Quando as maçanetas giram

  • Entre linhas
  • Publicado em 30 de outubro de 2015 às 09:03
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 17:29
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Os pássaros amanheceram cantando. Suavemente davam seu recado para ela: aquele dia prometeria. Meio que preguiçosamente ela foi se desvencilhando da cama. Após um demorado banho olhou demoradamente no espelho. Seus olhos verdes que haviam perdido o brilho de outrora, estavam à procura do que ela foi um dia… Perdida em seus pensamentos, ela despertou com o telefone tocando… Estava atrasada. Enquanto percorria o corredor, prestava atenção em cada uma das portas. Chegava a tocar nas maçanetas, mas não as girava, pois antes queria ter certeza. Apertava o passo e, logo em seguida, desacelerava. Pisava sobre suas ideias, seus pensamentos. Pisava e deslizava tendo medo de machucá-los.

O corredor parecia não ter fim. Aquela parca luz incomodava sua vista. Algumas vezes conseguia ver tudo, algumas outras, nem dois passos à sua frente. Onde será que ela iria chegar?
Ela parou frente a uma das portas do lado esquerdo. Encostou o ouvido e procurou escutar… Pôde ouvir a melodia de seu coração cortando o silêncio em volume alto, volume máximo. Segurou a maçaneta entre as mãos e pôde notar os raios de sol que se esgueiravam pelas frestas, refletidos na parede atrás dela. A porta estalou quando a abriu. Ficou cega pela luz que inundava sua retina. Hesitante, ela deu o primeiro passo e correu com o segundo. Foi em direção dela mesma, procurando por direções… Já era hora disso: dela encontrar a si mesma e deixar para trás o que não faz mais sentido. E assim, com o canto dos pássaros ela se deixou levar numa viagem sem volta…


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