Onofre Gosuen, o prefeito que colocou Franca na modernidade faria 100 anos hoje (19)

  • Caio Mignone
  • Publicado em 19 de abril de 2024 às 08:00
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O dia 19 de abril marca o aniversário de nascimento de Onofre Gosuen, o prefeito e deputado estadual que transformou Franca

O ex-prefeito e ex-deputado Onofre Gosuen na biblioteca da sua residência em Franca (Foto: Revista Enfoque)

O dia 19 de abril marca o centenário de nascimento do ex-prefeito de Franca e ex-deputado Onofre Gosuen. Ele morreu no dia 10 de junho de 2016, aos 92 anos.

Sua morte deixou muita tristeza no meio político, mas deixou também o orgulho de uma biografia que só pode ser escrita pelos destemidos.

Foi o primeiro político francano que conviveu com grandes lideranças nacionais, viajou nos mesmos aviões e levantou o público de Norte a Sul do Brasil com seus discursos inflamados. Onofre Gosuen tinha ideias, tinha trabalho e brilho próprio. Por isso, há muitos anos faz falta no cenário político francano.

Breve história

Onofre Gosuen carrega uma das mais brilhantes e instigantes histórias políticas de Franca, cidade da qual foi prefeito e a quem representou por duas vezes como deputado estadual, até ser cassado pela ditadura militar por sua firmeza e convicção política.

Tinha apenas 32 anos quando o então padeiro ousou desafiar todas as forças políticas tradicionais da cidade e colocou o seu nome à apreciação das cerca das 60 mil pessoas que habitavam Franca em 1955.

Concorriam ao pleito de 1955 nomes como Flávio Rocha, João Palermo, Antônio Baldijão Seixas e Onofre Gosuen. Foi uma eleição apertada, mas os resultados  nas urnas colocaram o então jovem Gosuen como prefeito de Franca.

Onofre Gosuen tinha suas bases na Estação e lembra que deve sua eleição aos eleitores do bairro. Durante a apuração do pleito de 1955 ele perdia no centro, mas quando eram abertas as urnas da Estação o seu nome disparava.

De prefeito a deputado

Gosuen apresenta ao presidente Juscelino Kubitschek o pedido de criação da Faculdade de Direito de Franca (Foto: Arquivo pessoal)

“Foi uma eleição difícil, ganhei por poucos votos, mas ganhei por força da tradição da minha família na Estação”, disse ele numa entrevista à revista Enfoque, em dezembro de 2001, recordando que essa dualidade e aparente disputa sempre existiram e foram a força motriz para garantir a expansão de Franca.

Eleito prefeito em 1955, Onofre Gosuen governou em 56, 57 e 58. Fez grandes transformações em Franca, construiu praças, mudou a Praça Nossa Senhora da Conceição. Cuidou da saúde, do ensino, construiu pontes nas zonas urbana e rural, cuidou da alimentação e do saneamento básico, e valorizou a cultura, espalhando monumentos por todas as praças da cidade.

Onofre Gosuen cumpriu apenas três anos de mandato. Em 1958, Gosuen foi eleito deputado por Franca, com uma expressiva votação. Seu trabalho foi de transformação, de embelezamento, de mudança das estruturas.

Na Assembleia Legislativa

Onofre Gosuen conversa com João Goulart numa das viagens da campanha política (Foto: Arquivo pessoal)

Seu nome tinha a esmagadora maioria da população. Em março de 1959, tomou posse na Assembleia. Foi então que apareceu um político com dimensão nacional.

Gosuen não ficou restrito à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Fez amizade com grandes políticos nacionais e trabalhou como pôde para o sucesso administrativo de Franca. Onofre Gosuen cuidou de Franca e de uma vasta região. Conseguiu benefícios e melhoramentos para todas as cidades da região.

Na Assembléia, trabalhou pela emancipação dos chamados distritos, que se transformaram em municípios, como Cristais Paulista, Ribeirão Corrente, Restinga e outros. A expressão do seu trabalho lhe permitiu a reeleição em 1962, para o mandato de 1963 a 1966.

Foi nesse período que apresentou sua melhor performance como político na defesa dos interesses da população que lhe confiou a representatividade em São Paulo e, por vezes, na esfera federal.

Com Fidel Castro e Che Guevara

Onofre Gosuen com o então governador Jânio Quadros, que seria eleito presidente da República (Foto: Arquivo pessoal)

Quando Fidel Castro esteve no Brasil, Onofre Gosuen esteve com ele. Fez parte de uma comissão formada pelo governador para receber o revolucionário cubano em São Paulo. O mesmo aconteceu com a visita de Che Guevara, recebido por Onofre Gosuen junto com uma comissão de parlamentares paulistas.

No período de seu mandato, o deputado francano fez uma viagem à Europa e, dentre os países visitados, esteve na União Soviética.

Era amigo de Juscelino Kubitschek, então presidente da República, que lhe atendia a todos os pedidos, como a autorização para o funcionamento da Faculdade de Direito de Franca.

Onofre Gosuen era um político das massas. Falava como poucos. Na campanha presidencial do Marechal Lott, em 1960, assim como na de João Goulart, que era candidato a vice – naquele tempo as campanhas eram separadas – ele era escalado para precedê-los no discurso.

Depoimento de jornalistas

Livros escritos por jornalistas que cobriram as campanhas destacaram o magnetismo do deputado francano. Em um comício no Rio Grande do Sul as pessoas não queriam que parasse de falar. E comícios naquele tempo atraiam multidões.

Quando aconteceu a renúncia de Jânio Quadros, Gosuen liderou a Frente Parlamentar Nacionalista de apoio a João Goulart, então vice-presidente da República.

Em 1963 era líder da bancada do PTB na Assembléia, quando recebeu de Jango o convite para ser presidente da Comissão Federal de Abastecimento e Preços, mas preferiu continuar deputado.

Cassado pela ditadura

Veio o golpe de 1964 e Onofre Gosuen continuou o deputado combativo, até que 1966, quando estava perto de completar oito anos como deputado e faltando apenas seis meses para terminar o seu mandato, foi cassado pelo AI 02,  assinado pelo presidente Castelo Branco, no dia 30 de julho de 1966. Sem nenhuma acusação ficou sem direitos políticos por dez anos.

Só voltou ao cenário depois da anistia, mas os tempos já eram outros. Se houvesse algo para justificar o ato da ditadura militar, seria a sua recepção a Che Guevara e Fidel Castro e sua visita à União Soviética – defeitos grandes demais para um regime de exceção.

Com isso, Franca perdeu seu deputado e o Brasil perdeu um grande político, dono de uma oratória aclamada por multidões.

Não quis a indenização

Nunca, em tempo algum, será possível reparar a injustiça de uma cassação que abateu em pleno voo um político destemido, amigo de Ruben Paiva – o mais emblemático político brasileiro, ícone dos perseguidos pelo regime militar, desaparecido depois de uma prisão.

O lado cidadão de Onofre Gosuen não tinha acabado: restabelecida a anistia e concedida a indenização aos perseguidos pelo regime político de 1964, o ex-deputado francano talvez tenha sido o único dos punidos e perseguidos que preferiu não reivindicar a pensão a que tinha direito.

Com o jornalista Cesar Colleti, numa de suas visitas à redação da revista Enfoque Franca

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