Mesmo com vacina, pandemia deve prosseguir por boa parte de 2021

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 28 de dezembro de 2020 às 18:52
  • Modificado em 11 de janeiro de 2021 às 12:53
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Além disso, número de pessoas que recusam tomar a vacina tem aumentado nos últimos meses

Mesmo com vacinação, cobertura total e eficácia do imunizante ainda são incógnitas - Arquivo: Freepik/Jornal da Franca

(Folhapress) – A pandemia do coronavírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19, deve entrar o ano de 2021 com força, beirando os 200 mil mortos pela doença desde sua chegada ao Brasil.

Embora o cenário com relação às vacinas em desenvolvimento seja animador, com testes clínicos bem sucedidos e início da aplicação na população de países como Reino Unido e Estados Unidos, especialistas alertam que, pelo menos no Brasil, vamos passar boa parte do próximo ano como vivemos em 2020, com restrições do comércio e atividades culturais e a manutenção de medidas de proteção contra o contágio, como o uso de máscara e o distanciamento social.

O plano de vacinação nacional do governo – classificado por especialistas como lento e insuficiente para cobrir toda a população – as dificuldades logísticas para distribuir o imunizante à população e as altas taxas de transmissão do vírus tornam mais demorada a retomada de uma vida mais parecida com o que existia antes da pandemia.

A data para o início da imunização no país ainda é incerta. O Ministério da Saúde já fez quatro previsões: os meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março foram cogitados para o começo da campanha. 

O impasse fez crescer a insegurança da população com relação aos planos do governo, que afirma aguardar uma autorização para um imunizante pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) antes de bater o martelo.

“Até que os grupos prioritários sejam vacinados, deve-se passar quase um ano inteiro. Quando isso acontecer, devemos ter uma menor circulação do vírus na população, mas ainda teremos muitos casos novos da doença e mortes causadas por ela”, diz Viviane Alves, microbiologista e professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG).

Em três fases iniciais, a campanha deverá vacinar trabalhadores da área da saúde, pessoas com mais de 60 anos, indígenas e pessoas de comunidades tradicionais, pessoas com algumas comorbidades e deficiências permanentes severas, trabalhadores da educação e segurança pública, entre outros.

“Leva um tempo até que o programa de vacinação chegue a todos que fazem parte dos grupos de maior risco”, afirma Alves.

Quando for finalizada a vacinação dos grupos de risco, Alves diz que haverá maior tranquilidade para os mais suscetíveis à doença, com a diminuição no número de mortes entre essas pessoas. 

“Mas ainda não sabemos se as vacinas podem evitar a transmissão do vírus e, assim, se não forem seguidos os cuidados necessários, a transmissão entre os mais jovens ainda pode pressionar o sistema de saúde”, diz a cientista.

Segundo o imunologista Daniel Santos Mansur, professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), os jovens adultos são grande parte do número de infectados pela doença por estarem mais expostos, circulando mais. 

Esse grupo também deve ser um dos últimos a receber a vacina, ficando à frente apenas das crianças, que tem as menores chances de complicações com a Covid-19.

“Não acho que a vacinação inicialmente vai mudar o cenário em termos de número de novas infecções a ponto de podermos deixar o distanciamento social e o uso de máscaras, por exemplo”, diz.

É possível ser infectado com o vírus, mas não manifestar nenhum sintoma da doença. Os chamados assintomáticos seriam cerca de 40% a 50% do total de infectados pelo Sars-CoV-2, segundo estimativas de cientistas. 

Os primeiros resultados divulgados dos estudos com as vacinas em teste são animadores, mas a eficácia medida diz respeito à capacidade que o imunizante tem para proteger contra o desenvolvimento da Covid-19 e não mostram os imunizantes podem diminuir a transmissão.

Os resultados da fase 3 de testes clínicos da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, publicados no início de dezembro, indicam que o imunizante é capaz de bloquear a transmissão do vírus em quem a recebe, de acordo com Mansur. 

Mas o pesquisador lembra que esse dado ainda precisa ser confirmado e que nenhuma outra vacina em desenvolvimento apresentou dados referentes à capacidade de evitar o contágio.

“Distribuir para todas as pessoas uma vacina que previne a doença e bloqueia a transmissão é o cenário ideal, mas ainda estamos um pouco longe dele”, diz Mansur.

Outro grande desafio é ampliar a cobertura vacinal até que a circulação do vírus diminua a ponto de reduzir drasticamente o surgimento de novos casos da doença. 

Para chegarmos a essa imunidade coletiva, porém, devemos superar a baixa quantidade de doses disponíveis das vacinas aprovadas, disputadas por todos os países do mundo. 

A resistência da população aos imunizantes disponíveis é outra barreira nesse caminho.


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