Não culpe a internet: Quem é agressivo on-line é agressivo face a face!

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 19 de setembro de 2021 às 12:30
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Sentimento de anonimato por trás das telas de computador transforma muitas pessoas em ‘trolls’, que apresentam pouca ou nenhuma empatia

Sensação de anonimato por trás das telas potencializa a falta de empatia

 

Muitos de nós sentimos que a internet não é um lugar seguro para discutir não só política, mas qualquer tipo de assunto que possa causar certa polêmica: o sentimento de anonimato por trás das telas de computador transforma muitas pessoas em ‘trolls’, que apresentam pouca ou nenhuma empatia com os parceiros de discussão.

No entanto, parece que esse argumento não é exatamente verdadeiro, no sentido de que não é a internet que gera esse comportamento – é a própria característica da pessoa, que se mostrará pouco capaz de discutir civilizadamente em qualquer ambiente.

“Existem muitas razões psicológicas pelas quais podemos ter mais dificuldade em controlar nosso temperamento online. Nós não vemos os rostos daqueles com quem estamos discutindo, e a forma rápida de comunicação escrita pode facilmente levar a mal-entendidos”.

“No entanto, também sabemos, por meio de pesquisas psicológicas, que nem todo mundo tem uma personalidade igualmente inclinada à agressão. No final, essas diferenças de personalidade acabam sendo um motivador muito mais forte da hostilidade online,” disse o professor Alexander Bor, da Universidade Aarhus (Dinamarca).

Busca por status

A pesquisa foi baseada em experimentos com mais de 8.000 adultos norte-americanos e dinamarqueses, que foram entrevistados sobre suas experiências e comportamentos em discussões políticas que ocorreram on-line ou off-line.

Apesar das diferenças nas instituições políticas e nos níveis de polarização política, pessoas dos dois países que buscam status foram os principais culpados por trás da hostilidade política, tanto online quanto off-line.

Os resultados mostram que as pessoas que tendem a ser hostis nas discussões políticas na internet são igualmente hostis nas discussões políticas face a face – e as próprias pessoas reconhecem isto.

Esses indivíduos têm disposições que os fazem ansiar por reconhecimento e status e motivam um comportamento agressivo em busca de dominância para não perder uma discussão.

A visibilidade dos trolls da internet

A pesquisa também documentou que as pessoas na Dinamarca e nos Estados Unidos realmente acreditam que as discussões políticas online são piores do que as discussões off-line, mas aponta para uma nova explicação para esse fenômeno.

“Nossa pesquisa mostra que a razão pela qual muitas pessoas acham que as discussões políticas online são tão hostis tem a ver com a visibilidade do comportamento agressivo online”.

“As discussões on-line ocorrem em grandes redes públicas e o comportamento de um troll da internet é muito mais visível do que o comportamento dessa mesma pessoa em um ambiente off-line,” descreveu o pesquisador Michael Petersen.

Tanto nas situações online quanto off-line, poucas pessoas sentem que estão sendo atacadas ou assediadas pessoalmente. Ainda assim, em um ambiente online, há uma tendência marcante de as pessoas observarem outras pessoas sendo atacadas e assediadas.

Educação digital não é suficiente

A pesquisa sugere que a internet não é responsável por tornar as pessoas agressivas. Em vez disso, pessoas agressivas utilizam os recursos da internet para seus próprios fins.

De acordo com os pesquisadores, isso sugere que a hostilidade online não é um acidente, mas sim uma estratégia deliberada.

“Não podemos remover o ódio online por meio da educação, porque ele não nasce da ignorância. Pessoas hostis sabem que suas palavras machucam e é por isso que as usam”.

“Nossa pesquisa sugere que é necessário descrever claramente o que é aceitável e o que não é aceitável para cada página de discussão específica, e policiar essas normas, por exemplo, usando moderadores.

“Para acabar com o ódio online, precisamos diminuir a visibilidade e o alcance daqueles que são cheios de ódio. A alternativa é que muitas pessoas serão dissuadidas de participar de discussões on-line. Este é um problema democrático, visto que as mídias sociais desempenham um papel cada vez mais amplo nos processos políticos,” disse o professor Alexander Bor.

*Informações Diário da Saúde


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