Participação de mulheres no mercado de trabalho é a menor desde 1990

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 5 de setembro de 2020 às 12:26
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 21:11
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Sem ter onde deixar os filhos, trabalhadoras enfrentam sobrecarga de tarefas domésticas

Milhares de mães brasileiras que precisam trabalhar, mas não têm com quem deixar os filhos por causa do fechamento de creches e escolas infantis pela pandemia do novo coronavírus.

A pesquisa “Mercado de Trabalho e Pandemia da Covid-19: Ampliação de Desigualdades já Existentes?” realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que a taxa de participação de mulheres com filhos de até 10 anos no mercado de trabalho caiu de 58,3% no segundo trimestre de 2019 para 50,6% no mesmo período deste ano.

A participação média de mulheres no mercado de trabalho, por sua vez, ficou em 46,3% entre abril e junho de 2020. Essa taxa representa o percentual de mulheres que estão trabalhando ou procurando emprego, dividido pela participação total de profissionais no mercado com 14 anos ou mais.

“Foi um salto para trás na história do mercado de trabalho. O último resultado abaixo de 50% foi registrado em 1990”, calculou Marcos Hecksher, pesquisador do instituto.

Com uma força produtiva menor, o especialista afirma que a capacidade produtiva do país também deve cair. “É uma situação inédita. Muitas dessas mulheres terão dificuldade para voltar ao mercado de trabalho porque o cenário será geração de postos mais lenta do que busca por vagas”, analisou.

A taxa de desemprego divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira (4) corrobora a afirmação de Hecksher. 

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, o percentual de desemprego registrado no segundo trimestre deste ano foi de 12% para os homens e de 14,9% para as mulheres.

Na avaliação de Cristina Vieceli, técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), os arranjos familiares mudaram muito ao longo dos anos, o que externalizou os problemas decorrentes da dupla jornada da mulher — que trabalha e cuida sozinha da casa.

“Muitas delas são chefes de família, não têm marido e, tampouco, ajuda para criar os filhos. O risco é que, pela necessidade, elas acabem deixando as crianças sob perigo”, analisou a técnica.

Em meio a uma pandemia, Cristina acredita que a responsabilidade com os profissionais e seus filhos seja tanto da iniciativa privada quanto do governo. 

“O Estado precisa criar uma política de escola infantil e de criação de empregos para as mulheres, enquanto as empresa devem ter um olhar mais humano em relação às famílias com filhos. As mães estão desistindo do trabalho formal”, afirmou.


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