Estudo da USP de Ribeirão Preto revela que população cega vai dobrar até 2050

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 26 de janeiro de 2021 às 09:00
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Pesquisa internacional com participação da USP de RP mostra que, em 30 anos, nº de cegos e pessoas com problemas de visão será de 535 milhões

População com cegueira vai dobrar até 2050

População com cegueira vai dobrar até 2050

 

Um estudo internacional com participação de pesquisadores da USP de Ribeirão Preto aponta que a população mundial com cegueira ou algum tipo de deficiência visual deve dobrar até 2050.

A pesquisa do Grupo de Especialistas em Perda da Visão (VLEG) aponta que, em 30 anos, o número de cegos ou com problemas moderados ou severos na visão pode chegar a 535 milhões de pessoas.

Cenário impulsionado por fatores como aumento e envelhecimento da população, maus hábitos alimentares, exposição excessiva a telas de smartphones, além da falta de acesso a atendimento oftalmológico, explica o professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP) João Marcello Furtado, coautor da pesquisa.

“A tendência, pelo envelhecimento populacional e aumento da população, é que isso piore bastante. Se a gente mantiver o ritmo de atendimento nosso esse problema vai ser bem maior”, alerta.

As conclusões estão em uma pesquisa publicada na revista The Lancet Global Health, em que os especialistas avaliaram as tendências da cegueira e deterioração da visão pelas próximas décadas.

As principais projeções do estudo apontam que:

– 61 milhões de pessoas serão cegas;
– 474 milhões terão deficiência visual moderada a severa;
– 360 milhões de pessoas terão deficiência visual leve;
– 866 milhões terão presbiopia não corrigida, ou seja, condição associada ao envelhecimento em que o olho aos poucos perde a capacidade para focar objetos próximos

A falta de uso do óculos, segundo Furtado, é o principal fator associado à expectativa de elevação dos números.

Problema facilmente diagnosticado e tratado pelos médicos, a catarata, de acordo com o pesquisador, também aumenta as projeções, diante de um atendimento em saúde aquém do necessário em âmbito mundial.

“A falta do acesso, seja ela uma barreira geográfica, econômica ou uma carência do setor público e privado, ou até o nível três, que seriam as filantropias, seria a causa principal”.

“Então não é que a pessoa que enxerga mal não quer procurar tratamento, ela não consegue por algum motivo. No nosso cenário a maioria das vezes essa é uma barreira financeira”, avalia.

O aumento dos casos de diabetes também eleva a preocupação para a retinopatia diabética – quando o excesso de glicose afeta os vasos sanguíneos da retina-, mas poderia ser revertido com mudanças no estilo de vida.

“Muitos dos problemas que acontecem nos olhos refletem problemas gerais de saúde. O grande exemplo é a diabetes: se a pessoa se mantiver saudável, com peso adequado, com exercício físico regular, dieta balanceada, isso diminui muito os problemas”, explica.

Dentro desse contexto, a maior frequência de distúrbios como a miopia está ligada ao maior tempo em que as pessoas passam em ambientes fechados e diante de dispositivos como celulares e tablets.

Como um benefício para as sociedades, Furtado defende a necessidade e a importância de investir em tratamentos básicos como a cirurgia da catarata e o uso de óculos, além de consultas periódicas para pessoas a partir dos 40 anos.

A ausência de tratamentos adequados, e no tempo certo, não só afeta a qualidade de vida, como também aumenta os riscos de deficiência cognitiva em uma população mais velha, segundo o pesquisador.

“O gasto que o sistema tem para tratar uma pessoa que está enxergando mal principalmente por falta de óculos e catarata se paga muitas vezes porque a pessoa que recupera a visão é mais produtiva.”

*com informações G1


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