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No Brasil, a data é marcada também por tradições simbólicas que envolvem, além de muita fé, a reunião das famílias
A Semana Santa é uma das celebrações mais importantes para os católicos
A Semana Santa, uma das celebrações mais importantes para os católicos, mobiliza fiéis em todo o mundo em homenagens, orações, meditações, retiros e muita devoção.
No Brasil, a data é marcada também por tradições simbólicas que envolvem, além de muita fé, a reunião das famílias.
O mestre em Teologia pela PUC e em Ciências da Comunicação pela USP Francisco Emílio Surian, coordenador do curso de Teologia para Leigos do Instituto de Teologia da Universidade Católica de Santos, fala sobre a importância histórica destes dias.
“A Semana Santa é o encontro com o Jesus histórico e o Cristo da Fé. É a “Semana Maior”. Nessa semana acompanhamos os últimos dias de vida de Jesus de Nazaré na Terra e sua violenta morte na cruz por desejo dos poderosos daquela época”, diz.
“Estamos diante do escândalo da cruz e da vitória da Ressurreição do Cristo da Fé”, relembra o teólogo.
Para o professor, essa é uma semana de conversão: tempo de pensar, rever a vida, mudar de rumo, reencontrar os propósitos e ações que conduzem para a construção de um mundo melhor, mais humano.
“É a semana para lembrarmos que somos chamados a partilhar o pão, a acolher o imigrante, a cuidar do outro, da natureza e da vida”, disse.
Tradições populares
A Semana Santa traz também diversas expressões populares, como a Procissão do Encontro, conforme explica o professor.
“De um lado, sai a imagem de “Nossa Senhora das Dores”. De outro, sai a imagem do “Senhor dos Passos”. A imagem do Jesus com a cruz nas costas e coroa de espinhos, que nos lembra sua caminhada entre a sua condenação e a crucificação. A certa altura da procissão Jesus e sua Mãe se encontram”, diz.
Outra celebração muito popular é a Via Sacra, que está presente em todas as igrejas.
“A celebração da Via Sacra não é feita apenas na Semana Santa. Durante todo o ano, fiéis refletem este momento de grande importância para a fé. Na Semana Santa, a Via Sacra também é feita nas ruas, algumas vezes encenada, e em cada uma das estações as cenas da vida de Jesus são revividas por atores populares”, afirma o estudioso.
Outro momento de celebração popular é a Procissão do Senhor Morto. “Nosso povo tem verdadeira empatia por esta celebração”, diz Surian.
Na Sexta-Feira Santa, a imagem do Senhor Morto, deitado num esquife, é conduzida pelas ruas entre cantos, orações e velas acesas.
“Em muitos lugares, essa é a maior procissão da Semana Santa. Nosso povo sofrido entra em verdadeira sintonia com o sofrimento do Senhor”.
Ele acrescenta ainda outras formas de expressão popular como músicas, cantos, esculturas, pinturas e outras expressões da nossa cultura inspirada nos fatos lembrados na Semana Santa, como a encenação teatral da Morte e Ressurreição de Jesus.
Simbologia do Coelho da Páscoa
Para a Páscoa, é tradição a presença das imagens do “Coelho da Páscoa” e os “ovos de chocolate”. No Hemisfério Norte, a Páscoa acontece no início da primavera, enquanto no Hemisfério Sul estamos entrando no outono.
“São experiências diferentes da vivência do ciclo da natureza. No Norte, a “vida reinicia” (após um longo e rigoroso inverno), e o coelho é um dos primeiros animais a sair da toca. É a vida que recomeça! Por isso a referência ao coelho”.
“Em lugares onde a neve é abundante, a experiência da morte de toda a natureza é quebrada pela vida quando os coelhos saem das tocas em busca de comida”, explica o teólogo.
Tradição dos ovos de chocolate
A tradição dos ovos parece ser mais antiga que o próprio Cristianismo, conforme explica o entrevistado, que diz que os ovos, como símbolo da vida, já seriam trocados como presentes entre os pagãos.
“Os cristãos assumiram essa tradição como referência à vida nova da Ressurreição de Jesus. Só bem mais tarde, pelo século 18, na França, o chocolate começa a ser usado nos ovos de Páscoa. Desde então une-se a mensagem da Ressurreição, a beleza dos ovos coloridos, e a gostosura do chocolate”, diz.
Cronologia religiosa
As celebrações católicas da Semana Santa têm início no domingo anterior à Sexta-Feira Santa; o chamado Domingo de Ramos, explica o teólogo Francisco Emílio Surian.
“Inicia no Domingo de Ramos. Jesus chega em Jerusalém aclamado. A entrada triunfal em Jerusalém é o início de um percurso histórico da vida de Jesus que será marcado por algumas das passagens mais impressionantes do Evangelho”.
“Semana Santa não é feriado nem folclore. Semana Santa é a principal semana de celebração da fé no Deus Vivo que se fez homem, morreu na cruz e ressuscitou para a glória da vida”!
O professor diz que o Jesus que viveu entre nós foi torturado e morto porque colocava a vida acima da lei. Pois entendia que partilhar é mais importante do que acumular, que a vida do pobre era importante.
“Por tudo isso, a Semana Santa é um percurso de conversão para a vida, e vida em plenitude para todos e para toda a natureza”, afirma Surian.
“O corpo ensanguentado nos braços de sua mãe, Maria. O corpo no túmulo. Três dias de desespero, dispersão e dor. As mulheres que se preocupam em cuidar do corpo de Jesus. O túmulo vazio. O anúncio da Ressurreição”, relata o professor.
Semana Santa nas igrejas
Na quinta-feira ocorrem dois grandes momentos de celebração entre os católicos. Pela manhã, o bispo diocesano reúne-se com seu clero e é celebrada a memória da Instituição do Ministério Sacerdotal.
“Nesta celebração, os padres renovam suas promessas sacerdotais. Também nesta celebração são abençoados os Santos óleos: do Crisma, dos Catecúmenos e dos Enfermos. Estes são os óleos que serão usados nas paróquias durante o ano”.
“No período da tarde, quando também se destaca a Instituição da Eucaristia, é lembrado que os discípulos estão à mesa com Jesus comendo a Páscoa, quando Jesus passa a lavar os pés de seus discípulos”, explica o estudioso.
Contemplação da morte de Jesus
Com a celebração da Ceia do Senhor, inicia-se o Tríduo Pascal. Na Sexta-Feira Santa não se faz a celebração eucarística. Ou seja, não se celebra missa em nenhum lugar do mundo.
“É realizada uma celebração, onde contempla-se a morte de Jesus na cruz. Na sexta-feira, toda a Igreja vivencia a morte de Jesus. Seus últimos momentos ainda de carinho com sua mãe, dedicando-a ao cuidado do discípulo amado”.
“O dia da Paixão do Senhor termina com a experiência da dor, do grito “Tudo está consumado”. Jesus morto é colocado às pressas num túmulo novo. Para todos que viviam a história no tempo de Jesus, esse foi o momento da desilusão, do fim da esperança”, explica o professor.
Francisco Surian acrescenta ainda que continuamos a vivenciar esta experiência com os altares desnudos. “O silêncio que recai em toda a Igreja desde a celebração da Paixão até o sábado à noite. O dia de sábado é tempo de meditação.”
O professor afirma também que após essa profunda experiência da dor da perda e da morte, no sábado ocorre a Vigília Pascal.
“A celebração da Luz. A celebração do fogo novo. A ressurreição de Jesus é Luz que vence a escuridão da noite. Esta é uma das mais belas celebrações de toda a Semana Santa. Repleta de símbolos da vida, traz um grande sentido histórico”, diz.
Ele ressalta que o Tríduo Pascal inicia na Celebração Eucarística da quinta-feira (tarde ou noite) e termina apenas no sábado, na celebração da noite, da Vigília Pascal.
Por isso a celebração da quinta-feira não tem bênção final. Ela segue na sexta-feira, na celebração da Cruz, e terminará com a Bênção final da celebração da Ressurreição da noite do Sábado de Aleluia.
*Informações CNN