expandindo e contratando profissionais. Como você enxerga esse movimento em meio a pandemia?

No ano passado, triplicamos de tamanho. Começamos o ano com R$ 3 bilhões sob custódia e terminamos com R$ 8 bilhões. Hoje estamos com 630 colaboradores na empresa, R$ 13 bilhões sob custódia e devemos fechar 2021 na casa dos R$ 14 bilhões ou R$ 15 bilhões.

Eu falo muito para o meu time que temos que assumir o protagonismo nas nossas vidas. Eu parto do princípio de não colocar culpa em presidente, não quero saber quem vai se eleger no ano que vem. Não importa quem ganhar, eu vou acordar às 6h, fazer minha barba, colocar meu paletó e ir trabalhar.

Eu acredito no trabalho, minha história é pautada nisso. Independentemente da pandemia, do presidente, do mercado, eu vou trabalhar. Nisso que eu tento focar e passar ao meu time.

Como você enxerga o cenário de assessoria de investimentos? Há espaço para crescimento?

A maior parte do dinheiro dos brasileiros está no banco. Quando você olha para os Estados Unidos, a maior parte do dinheiro está em corretoras ou plataformas abertas. A fotografia que tiramos hoje do nosso país é a mesma dos Estados Unidos da década de 1980. Lá fora, ser financial advisor (assessor de investimentos, em português) é uma profissão desejada.

Aqui no Brasil não temos educação financeira para isso. Quando você vê que 90% do dinheiro das pessoas está no banco e o tamanho do mercado, vejo uma grande oportunidade. Da pizza, só comemos a azeitona por enquanto, mas temos a pizza toda para abocanhar.

Por isso que eu tenho contratado cada vez mais pessoas, expandindo a empresa e buscando novas praças, porque realmente é um mercado virgem quando falamos do mundo de investimentos financeiros no Brasil.

Como dá para transformar mais brasileiros em investidores?

Por meio da educação financeira. Hoje está muito mais fácil de conseguir informações e a educação continua sendo o nosso principal punch, o que nos motiva a continuar dando curso, palestras, falando com universidades e fazendo evento com clientes.

As pessoas acham que investir é um bicho de sete cabeças, que entrar na bolsa é coisa de maluco, mas não é nada disso. É muito mais simples do que a gente pensa, mas é claro que exige algum estudo.

Quando você vai aplicar no mercado, é preciso entender o básico. Por isso que acho que nossa profissão vai crescer muito, já que muitas pessoas não têm tempo de tomar esse tipo de decisão financeira.

Acho que no futuro, para falar de dinheiro, os brasileiros vão chamar um assessor de investimentos. A nossa profissão é muito parecida com a do médico.

Primeiro ele entende os sintomas para medicar. Nós sentamos com o cliente, entendemos o histórico, os desejos, tentamos levantar o máximo de informações para montar uma carteira dentro da realidade de cada um. É impossível colocar as pessoas em uma caixinha, porque cada um tem desejos e projetos de vida diferentes.

Lidar com dinheiro das pessoas é muito sério. Ninguém quer perder.

Meu pai sempre falava que o que é combinado não sai caro. Por isso que temos que levantar todas as informações antes de sugerir uma carteira. Você tem um dinheiro que precisa para comer, por exemplo, como vamos colocar esse montante na bolsa? Não dá para fazer isso, tem que escolher um produto com liquidez diária.

Ninguém quer perder, mas não quer ganhar pouco. Eu brinco que não dá para ter tudo. Não existe a maior rentabilidade, com prazo curto e sem risco. Para ganhar um pouco mais, sem risco, precisa de um prazo maior.

Quem quer uma taxa maior em um prazo curto vai ter que arriscar mais, ir para bolsa ou para fundo imobiliário, por exemplo. Isso pode te dar mais taxa, mas também dar uma rentabilidade negativa. Ter tudo ao mesmo tempo não dá: tem que abrir mão ou de tempo, ou de risco, ou de taxa.

Existe alguma perspectiva do que pode acontecer com a bolsa até o final do ano?

É difícil fazer qualquer projeção, é quase impossível. Quem imaginava que teríamos uma pandemia, que o mercado sairia dos 120 mil pontos e cairia aos 60 mil? E que, no auge da pandemia, com o maior número de mortes, sairia de 60 mil e subiria aos 130 mil pontos, acima do nível pré-pandemia.

O mercado sobe no boato e cai no fato. Sobe em uma expectativa de que as coisas vão melhorar e cai quando realmente melhoram. O mesmo acontece em momentos de queda.

No Brasil, temos as reformas que precisam passar, que é o que mais preocupa os investidores. A variante da covid é uma coisa mundial. Se você olhar no ano, a bolsa americana está com alta e a nossa com queda. Por que destoou? Por causa do cenário doméstico, já que hoje o investidor quer ver se as contas do país vão fechar antes de investir.

Para você segurar o dinheiro do estrangeiro aqui, você tem que aumentar os juros, pagar um prêmio maior. A prioridade do país precisa ser a agenda reformista. Se o investidor não tiver a tranquilidade de olhar para o Brasil, sai em debandada daqui, em busca de porto seguro, em outros países.

Quando vemos a fuga de investidores, vemos um dólar mais alto, um real e uma bolsa mais enfraquecidos, uma tempestade perfeita. Temos a variante, um ano de eleição em 2022. O mercado antecipa tanto coisa boa como ruim. Não ficaria surpreso se, no ano que vem, virmos o mercado subindo, apesar da eleição, porque o cenário instável já tinha sido precificado antes. Hoje têm papéis que estão muito amassados.

Eu estou otimista, porque como empreendedor e empresário, eu preciso enxergar o copo meio cheio. Eu sigo contratando, acreditando no país e que ano que vem vai ser melhor do que esse mesmo com os desafios que temos. Acho que olhando para o meu mercado como um todo, temos uma oportunidade gigantesca.

Na renda fixa, o investidor tem melhores oportunidades com a Selic mais alta. Você acredita que o investidor vai migrar da renda variável para a fixa?

Isso já é claro, está acontecendo. Toda vez que os juros sobem existe uma migração da renda variável para a renda fixa e vice-versa. Com juros altos, o investidor começa a fazer conta se vale a pena correr riscos na bolsa.

Os pontos positivos da bolsa são que os ativos tem liquidez imediata e existem empresas que hoje estão pagando ótimos dividendos, muito mais do que muitos aluguéis de imóveis. Por mais que exista a volatilidade no preço do papel, os dividendos compensam, além de que muitas ações estão baratas, com bastante espaço para valorização.

Por isso que é importante estar bem assessorado, porque senão a pessoa sempre entra na alta, nos 130 mil, e vende na baixa. Vai na euforia e existe um risco muito grande de você estar saindo no pior momento.

Se você montou uma carteira com longo prazo, em que definiu com seu assessor que um pedaço do seu patrimônio você colocaria em renda variável, tem que manter no que foi combinado.


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