Fim de ano: por que paralisamos quando temos um monte de tarefas para fazer?

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 18 de dezembro de 2022 às 21:00
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Especialistas dão dicas de como evitar essa sensação e diminuir o estresse diante de atividades ou obrigações importantes

A sobrecarga mental sempre aparece quando há muita coisa para fazer e sob pressão – foto Medical News Today

 

Por que quando temos um monte de coisa para fazer nos sentimos incapazes de realizá-las?

Essa sensação de desamparo — também conhecida como paralisia mental por sobrecarga — sempre aparece quando você tem dezenas de coisas para resolver sob pressão ou quando há uma única coisa, mas ela é tão importante que você congela sem saber por onde começá-la.

Ao invés de trabalhar logicamente em sua lista cheia de atividades ou esmiuçar lentamente aquela tarefa gigante, seu cérebro age como se fosse um coelho que acabou de avistar um cachorro no quintal — ele para de repente.

Ellen Hendriksen, professora assistente do Centro para Ansiedade e Distúrbios Relacionados da Universidade de Boston, diz que respostas de paralisia ou bloqueio acontecem quando vemos uma tarefa (ou um monte delas) como ameaça.

“Nosso corpo reage da mesma forma às ameaças externas, como quando avistamos animais perigosos, ou internas”, explica Hendriksen.

Segundo ela, uma tarefa muito importante pode provocar o receio de falhar, de decepcionar quem gostamos ou de nos sentirmos estúpidos e incompetentes.

De acordo com a especialista, essa reação pode acontecer com qualquer pessoa, sendo mais comum entre as perfeccionistas.

“No perfeccionismo, nós focamos muito no nosso desempenho. Se inconscientemente acreditamos que somos o que fazemos, então nossas obrigações são mais sobrecarregadas”, reforça Hendriksen.

Com a ansiedade, o centro de execução do cérebro perde o controle. Normalmente, o córtex pré-frontal, responsável pelos planejamentos, tomadas de decisão e autorregulação, mantém as partes emocionais do cérebro sob controle.

Contudo, durante períodos de estresse, as áreas de equilíbrio, como a amígdala, ligada ao reconhecimento de ameaças, podem sumir.

A seguir, veja dicas para evitar o bloqueio e ajudar a retomar o controle.

Fragmente as tarefas grandes

Primeiro, você precisa diminuir seus níveis de estresse. Tente parar e respirar fundo, isso pode diminuir o cortisol, um dos principais hormônios do estresse.

Se é uma tarefa gigantesca que o está aborrecendo, o melhor conselho é quebrá-la em partes.

“É como aquele velho ditado: como você come um elefante? Uma mordida de cada vez”, brinca Piers Steel, professor de comportamento organizacional e recursos humanos da University of Calgary.

As tarefas podem ser fragmentadas em partes absurdamente pequenas. O tamanho precisa ser suficiente para que você não tenha resistência, não se sinta paralisado.

Os passos também precisam ser concretos, restringindo momento, local e duração. Steel recomenda pensar neles como se estivesse “dando instruções a um adolescente que realmente não sabe o que fazer, então, você precisa ser muito específico”.

Tire a pressão dos ombros afirmando que está tudo bem se o resultado do trabalho não for bom. Você sempre pode voltar e melhorá-lo posteriormente. E pense no número de erros ou ajustes que você se permitiria, mas “a resposta não pode ser zero”.

Por fim, dê um primeiro passo, qualquer passo:

“É a ideia da tarefa que muitas vezes o impede de realizá-la. Ela é tão grande que você não sabe o que fazer e, como pode começar de qualquer lugar, não começa de lugar nenhum. Mas depois que você começa, o trabalho tende a fluir com mais facilidade e muitas vezes você percebe: não era assim tão ruim”, explica Steel.

Incentive-se

Para uma lista gigante de pequenas tarefas, a chave é começar estrategicamente. Você pode fazer a coisa mais importante ou urgente primeiro, é claro, mas outra opção é começar com a tarefa mais agradável.

Estamos tão focados no dever que esquecemos que às vezes há alguma vontade, e seguir isso pode ser muito revigorante. Se tudo isso tem que ser feito, então posso começar com o item que me causa menos resistência — avalia Hendriksen.

Começar com a tarefa menor ou mais fácil também pode gerar confiança e impulso.

“Escolha algo que você possa fazer e seja bem-sucedido, porque nada constrói o sucesso como o sucesso” afirma Joseph Ferrari, professor de psicologia na DePaul University.

Outra sugestão é começar com o que é mais importante para outra pessoa.

“Quando você se sente sobrecarregado, precisa se perguntar: como isso facilita a vida de outras pessoas? Se eu fizer isso, isso ajudará alguém? Se eu não fizer, estarei atrasando alguém?”, completa Ferrari.

Dar um incentivo a si mesmo também pode ajudar a desbloquear uma lista longa ou aquela tarefa que você realmente não quer fazer.

Se houver um e-mail que você precisa enviar e fica adiando, prometa a si mesmo dez minutos sem culpa de fofocas de celebridades depois de enviá-lo ou combine uma tarefa agradável com uma desagradável, como fazer palavras cruzadas enquanto você está no telefone esperando uma resposta.

“Você usa algo que gosta de fazer para se recompensar por algo que não gosta de fazer. Isso existe há 50 anos e é uma técnica muito bem-sucedida”, afirma Ferrari.

Se for simplesmente impossível terminar sua lista de tarefas antes do prazo, delegue. Peça a um colega de trabalho, familiar ou amigo para retirar um dos itens da sua lista, sabendo que você retribuirá o favor no futuro.

Não fuja das tarefas

Antes de começar, remova as distrações para ajudá-lo a se concentrar nas tarefas. Guarde o telefone, limpe a mesa e bote o alarme para daqui a 30 minutos (ou mais, mas às vezes é bom começar com menos tempo).

Diga às pessoas – incluindo a si mesmo – que você não pode ser incomodado durante esse período.

O que você realmente não quer é que sua paralisia se transforme em procrastinação, onde você faz algo pequeno e prazeroso no curto prazo, como navegar pelo Instagram, para evitar suas obrigações.

A distração e a procrastinação geralmente andam juntas, como explica Steel:

— Se está num ambiente onde a tentação está sempre por perto e disponível, você vai procrastinar mais.

Evitar tarefas não apenas te atrapalha no momento, mas também te programa para repetir esse comportamento no futuro.

Quando você evita algo que te deixa ansioso, o que Hendriksen chama de — as duas mentiras da ansiedade — é reforçado.

A primeira mentira é que a coisa realmente era ameaçadora e a segunda é que você não poderia tê-la terminado.

A chave é trabalhar com a ansiedade e ensinar ao seu cérebro que ele pode funcionar sob estresse. Fazer isso cria confiança e bons hábitos para a próxima vez que sua lista de tarefas aparecer.

*Informações O Globo


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