Dengue em Franca preocupa mais que em Ribeirão: menos casos, mas o dobro de mortes

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 21 de maio de 2024 às 12:30
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Enquanto Ribeirão conta com seis mortes e 38.614 ocorrências confirmadas desde janeiro deste ano, Franca tem 12 óbitos e 2.902 casos positivos

Médico infectologista explica por que casos de dengue em Franca são preocupantes – foto Freepik

 

Historicamente, Franca convive com o mosquito da dengue desde os anos 2000. Antes disso, o vírus não era tão presente e a população não tinha de lidar com a doença de maneira efetiva, como acontece nos dias de hoje.

Ribeirão Preto registra a presença do vírus desde os anos 80 e isso explica, por exemplo, o disparate de casos entre as duas cidades. Explica também o número de mortes em uma e em outra.

Enquanto Ribeirão conta com 38.614 ocorrências confirmadas e seis mortes desde janeiro deste ano, Franca tem quase 14 vezes menos casos e o dobro de óbitos.

Até o dia 14 de maio, a cidade já tinha 2.902 registros confirmados e 12 mortes.

Segundo o infectologista Homero Rosa, o que acontece em Franca é que a população acaba sendo mais vulnerável por não ter lidado com o vírus por anos.

“São situações de endemia diferentes. Ribeirão Preto tem endemia há quatro décadas e Franca tem só há duas décadas”.

“Até tinha, mas não eram tantos casos e também, provavelmente, não muitas mortes. Daí, de uma hora para outra, a cidade está meio que vulnerável, entrando em um status epidemiológico que não tínhamos, porque tínhamos pouca circulação do vírus”.

Ainda segundo Homero Rosa, além de aumentar a circulação do vírus na cidade nos últimos anos, poucas pessoas tiveram a doença em anos anteriores para que pudessem adquirir anticorpos.

“Como população de Ribeirão Preto tem já 40 anos, de uma forma geral, contato com vírus e Franca tem muito menos, metade desse tempo, os casos começaram a ficar muito mais intensos nesses últimos três anos”.

O infectologista explica também que por 15 anos, Franca não registrou mais do que dez mortes em decorrência da doença.

“De 2005 até 2020, não tivemos nem dez mortes na cidade em todo esse período. Aí tivemos 15 mortes de 2021. Esse ano [2024] já tem uma quantidade também importante [12 mortes em cinco meses]”.

Covid intensificou sintomas

Sem anticorpos suficientes, os sintomas são mais intensos em uma população que não precisava lidar com a doença até então.

Para piorar, Homero Rosa diz que a covid alterou a forma como o sistema imunológico reage às demais doenças, como a dengue.

“Isso foi fenômeno mundial. Depois da pandemia, as doenças infecciosas, de uma forma geral, estão com outro caráter, mais forte, mais complicado, com sintomas que não aconteciam antes”.

“O vírus da covid modificou tudo. A resposta do sistema imunológico foi comprometida e deu mais força para vírus e bactérias que, às vezes, não nos preocupavam”.

Secretária de Saúde de Franca, Waléria Mascarenhas observa um novo comportamento na população francana.

Segundo ela, as pessoas com suspeita de dengue estão procurando por atendimento médico mais rápido.

“Eles têm procurado mais o serviço de urgência e os sintomas estão mais agravados, tem uma baixa de plaquetas importante, que é o que leva às hemorragias, então isso acontece”.

“Quanto antes procurar, o prognóstico é melhor, porque ele não desidrata. Porque [dengue] é hidratação, então o paciente que se trata nesses primeiros dias, é melhor”.

População precisa se conscientizar

Nesta semana, Franca começou a vacinar crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos. A procura, diz Waléria, foi maior nos dois primeiros dias, mas ela espera que pais e responsáveis façam sua parte para que o público-alvo neste momento seja imunizado mais rapidamente.

“Que procurem uma de nossas unidades para estar vacinando as crianças e adolescentes. Não precisa de agendamento, eles precisam estar acompanhados de pais e responsáveis e com documento de identificação”.

Para Rosa, a imunização é importante. Muito porque o vírus não vai sumir.

O que precisa ser feito, de fato, é minimizar a presença dele. E isso passar também pela conscientização para eliminação de criadouros.

“Acabar com vírus é utopia, é impossível, isso não vai acontecer. Nós temos de minimizar a presença dele, a circulação dele e é só controlando o inseto. Não tem de controlar o vírus, tem de controlar o inseto, não pode deixar ele nascer”.

Há um mês, os agentes de controle de vetores ampliaram o horário de trabalho e aumentaram as visitas às residências e estabelecimentos comerciais.

Mais de 40 bairros já receberam a nebulização e, também recentemente, a secretaria firmou parceria com o Tiro de Guerra de Franca para conscientizar a população no combate à doença e eliminação dos focos de dengue.

*Informações G1


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