Grupo de mulheres faz máscaras e respiradores em 3D e doa para hospitais

  • F. A. Barbosa
  • Publicado em 27 de março de 2020 às 16:43
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:32
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Mais de mil impressoras serão capazes de produzir, cada uma, um equipamento por hora

Equipamentos serão doados a hospitais, com prioridade para profissionais que trabalham em UTI. Voluntários e empresas se mobilizam pelo mundo para produção maciça de dispositivos

​Respiradores e máscaras a baixo custo foram desenvolvidos por um grupo de pesquisadoras e empreendedoras que constituem o Grupo de Mulheres na Impressão 3D em São José dos Campos, interior de São Paulo. 

Os equipamentos serão doados a hospitais no Brasil. 

As mais de mil impressoras já disponibilizadas serão capazes de produzir, cada uma, um equipamento por hora – resultado do esforço de profissionais de diversas áreas que se mobilizam para encontrar soluções que ajudem hospitais que estão entrando em colapso por conta do tratamento dos pacientes com coronavírus.

Outras iniciativas se espalham pelo Brasil e pelo mundo. Em Belo Horizonte, um grupo reúne 30 makers (movimento que tem em sua base a ideia de que pessoas comuns podem construir, consertar, modificar e fabricar os mais diversos tipos de objetos e projetos com suas próprias mãos) para produzir máscaras através de suas próprias impressoras 3D.

De acordo com Maria Elizete Kunkel, de 48 anos, docente de engenheira biomédica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), coordenadora do grupo Mulheres 3D em São José dos Campos, o equipamento tem como base um dispositivo já existente na internet: 

“Um modelo chamado prusa, que funciona muito bem, mas demora de quatro a cinco horas para ser impresso, gastando muito material e muito lento para produção em maior escala”.

A partir do prusa, foi criado grupo de design com pessoas de várias partes do Brasil, em sua maioria do Grupo de Mulheres na impressão 3D, promovendo modificações nos equipamentos já existentes.

Eles seguiram as as recomendações das equipes médicas do hospital São Paulo, das Clínicas da Unifesp e hospital municipal de São José dos Campos.

Foram construídos quatro protótipos que passaram por avaliações técnicas e adaptados segundo recomendações de profissionais até que se chegasse ao produto mais adequado.

“Conseguimos chegar a um protótipo final que fica pronto em uma hora e estamos distribuindo entre impressoras 3D de todo o Brasil.”

O grupo é formado por mulheres de várias áreas que atuam na pesquisa em design, do setor automotivo, que desenvolvem produtos em microempresas caseiras, estudantes de graduação e colaboradores externos, “homens com experiência em 3D”.

Por conta da quarentena, o grupo trabalha de modo remoto para evitar exposição ao coronavírus. “Estamos trabalhando com filamentos que já tínhamos ou que recebemos por doação”, diz Kunkel. 

Para aumentar a produção, as mulheres estão desenvolvendo campanha para arrecadação do material.

“Temos um formulário para que a pessoa se inscreva dizendo se quer imprimir ou para dizer que no seu hospital precisa de dispositivos.” 

Os pedidos serão separados por células formadas em cada cidade. A produção é individual e será recolhida de casa em casa e entregue ao hospital.

Segundo Kunkel, os hospitais brasileiros não dispõem desses protetores faciais em grande quantidade porque são utilizados só em situações de emergência, em catástrofes. 

Geralmente, estão disponíveis em hospitais de países sujeitos a terremotos, furações por exemplo.

“No Brasil, de modo geral, bastava uns poucos na UTI, mas agora precisamos em todos os hospitais, devido ao alto risco de contaminação com o coronavírus.”

A pesquisadora explica que o protótipo vem sendo validado por equipe médica, que avalia questões como segurança, fixação, controle de limpeza e esterilização.

“É avaliado de modo que possa ser aprovado no sentido de ser seguro, fácil de fazer e rápido de produzir.

Os interessados em trabalhar no projeto como impressor ou a instituição que queira solicitar os dispositivos devem acionar o Instagram @womenin3dprinting_br ou o link https://linktr.ee/maria_elizete_kunkel.

O custo final do produto ainda não está calculado mas, segundo a coordenadora, os insumos têm custo básico abaixo de R$ 100, e é constituído de uma haste produzida em 3D, uma folha de acetato e um elástico para prender atrás da cabeça. 

“O filamento custa em média R$ 10 o quilo, sendo possível com essa quantidade produzir 20 unidades. A folha de acetato em torno de R$ 5 e o elástico tem custo bem baixo.”

O foco da doação são pessoas que trabalham nos hospitais, com prioridade para atendimento na UTI, com contato direto de pacientes já diagnosticados fazendo uso de respiradores artificiais.

“Os dispositivos serão distribuídos para hospitais de acordo com as células, que contarão com um coordenador que cuidará da logística de distribuição aos hospitais.”

Os dispositivos serão recebidos na instituição que se inscreveu previamente por um responsável pela administração dos equipamentos médicos do hospital.

“Por tratar-se de equipamento sem registro da Anvisa, que liberou desenvolvimento de equipamentos médicos sem registro em caso de emergência, com o condicionante do aval dado pelo administrador da unidade de saúde para utilização de dispositivo ainda em fase de teste.”

Para apoiar o projeto o interessado doar material ou em dinheiro através de vaquinha virtual. Quem não puder colaborar com dinheiro ou impressão pode fazê-lo divulgando nas redes sociais, conclui Maria Elizete Kunkel.


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