Por que algumas pessoas têm medo de palhaços? Saiba o que a ciência diz

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 10 de dezembro de 2020 às 18:38
  • Modificado em 11 de janeiro de 2021 às 11:05
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Figura consegue fazer muitos chorarem de rir, também deixa muitas crianças e até alguns adultos sem dormir

Pennywise, Coringa, Ronald McDonald… Todos esses personagens têm duas coisas em comum: são palhaços no mundo da ficção e podem deixar diversas pessoas com os nervos à flor da pele. 

Nesta última quinta-feira (10), celebrou-se o Dia Internacional do Palhaço. Essa bizarra figura que consegue fazer muitos chorarem de rir, também deixa muitas crianças (e até alguns adultos) sem dormir.

É comum conhecer pessoas que sentem medo do personagem, mas o medo excessivo e irracional – conhecido como coulrofobia – é uma condição mais rara. 

Segundo uma pesquisa realizada pela empresa Morning Consult em parceria com o site norte-americano Vox, em 2016 com 1.999 pessoas de 18 a 65 anos, 8% disseram ter muito medo de palhaços, 14% afirmaram ter certo medo e 20%, pouco medo.

Um outro estudo feito pela Universidade de Sheffield, no Reino Unido, em 2008 com 250 crianças de 4 a 16 anos, mostrou que o palhaço não deixava muitas delas felizes. Mesmo as mais velhas achavam a imagem do personagem assustadora.

Figura travessa e obscura​

Especialistas afirmam que esse medo muitas vezes está relacionado à sensação de não saber o que realmente passa na cabeça da pessoa que se veste como o palhaço. 

Isso porque a fantasia e a maquiagem podem esconder o que o indivíduo está realmente pensando e sentindo.

Em uma entrevista à Smithsonian Magazine, do instituto educacional norte-americano Smithsonian, em 2013, David Kiser, diretor da companhia de circo Ringling Bros. and Barnum & Bailey (que encerrou as atividades em 2017), afirmou que os palhaços sempre tiveram um lado obscuro. 

Alguns acadêmicos, inclusive, defendem que a comédia dessas figuras geralmente derivava do apetite voraz delas por comida, sexo e bebidas, e de um comportamento maníaco. 

“Por um lado, o palhaço sempre teve um espírito travesso. Como ele é meio adulto, sempre foi divertido, mas parte dessa diversão é um pouco travessa”, disse Kiser à revista.

Em um artigo escrito à CNN em 2019, o psicólogo social norte-americano Frank T. McAndrew, professor de Psicologia na faculdade Knox College, em Illinois (EUA), afirmou que conduziu um estudo sobre fatores que causam arrepios nas pessoas. 

A pesquisa apontou que a imprevisibilidade é um componente importante nesse assunto, além de padrões incomuns de contato visual e comportamentos não-verbais.

Para McAndrew, “é a ambiguidade inerente aos palhaços o que os torna assustadores”. 

“Eles parecem felizes, mas realmente estão? E eles são travessos, o que deixa as pessoas sempre em alerta”, disse ele.

Medo do estranho​

De acordo com a professora Leila Salomão Tardivo, do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (Ipusp), as crianças muitas vezes se assustam com figuras fantásticas, como até mesmo o Papai Noel. 

“Apesar de o palhaço ser uma figura que diverte e alegra, pode marcar em algumas crianças uma situação extrema, um medo do estranho, insegurança, instabilidade, sensação de que precisa alguém conhecido por perto”, explicou ela. 

“Muita gente vê no palhaço uma figura de tristeza, depressiva”, com o sorriso e a máscara encobrindo “um homem só, triste, isolado e abandonado”.

Para Tardivo, esse medo é mais comum na infância e tende a passar com o tempo. 

No entanto, algumas crianças crescem e permanecem nessa condição, “o que pode sinalizar uma dificuldade maior, de se defender e se sentir autônomo”. 

Se esse medo não desaparecer com a idade, o melhor, segundo ela, é procurar apoio psicoterápico.

Medo e fobia​

A professora ressalta que o medo, diferente da fobia, não paralisa. “Medo é uma reação necessária para a sobrevivência da espécie. Ele libera endorfina e faz com que a gente fuja ou se defenda do perigo”. Ou seja, é um mecanismo que auxilia na defesa da pessoa.

Já a fobia causa uma situação contrária e em vez de se proteger, o indivíduo “se sente paralisado e sem recurso”. 

Tardivo afirma que essa condição provoca um medo acentuado e uma distorção da realidade, uma incapacidade de lidar com a situação.

Esse pânico também pode ter como causa algum tipo de trauma na infância. 

A psicóloga Elaine Di Sarno, especializada em avaliação psicológica e neuropsicológica e em terapia cognitivo comportamental pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirmou que “se a criança foi criada em um ambiente de grito, de briga, com pessoas que fazem caretas, acaba se assustando, o que pode evoluir para medo de palhaço”.

Além disso, segundo ela, o palhaço em festas, por exemplo, não respeita o espaço da criança, que muitas vezes tem dificuldade de se aproximar e se relacionar com quem não conhece. Neste caso, ela acaba se assustando com a proximidade da figura.

Di Sarno destaca que, se a pessoa tem um medo excessivo de palhaço e é exposta a ele, pode apresentar uma crise de ansiedade, taquicardia, suadouro, tremores, dor de estômago, dor de cabeça e até vômitos.

Essa condição, a princípio, não necessita de medicação. 

A psicóloga diz que o melhor tratamento é a terapia, ensinando a criança a lidar com o medo, com a situação de estresse, além de dar carinho e afeto, sem brigar ou pressionar. 

*Informações CNN


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