O cérebro pode ser capaz de se reconectar após lesões traumáticas

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 14 de novembro de 2019 às 23:28
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:01
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Pesquisadores utilizaram a ressonância magnética funcional para escanear o cérebro de 48 pessoas

O cérebro humano é tão complexo que diariamente surgem novas teorias, estudos e pesquisas que têm como objetivo desvendar os mistérios que ele guarda, como funciona, como é estimulado e como é capaz de se adaptar. 

Depois de encontrar, em animais, alguns indícios de que ele pode ser capaz de se reconectar mesmo após lesões traumáticas, um grupo de pesquisadores visualizou o mesmo resultado em pessoas. 

Ou seja, segundo o estudo, o cérebro humano pode se reorganizar e reconectar funcionalmente após uma pessoa sofrer uma lesão corporal traumática.

Scott Frey, presidente de neurociência cognitiva do departamento de ciências psicológicas da Universidade do Missouri, onde o estudo foi desenvolvido, explicou que existem áreas específicas no cérebro para cada lado do corpo. 

“Quando uma pessoa toca algo com a mão direita, a área da mão específica no lado esquerdo do cérebro acende. Uma reação semelhante, mas oposta, acontece com a mão esquerda. Mas quando alguém perde a mão, descobrimos que as duas ‘áreas da mão’ do cérebro — esquerda e direita — se dedicam à mão saudável restante. Este é um exemplo impressionante de reorganização funcional ou plasticidade do cérebro humano”, exemplificou.

O estudo foi desenvolvido pelos pesquisadores que utilizaram a ressonância magnética funcional para escanear o cérebro de 48 pessoas — 19 haviam perdido a mão. 

Eles criaram um sistema baseado em ar, controlado por computador, para proporcionar um leve toque nas mãos e no rosto.

Ao analisar os resultados, os pesquisadores observaram que quando o cérebro é privado de informações de uma mão perdida, ele automaticamente reorganiza seu mapa neural e redireciona as funções para a mão que restou.

Cientistas estudam o cérebro para ajudar no desenvolvimento de próteses

A descoberta, ressaltou Frey, pode ajudar médicos e cientistas a compreenderem melhor os mecanismos escondidos ligados à plasticidade do cérebro quando acontece uma lesão corporal traumática, como nos casos dos veteranos de guerra que sofrem graves ferimentos no campo de batalha.

“Podemos pensar nas áreas do cérebro que processam as sensações de nosso corpo como sendo organizadas como um mapa com territórios separados, dedicados a regiões específicas do corpo, como mãos, rosto ou pés”, salienta ele, que também dirige o Laboratório de Neurociências de Reabilitação.

Frey disse ainda que há muito tempo se sabe que lesões, como amputações, alteram a organização do mapa cerebral, fazendo com que no caso da perda de um membro, por exemplo, as funções sejam parcialmente ocupadas pelas vizinhas no mapa, o que já seria uma forma de plasticidade do cérebro.

“Este trabalho demonstra que essa plasticidade também ocorre através de grandes distâncias entre os hemisférios esquerdo e direito do cérebro”, complementou.

Agora, outros trabalhos estão sendo desenvolvidos para determinar se essas mudanças afetam o modo como os amputados experimentam sensações e de que maneira se daria essa alteração. 

Um dos objetivos dos pesquisadores é de que os resultados possam ajudar a desenvolver próteses capazes de fornecer a experiência do toque aos usuários.


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