Presentes de 2ª mão viram tendência no Natal – o que você faria se ganhasse um?

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  • Publicado em 23 de dezembro de 2019 às 14:16
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:10
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Prática se tornou aceitável porque demonstra preocupação com consumismo e o meio ambiente

Há dez anos, se você ganhasse uma blusa usada de presente de Natal provavelmente ficaria muito chateado. Dar um presente de segunda mão poderia ser considerado falta de educação, sovinice, um insulto até. Afinal, somos condicionados a gostar do que é novo.

Mas os tempos mudaram. Recentemente, muitos brasileiros estão presenteando – e também comprando para si – itens de segunda mão. 

E essa prática se tornou aceitável, não só pela economia, mas porque demonstra uma preocupação com o consumismo, o materialismo e o meio ambiente.

“Aos poucos, as pessoas estão percebendo que os recursos do planeta não são infinitos e que pequenas práticas podem mudar o contexto da coletividade”, diz Carlise Nascimento Borges, professora de estudo do comportamento e compra na Fapcom (Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação). “Dar um presente feito à mão ou algo que foi reutilizado começa a ser valorizado pela sociedade, pois mostra responsabilidade com o bem comum.”

Indústria têxtil

A indústria têxtil é umas das que mais poluem o meio ambiente. Malhas de poliéster, por exemplo, requerem, segundo especialistas, 70 milhões de barris de petróleo todos os anos para serem produzidas. E demoram mais de 200 anos para se decompor.

Além disso, calcula-se que cada peça de roupa seja usada, em média, apenas sete vezes. E que 70% das roupas de uma pessoa ficam no guarda-roupa e não são vestidas nunca, segundo pesquisa da rede americana de lojas de moda de segunda mão ThredUp.

Lojas de segunda mão

Essa preocupação em reutilizar mais roupas e minimizar o impacto ambiental leva cada vez mais consumidores para sites que vendem produtos usados. É o caso do Repassa, que revende moda e assessórios de segunda mão.

“Estamos crescendo quatro vezes por ano desde 2017”, diz Tadeu Almeida, fundador do Repassa, acrescentando que esta temporada natalina da empresa. “Existe uma previsão de que o varejo de segunda mão poderá ser, mundialmente, em dez anos, maior do que é o negócio de fast fashion”, diz ele, se referindo à indústria que cria roupas baratas para serem usadas e logo descartadas.

Nos Estados Unidos, de acordo com a ThredUp, o mercado de moda de segunda mão cresce 21 vezes mais rapidamente que o varejo de vestuário.

Aqui, até redes de varejo de roupas novas estão no embalo. A grife carioca Farm, por exemplo, aceita roupas já compradas por seus clientes de volta, em troca de créditos para novas compras. As peças usadas são vendidas no site Enjoei, especializado nesse comércio de segunda mão. A empresa também confecciona modelos novos a partir de outros com defeito, restos de tecidos e devoluções.

Tadeu Almeida, fundador do Repassa
Crédito: Divulgação

Roupa de famosos à venda

A estudante paulistana Beatriz Midori Costa, 22, só compra roupas em brechós, online ou físicos, e também em bazares de igreja. “Não quero comprar em redes que usam trabalho escravo ou que exploram mão de obra”, afirma ela, que neste Natal vai presentear uma amiga com uma peça que achou em um brechó: um boné estampado com uma cadeirinha de diretor de cinema. “Ela estuda cinema e vai amar”, diz Beatriz, que pagou R$ 5 reais pelo item.

Claro que a economia também é um fator que pesa bastante. Roupas de grife, de estilistas famosos ou até que já pertenceram a artistas e celebridades podem ser encontradas no Enjoei por menos da metade do preço.

O site revende peças que foram de celebridades. A Atriz Giovanna Antonelli, por exemplo, já vendeu no Enjoei um vestido preto usado na novela A regra do Jogo, quando interpretou a personagem Athena.

Mas nem sempre é tudo tão baratinho. Há dois anos, a atriz e modelo Fiorella Mattheis vendeu o vestido que usou em seu casamento, em 2013, com o ex-judoca, Flávio Canto, de quem se separou anos depois. O preço? R$ 14 mil.

Farm também recebe roupas usadas de clientes
Crédito: Reprodução

Livros usados

Já a produtora e jornalista Carolina Tarrio cansou de gastar dinheiro com besteira. Todo ano ela participa de um amigo-secreto com nove amigos. “Teve ano que era presente de R$ 1,99. O gasto é pouco, mas é dinheiro jogado fora com bobagem”, diz ela. Desta vez, os amigos se presentearam com livros usados – que eles mesmo já leram. “Foi ótimo, porque a pessoa dava o presente e já conversava sobre o que achou do livro”, diz.

Muita gente tem procurado comprar livros usados para presentear, segundo a gerente de marketing do site Estante Virtual, Erica Cardoso. O portal é focado em livros usados. “No período de Natal e Black Friday, percebemos um aumento de vendas de livros infantis – para presente, e também didáticos, o que já um reflexo do período de volta às aulas”, diz ela, sem revelar porcentuais.

Nem a roupa do Réveillon escapa

A preocupação em gastar menos e provocar menor impacto na natureza também se estende ao embrulho dos presentes – e também ao figurino de Réveillon. Segundo a Radar Pesquisas, 73% dos brasileiros se incomodam com a quantidade de lixo gerada na época de festas. No levantamento, que ouviu 800 pessoas das classes A, B e C, outros 86% acreditam que usar material reciclado na embalagem pode agregar ainda mais valor ao presente.

Até superstições têm ficado de lado. Na My Dress Online, que aluga vestidos de festa usados, a fundadora do site e ex-modelo Marcele Becker percebe que as pessoas estão mudando de comportamento, a favor da reutilização de peças. “Abri o site há quatro anos e meio e nunca imaginei que alugaria vestidos brancos para o Réveillon, uma época em que as pessoas têm costume de usar peças novas, para dar sorte. E isso está acontecendo agora, com força.”

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