A MÚSICA E OS MÚSICOS

  • F. A. Barbosa
  • Publicado em 8 de abril de 2019 às 11:37
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 13:59
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“O BÊBADO E A EQUILIBRISTA”


Registrar em música e verso acontecimentos da música brasileira. Eis aí uma fonte de inspiração dos nossos compositores. Dê uma olhada no repertório nacional e verá. Às vezes fatos relevantes, outras nem tanto…Mas a verdade é que crítica ou louvação a campanhas políticas, revoluções e feitos de brasileiros, quase sempre importantes (ou não), não faltará ! Senão, veja : nem mesmo a ferrenha censura de duas ditaduras foi capaz de impedir essa prática, muitas vezes, inteligentemente disfarçada pelo uso de imagens alegóricas. Este é o caso de “O Bêbado e a Equilibrista”, notável composição de João Bosco e Aldir Blanc, que focaliza uma promessa de abertura democrática, na ocasião cercada de incertezas. Parodiando a forma de uma samba-enredo, a canção descreve uma cena patética em que dois personagens (o bêbado e a equilibrista) movimentam-se ridiculamente num fim de tarde sombrio (“E nuvens/ lá no mata-borrão do céu/ chupavam manchas torturadas…” O bêbado, trajando luto e lembrando a figura de Carlitos (Charles Chaplin), fazendo irreverências mil pra noite do Brasil…A equilibrista, a esperança dançando de sombrinha na corda bamba, o que correspondia à expectativa ansiosa de um projeto de êxito imprevisível…E a canção prossegue, utilizando, conscientemente, o mau-gosto e o lugar-comum como forma chocante de expressar a crítica a uma realidade indesejada, como se pode ver em “Chora a nossa pátria, mãe gentil/ choram Marias e Clarisses…” O “irmão do Henfil” e as “Clarisses” citados nos versos referem-se a personagens reais: ele, Herbert de Souza, o Betinho, era irmão do cartunista Henfil, na época, vivendo no exílio; ela, era viúva do jornalista Wladimir Herzog, enforcado numa prisão da ditadura, em São Paulo.

“O Bêbado e a Equilibrista” foi lançada por Elis Regina em junho de 1979, em gravação arranjada e dirigida pelo seu então marido César Camargo Mariano, fazendo parte do LP “ELIS, ESSA MULHER”, vindo a tornar-se um de seus maiores sucessos, o que aconteceu também na voz de João Bosco.


Fonte :A Canção No Tempo – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello

Fotos : Divulgação

*Esta coluna é semanal e atualizada às segundas-feiras


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