Melatonina, ‘hormônio do sono’, está liberado no Brasil, mas médicos pedem cautela

  • Robson Leite
  • Publicado em 1 de janeiro de 2022 às 16:00
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Especialistas alertam para a falta de evidências científicas de uso sem uma avaliação mais aprofundada do suplemento liberado pela Anvisa

Desde o início de dezembro, farmácias brasileiras estão vendendo melatonina em comprimidos ou gotas sem a necessidade de prescrição médica.

A substância, conhecida popularmente como “hormônio do sono”, teve a comercialização liberada no país no dia 15 de outubro de 2021 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.

Embora a decisão esteja alinhada com o que ocorre em vários países da Europa e da América do Norte, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil criticam a decisão e pedem muita cautela na hora de comprar e utilizar esse produto.

“E é um conceito estranho enquadrá-la como suplemento alimentar. Não há consenso algum de quando há uma deficiência desse hormônio no organismo”, aponta a neurologista Dalva Poyares, pesquisadora do Instituto do Sono de São Paulo.

Tratamento para insônia

“Não existe sequer uma diretriz no mundo que indique a melatonina como tratamento para insônia”, emenda a especialista, que também é professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“Precisamos deixar claro que a melatonina pode até ser uma ferramenta terapêutica, mas não vai ser indicada para todo mundo”, concorda o médico Paulo Augusto Miranda, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Mas, para entender toda essa polêmica, é preciso saber antes o que é a melatonina e sua importância para o funcionamento do corpo.

Esse hormônio é produzido pela glândula pineal, uma estrutura que fica bem no centro do cérebro.

Só acontece na ausência de luz

E há um aspecto muito importante nesse processo de fabricação: ele só acontece na ausência de luz.

Conforme anoitece e o Sol se põe, a produção da melatonina começa a ocorrer na nossa cabeça. A meta é preparar o organismo para o sono ao longo do período noturno.

No raiar de um novo dia, quando a claridade volta a aparecer, a produção da melatonina é interrompida, o que prepara o corpo para despertar e se preparar para as atividades diárias.

Só que esse ciclo de sono e vigília, ditado em grande parte por esse hormônio, pode ser atrapalhado por uma série de fatores, a começar pela exposição à luz durante a noite.

Restrições de uso

Embora a melatonina seja enquadrada agora como um suplemento alimentar e possa ser comprada sem prescrição nas drogarias convencionais, a Anvisa impôs algumas restrições ao seu uso.

A primeira é que ela só poderá ser tomada por pessoas com mais de 19 anos de idade e a dosagem é de, no máximo, 0,21 miligramas por dia.

A dose aprovada no país, de 0,21 mg, fica muito próxima àquilo que é produzido em média pelo próprio organismo, o que diminui o risco de eventos adversos mais preocupantes.

Ainda não existe um consenso de qual é a dose adequada para obter um efeito terapêutico nos pacientes que têm indicação de uso.


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