Mercado interno deverá impulsionar crescimento da produção de calçados no Brasil

  • Roberto Pascoal
  • Publicado em 24 de janeiro de 2024 às 14:00
  • Modificado em 24 de janeiro de 2024 às 14:34
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Evento realizado pela Abicalçados analisou o mercado e divulgou projeções do setor até o ano que vem

Diferentemente do ano passado, quando as exportações sustentaram boa parte do crescimento do setor calçadista no Brasil, este ano será o mercado doméstico o motor do incremento da produção.

A avaliação foi a tônica da segunda edição do Análise de Cenários no ano, um evento promovido pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) no último dia 10, no formato on-line.

No início do evento, o doutor em Economia e consultor setorial, Marcos Lélis, fez uma análise macroeconômica do mundo e do Brasil. Segundo ele, o PIB mundial deve crescer cerca de 3% este ano.

Apesar do crescimento, é uma dinâmica inferior à média histórica. Os Estados Unidos, segundo principal destino do calçado brasileiro no exterior, crescerá menos, 1,8%.

Já a Argentina, primeiro mercado internacional para o produto nacional, deverá registrar uma queda de 2,5% no PIB.

“A instabilidade no mercado internacional, causada pela alta da inflação e pela alta nas taxas de juros, vem prejudicando o desempenho internacional da nossa indústria. Soma-se a isso, o fato do aumento da concorrência do calçado asiático no âmbito internacional”, comentou.

No Brasil, segundo Lélis, o crescimento do consumo das famílias, componente da demanda interna, tem impulsionado a atividade, principalmente desde o segundo trimestre do ano.

“No Brasil, temos um cenário de aumento no consumo de calçados, explicado pela inflação em queda e aumento no poder de compra, além de um gradual crescimento da renda real no País, propiciado pelo aumento dos empregos com carteira assinada”, disse.

Por outro lado, o alto endividamento da população brasileira é um impeditivo para melhores projeções de consumo. Este ano, a inadimplência chegou a mais de 71 milhões de pessoas no País.

“O Brasil possui cerca de 44% da população adulta inadimplente, o que limita a expansão do consumo de bens não essenciais”, disse.

Segundo ele, a economia brasileira deve crescer em 2023, na casa de 2,9%, muito embalada pelo crescimento da agropecuária no primeiro trimestre do ano, além do aumento do consumo doméstico, mas isso necessariamente não quer dizer ganhos mais significativos para a indústria nacional.

Calçados

Na segunda parte do evento, a coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila Linck, falou sobre o mercado de calçados.

Tendo produzido 543,8 milhões de pares até agosto deste ano, um incremento de 0,1% sobre o mesmo período de 2022 , a indústria calçadista ainda tem níveis produtivos 7% abaixo dos registrados em 2019, na pré-pandemia.

Para este ano, a projeção da Abicalçados é de um incremento entre 1% e 1,7% na produção, o que significa mais de 860 milhões de pares.

Já para 2024, Priscila projeta um crescimento entre 1,5% e 2,8% na produção, para em torno de 870 milhões de pares de calçados.

A produção em 2023, segundo Priscila, será impulsionada pelo mercado doméstico.

“O crescimento do consumo interno deve ficar entre 3% e 3,4%, enquanto as exportações devem cair em torno de 9%. Para 2024, o comportamento de desaceleração no mercado externo deve se manter, de modo que o crescimento dependerá, assim como em 2023, do mercado interno brasileiro. O incremento do consumo doméstico, em 2024, deve ficar na faixa de 2,6% a 3,1%, enquanto as exportações, em pares, ficam mais instáveis, tendo uma banda que vai de queda de 4,7% a um incremento de 0,9%”, concluiu.

Volta da Ásia

Segundo Priscila, o retorno da Ásia, em especial da China, ao mercado vem prejudicando a performance da indústria calçadista nacional no cenário internacional.

Entre janeiro e agosto de 2023, a China havia exportado 6,1 bilhões de pares. Apesar da retração de 3,9% nos embarques, ante o ano anterior, a China vem recompondo sua participação de mercado, na medida em que a queda das exportações do país é inferior à queda dos demais exportadores, caso do Brasil.

“O fato se dá pela demora maior da China em retornar suas atividades, após uma rígida política para contenção da Covid-19”, contou a economista, destacando que a normalização dos preços dos fretes também impulsionaram esse crescimento, ampliando a competitividade dos asiáticos em termos de preços.

Estados Unidos e Argentina

Ao mesmo tempo em que a China desponta novamente no mercado internacional, Priscila destacou a queda de 32,2% nas importações norte-americanas de calçados.

“Neste cenário, as importações de calçados brasileiros caíram ainda mais, 51,2%. Já as importações de calçados chineses caíram menos, 30,8%. O fato demonstra uma perda na participação do calçado brasileiro e um aumento da presença chinesa. Movimento que também ocorreu na Argentina, onde o Brasil perdeu quase 10% de participação entre janeiro e agosto, participação proporcionalmente ganha pelos asiáticos”, disse.

Aumento das importações

No Brasil, o aumento das importações de calçados também preocupa. Entre janeiro e setembro, entraram no Brasil 23 milhões de pares, pelos quais foram pagos US$ 348 milhões, incrementos tanto em volume (13,4%) quanto em receita (28,2%) em relação ao mesmo período do ano passado.

As principais origens seguem sendo os países asiáticos, que respondem por mais de 85% do total de calçados que entram no País.

“Além do aumento das importações, temos o incremento do cross border realizado pelas plataformas internacionais, hoje isentas de impostos em remessas de até US$ 50, o que afeta diretamente a produção brasileira”, concluiu Priscila.

O Análise de Cenários foi um evento promovido pela Abicalçados com patrocínio da FCC.


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