Ômicron é o fim da pandemia ou levará hospitais ao colapso? Dúvidas sobre a variante

  • Cláudia Canelli
  • Publicado em 15 de janeiro de 2022 às 11:00
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Passadas seis semanas desde a descoberta desta nova versão, veja o que a ciência já descobriu (e o que ainda falta saber) sobre a variante

A ômicron se mostrou avassaladora desde a sua origem: dois dias após a sua detecção na África do Sul e em Botsuana, ela já foi classificada como uma variante de preocupação pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 26 de novembro.

Logo de cara, os cientistas ficaram alarmados com a quantidade e a variedade de mutações que ela apresentava. Muitas dessas alterações genéticas ocorrem na espícula, a estrutura do coronavírus que se conecta aos receptores das células humanas e dá início à infecção.

“Naqueles primeiros dias, nós olhávamos para a ômicron e pensávamos: ‘Não pode ser verdade. Não é possível que esse monte de mutações vai funcionar na prática'”, lembra o virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul.

“Passado algum tempo, podemos afirmar que todo aquele potencial que a nova variante sinalizava virou realidade: ela é extremamente transmissível, como nos mostram os aumentos expressivos nos casos de covid”, complementa.

Milhões de casos

Para ter ideia, só na primeira semana de janeiro foram mais de 15 milhões de novos casos em todo o mundo, um recorde até agora. Antes do surgimento da ômicron, o número mais elevado registrado ficou na casa das 5 milhões de infecções em sete dias, lá em abril de 2021.

Se, por um lado, o potencial de alastramento logo levantou grande preocupação, por outro, as observações de que essa nova variante estaria por trás de quadros mais leves e uma menor taxa de hospitalizações e mortes, especialmente entre vacinados com três doses, trouxe um pouco de alívio.

Embora essa observação de um quadro menos complicado possa ser encarada como uma boa notícia, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil pedem cautela.

Mesmo se a ômicron estiver realmente relacionada a um menor agravamento, a gigantesca quantidade de infectados pode resultar em uma sobrecarga do sistema de saúde, com a lotação de leitos e a falta de insumos e profissionais de saúde.

Enganoso

Na visão deles, portanto, é enganoso afirmar que a variante já representa “o fim da pandemia” ou que ela está por trás apenas de quadros mais leves.

Mas o que faz a ômicron ser tão contagiosa assim? Por que não é correto dizer que ela é sempre mais branda? E como ficam as vacinas no meio de tudo isso? Saiba o que a ciência já sabe (e o que ainda falta saber) a respeito dessa variante.

De acordo com um relatório técnico da Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido, a ômicron é de duas a três vezes mais transmissível que a delta — que, por sua vez, já tinha um poder bem maior de alastramento em comparação com o vírus original, detectado no final de 2019 em Wuhan, na China.

Se essa nova variante “transita” com facilidade e está em abundância no nariz e na garganta, isso por si só já facilita a sua transmissão: basta o indivíduo respirar, tossir, espirrar, falar ou cantar para liberar uma quantidade considerável de vírus no ambiente, que podem infectar as pessoas ao redor.

Festas de final de ano

E não podemos ignorar outro fato aqui: a ômicron também pegou carona nas festas de final de ano. As aglomerações de Natal e Réveillon facilitaram ainda mais o trabalho dela e criaram inúmeras cadeias de transmissão mundo afora (e Brasil adentro).

O virologista Paulo Eduardo Brandão, professor da Faculdade de Medicina e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), chama a atenção para outra habilidade dessa variante: escapar da imunidade prévia, obtida através da vacinação ou de um quadro anterior de covid.

“Os estudos vêm demonstrando que os anticorpos que funcionavam contra as outras variantes não reagem tão bem contra a ômicron”, destaca.

Uma das análises incluída no artigo foi feita na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e mostra que, caso o indivíduo seja infectado com a ômicron, o risco de hospitalização é 81% menor se ele tiver tomado as três doses do imunizante.

Dados recentes dos EUA revelam que pessoas não vacinadas têm um risco 17 vezes maior de hospitalização e um risco 20 vezes maior de morrer por covid em comparação com quem foi vacinado.


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