Porque a histórica vacina aprovada contra a malária terá pouco efeito no Brasil

  • Robson Leite
  • Publicado em 8 de outubro de 2021 às 16:30
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Primeiro imunizante com foco na doença recebeu aval da OMS esta semana, mas não combate o parasita causador mais prevalente no país

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou nesta semana o uso da primeira vacina contra a malária, doença que deixou mais de 400 mil mortos no mundo apenas em 2019, segundo a instituição.

No entanto, o imunizante, chamado de RTS,S e desenvolvido pela farmacêutica GSK com o nome comercial Mosquirix, provavelmente não será aplicado no Brasil.

Isso porque a tecnologia utilizada na vacina previne a doença provocada pelo protozoário Plasmodium falciparum, responsável por mais de 90% dos casos no mundo.

Mas, no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, esse protozoário é responsável por apenas 15,8% dos casos da doença registrados em 2020.

Parasita

Enquanto isso, 84,2% foram decorrentes da infecção por outro parasita, que causa apenas 2,8% das ocorrências de malária mundiais.

Aqui, como a malária é causada pelo Plasmodium vivax, essa vacina muito provavelmente não vai ser usada — explica Luiz Carlos Dias, professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e colaborador da Medicines for Malaria Venture.

Já na África, região mais afetada pela doença, mais de 99% dos casos são causados pelo P. falciparum, que agora pode ser combatido com a nova vacina.

A professora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF/UFRJ) Ana Neves explica que a prevalência de cada espécie do parasita tem relação com fatores genéticos locais .

População infantil

“Existem cinco espécies conhecidas que podem infectar os humanos. O Plasmodium falciparum e o Plasmodium vivax são os mais conhecidos”, explica.

“Os quadros severos da doença são associados à infecção pelo primeiro, que provoca uma doença fatal. Quando as crianças sobrevivem, permanecem com sequelas extremamente debilitantes “, destaca.

A aprovação do imunizante é especialmente importante na população infantil, já que, de acordo com a OMS, cerca de 260 mil crianças com menos de 5 anos morrem por ano no continente africano, número que representa mais da metade dos óbitos no mundo.


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