Deu branco? Entenda por que esquecemos em momentos de pressão

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 29 de setembro de 2019 às 23:12
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:52
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Altos níveis de concentração também podem nos levar a cometer erros em tarefas que já sabemos ou decoramos

Quem nunca falhou sobre pressão? O famoso “deu branco” pode acontecer com qualquer pessoa que se encontre em uma situação de estresse e, mesmo preparado para aquela ocasião, acaba tendo uma performance ruim por puro nervosismo.

Jogadores de futebol, alunos brilhantes e até empresários de sucesso e acostumados a falar em público já viveram esse pesadelo.

Pois é justamente esse processo que está sendo desvendado por um time de cientistas no Japão. Eles utilizaram imagens de ressonância magnética funcional, capaz de detectar variações no fluxo sanguíneo durante a atividade cerebral, para descobrir um novo mecanismo neural, envolvendo o córtex cingulado anterior dorsal, que explica como a ansiedade deteriora a performance física. Eles ainda conseguiram resgatar o bom desempenho suprimindo a atividade cerebral dessa região com o uso de estimulação magnética. O estudo foi publicado na revista Nature Communications.

Como o estudo foi feito?

Os cientistas utilizaram 18 participantes destros para realizar algumas tarefas cognitivas. Eles então realizaram três sessões de testes. No primeiro deles, os participantes aprenderam algumas sequências de botões e precisavam repetir corretamente quando requisitado.

Caso errassem, foram avisados que levariam um choque caso errassem ou levassem muito tempo pensando na alternativa correta. Eles então foram requisitados a fazer o teste separadamente e em duplas. O resultado foi que, quando estavam acompanhados, eles tomaram mais choques do que quando estavam sozinhos.

O segundo teste era semelhante ao primeiro, mas foi adaptado para ser feito dentro do aparelho de ressonância magnética. Novamente, a presença de outra pessoa aumentou. Dessa vez, no entanto, os cientistas notaram que o córtex cingulado anterior dorsal era ativado nessas reações. Por fim, os médicos realizaram um terceiro experimento, com 31 participantes divididos em dois grupos, em que ativaram impulsos magnéticos para “apagar” a reação do córtex cingulado anterior dorsal enquanto alguns deles realizavam as mesmas tarefas dos testes anteriores. O resultado foi que o número de choques foi menor, mostrando que os impulsos magnéticos interferiram na performance do teste.

Por que isso é importante?

Os testes mostraram, pela primeira vez, a região do cérebro responsável pela queda na performance quando estamos ansiosos ou nervosos.

Com isso, seria possível, no futuro, criar novas formas terapêuticas para tratar atletas, músicos e outras pessoas que sofrem de ansiedade e acabam prejudicando suas performances públicas.

Os cientistas ainda querem entender melhor como os impulsos magnéticos podem melhorar a performance dessas pessoas independente da ansiedade, e prometem avançar nessas análises.

Concentração demais pode levar a “brancos”

Por mais incrível que isso possa parecer, altos níveis de concentração podem nos levar a cometer erros em tarefas que já sabemos ou decoramos. “Quando prestamos atenção em cada detalhe, em vez de deixar o cérebro agir automaticamente, prejudicamos a velocidade e a execução da tarefa”, explica a bióloga Elisa Kozasa, pesquisadora do Instituto do Cérebro, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

Para evitar o erro diante de uma situação de vulnerabilidade, seja uma competição ou uma palestra, a dica é simples: pratique. “É preciso treinar ao máximo para que a atividade se torne um hábito, ou seja, para que você a faça sem pensar,” diz Kozasa.

E o ideal, como fazem os atletas profissionais, é imaginar todos os cenários possíveis. Eles treinam com o barulho da torcida, debaixo de sol ou de chuva, com óculos de mergulho embaçado e assim por diante. “Dessa forma, caso enfrente uma dessas situações novamente no dia da prova, o cérebro não precisa criar uma nova solução: mantém a calma porque já sabe como resolvê-las”, explica a psicóloga Luciana Angelo, diretora da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte.

Mas se os “brancos” estão se tornando frequentes demais, vale investigar mais a fundo. “Se deseja quebrar esse ciclo, a pessoa tem de descobrir o que o está causando. Podem ser questões mais profundas, como baixa autoestima”, diz Luciana.


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