Caderneta de poupança ganha 50 milhões de contas durante o auxílio emergencial

  • Joao Batista Freitas
  • Publicado em 19 de fevereiro de 2021 às 20:30
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Os números confirmam que parte do auxílio foi poupada para formar uma reserva para os trabalhadores informais beneficiados pelo programa

Depois da captação recorde de recursos em 2020, a aplicação financeira mais tradicional dos brasileiros iniciou 2021 com forte retirada. Em janeiro, os investidores retiraram R$ 18,15 bilhões a mais do que depositaram na caderneta de poupança, informou hoje (4) o Banco Central (BC). O resultado é o maior registrado para todos os meses desde o início da série histórica, em 1995. Em janeiro do ano passado, os brasileiros tinham sacado R$ 12,36 bilhões a mais do que tinham depositado. Tradicionalmente, o primeiro mês do ano é marcado por retiradas expressivas de recursos da caderneta de poupança. O pagamento de impostos e despesas como material escolar e parcelamentos das compras de Natal impactam as contas dos brasileiros no início de cada ano. No ano passado, a poupança tinha captado R$ 166,31 bilhões em recursos, o maior valor anual da série histórica. O pagamento do auxílio emergencial e as instabilidades no mercado de títulos públicos nas fases mais agudas da pandemia de covid-19 atraíram o interesse na poupança, mesmo com a aplicação rendendo menos que a inflação. Rendimento Com rendimento de 70% da Taxa Selic (juros básicos da economia), a poupança rendeu apenas 1,97% nos 12 meses terminados em janeiro, segundo o Banco Central. No mesmo período, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), considerado prévia da inflação, atingiu 4,23%. O IPCA cheio de janeiro será divulgado na próxima terça-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A perda de rendimento da poupança está atrelada a dois fatores. O primeiro foram as recentes reduções da taxa Selic (juros básicos da economia) para o menor nível da história. Atualmente a taxa está em 2% ao ano. O segundo foi a alta nos preços dos alimentos, que impactou a inflação no segundo semestre do ano passado. Para este ano, o boletim Focus, pesquisa com instituições financeiras divulgada pelo Banco Central, prevê inflação oficial de 3,53% pelo IPCA. Com a atual fórmula, a poupança renderá 1,4% este ano, caso a Selic de 2% ao ano fique em vigor durante todo o ano. O rendimento pode ser um pouco maior caso o Banco Central aumente a taxa Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

A caderneta de poupança ganhou 50,4 milhões de contas de maio a dezembro de 2020, período que coincide com os meses em que foi feito o pagamento do auxílio emergencial.

Segundo dados do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), 46,6 milhões das novas cadernetas (93%) possuíam depósitos no valor de até R$ 5.000 no final do ano passado. Respondiam, no entanto, por apenas 11% da captação (diferença entre saques e depósitos) no período.

Os números confirmam que parte do auxílio foi poupada para formar uma reserva para os trabalhadores informais beneficiados pelo programa. As informações são dos repórteres Eduardo Cucolo e Sheyla Santos, da Folhapress.

O montante acumulado por essas pessoas, no entanto, tem capacidade limitada para compensar o fim do benefício. Em dezembro do ano passado, as contas com saldo de até R$ 5.000 possuíam, na média, R$ 415 disponíveis (a cota do auxílio terminou o ano em R$ 300).

Os dados do FGC mostram que quase metade do que foi poupado naquele período está em contas com saldos de R$ 20 mil a R$ 150 mil. Ou seja, a maior parte da poupança veio das classes de maior renda.

Embora o auxílio tenha sido pago a algumas pessoas que já possuíam um saldo elevado na poupança, ele não teria poder para elevar muito essas reservas.

Aqueles que receberam todas as nove parcelas do auxílio poderiam ter poupado R$ 4.200, se não tivessem gastado nada. O valor chega a R$ 8.400 nas famílias com direito a duas cotas.

Esses casos, no entanto, estão fora do perfil da imensa maioria dos trabalhadores atendidos pelo programa.

Os números do FGC mostram que houve aumento no total de recursos em todas as faixas de valores, exceto no extrato em que estão as contas com saldo superior a R$ 10 milhões.

O número de poupanças nessas faixas encolheu de 352 para 325 no período. A captação nessa faixa foi negativa em R$ 754 milhões (os saques foram maiores que os depósitos no período).

Embora tenha rentabilidade inferior a de outras aplicações em renda fixa, a caderneta é isenta de Imposto de Renda e de taxas de administração. Além disso, se apresenta como uma porta de entrada para novos investidores.

Além da caderneta, o FGC garante os depósitos de pessoas e empresas em instituições financeiras em produtos como conta corrente, CDBs e letras de câmbio, letras hipotecárias, letras de crédito imobiliário e letras de crédito de agronegócio.

Considerando todos os investimentos com cobertura do FGC, o incremento nas contas com saldo de até R$ 5.000 representa apenas 4% da captação do período marcado pela pandemia em 2020, e o valor total depositado equivalia, em dezembro de 2020, a uma média de R$ 413 por cliente.

Na soma de todos os investimentos cobertos pelo fundo, o valor poupado durante a pandemia foi de R$ 531,6 bilhões, crescimento de 20% entre o final de abril e o final de dezembro.

Quatro produtos – depósitos à vista, a prazo e letras de crédito imobiliárias e do agronegócio –, respondem por 68% desse aumento, com o ganho de 18 milhões de contas. A caderneta responde por outros 27%.

Nas estatísticas do Fundo, quem possui mais de uma conta da mesma modalidade no mesmo banco (duas poupanças na Caixa, por exemplo), é contado apenas uma vez. Se possuir poupança em duas instituições diferentes, as duas contas são computadas separadamente.

O FGC garante os depósitos de pessoas e empresas até o limite de R$ 250 mil por CPF ou CNPJ em cada instituição, com teto de R$ 1 milhão para garantias pagas à mesma pessoa física ou jurídica em um período de quatro anos.


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