Hipocondria: casos podem ter aumentado com a pandemia, dizem médicos

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 13 de dezembro de 2020 às 19:19
  • Modificado em 11 de janeiro de 2021 às 11:27
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Mais de 150 mil pessoas por ano no Brasil são diagnosticadas com esta condição

​Talvez você conheça alguém que enche a bolsa de remédios, sempre está tomando algum comprimido, reclama de sintomas de doenças que não têm e troca de médico como troca de roupa. 

Em níveis exagerados, tais comportamentos se enquadram como hipocondria, uma condição psíquica que acomete mais de 150 mil pessoas por ano no Brasil, de acordo com o Hospital Albert Einstein. Psicólogos e psiquiatras alertam: esse número pode ter sido maior em 2020.

“Por causa da pandemia, muita gente que não tinha traços claros de hipocondria passou a ter, e quem já era hipocondríaco ficou mais”, observa Rogério Panizzutti, médico e professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Segundo a psicanalista Andréa Ladislau, há pacientes que, apesar de não terem testado positivo para a Covid-19, acreditam o tempo todo que foram infectados pelo vírus Sars-Cov-2, chegando a fazer um exame atrás do outro para se certificar de que não está doente:

“A pandemia piorou muito os quadros de hipocondria, que passaram a girar em torno da Covid-19”, diz a psicanalista.

Ela explica que o hipocondríaco amplifica as alterações fisiológicas de seu corpo, entendendo-as como sintomas de doenças graves. A razão está nos traços psíquicos da mente ansiosa. 

Fatores como baixa autoestima e problemas de socialização levam o hipocondríaco a dirigir sua mente para as alterações fisiológicas do corpo.

Panizzutti lembra que a hipocondria é uma das várias manifestações da ansiedade e pode se expressar não só por uma preocupação exacerbada com o próprio organismo, mas também com a saúde de outra pessoa. 

E que a necessidade de tratamento surge quando ela começa a atrapalhar a rotina, impedindo a pessoa de se reunir socialmente, expondo-a a uma carga nociva de medicação ou submetendo-a a uma quantidade exorbitante (e desnecessária) de exames.

Descubra se você é hipocondríaco

Medo de ficar doente
O medo constante de contrair doenças é o principal sinal de hipocondria, mas não é o único. Às vezes, essa ansiedade é tão grande que, mesmo num contexto não pandêmico, o hipocondríaco tende a evitar certos ambientes para não ficar doente

Exagero dos sintomas
Por outro lado, o hipocondríaco também costuma exagerar qualquer alteração fisiológica que apresente, tornando seu sintoma algo maior do que realmente é. Para ele, uma dor de cabeça, por exemplo, é sempre um indício de um quadro grave como tumor cerebral, e um quadro de gases pode facilmente se passar por ataque cardíaco

Ansiedade e depressão
A hipocondria anda de mãos dadas com a ansiedade, e muitos hipocondríacos sofrem até de depressão. Via de regra, a hipocondria acompanha pessoas que apresentam, entre outras características, baixa autoestima, dificuldades para se socializar e se relacionar, inseguranças frequentes e, portanto, uma carência inconsciente de atenção

Dificuldade de acreditar em exames
Por mais saudável que esteja, o hipocondríaco sempre acredita que está doente ou prestes a ser acometido por alguma enfermidade. Em muitos casos, nem mesmo o exame médico é capaz de desfazer essa ideia. Hipocondríacos tendem a desconfiar de resultados que não apontem nenhuma doença

Troca frequente de médicos
Trocar de médico com muita frequência também é indício de hipocondria. Quem desenvolve o quadro costuma ter dificuldade de confiar na avaliação médica, sobretudo quando ela é positiva. Os hipocondríacos têm sempre uma “receitinha”: se automedicam e medicam os outros

Interesse obsessivo por doenças
Os hipocondríacos costumam passar horas e horas pesquisando e aprendendo sobre doenças, principalmente aquelas que nunca tiveram. Por isso, se acham mais entendidos do assunto do que todo mundo. Não importa o que os médicos ou os exames digam, tudo tem que passar pelo crivo individual do hipocondríaco

Desenvolvimento de sintomas
Às vezes, o hipocondríaco é tão aficionado pela possibilidade de ter alguma doença que acaba desenvolvendo sintomas dela. Durante a pandemia, muitos psicólogos e psiquiatras testemunharam o surgimento de sintomas de Covid-19 em pessoas que não tinham sido infectadas pelo vírus

Checagem frequente dos sinais vitais
Sempre com medo de morrer, muitos hipocondríacos têm por hábito checar seus sinais vitais, como a respiração e os batimentos cardíacos, numa frequência exagerada.


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