USP revela pesquisa sobre resistência do carrapato bovino a pesticida

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 6 de outubro de 2018 às 22:48
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:04
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Pesquisadores identificaram mecanismos de resistência à ação da droga mais usada no combate ao inseto

Um estudo de
pesquisadores do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de
Biociências da Universidade de São Paulo e do Instituto de Pesquisas
Veterinárias Desidério Finamor, em Eldorado do Sul (RS), identificou mecanismos
de resistência do carrapato bovino à ação da ivermectina, uma das drogas mais
usadas no combate às infestações por carrapato.

A pesquisa foi feita
com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

De acordo com a pesquisadora Tatiana Teixeira Torres, vários
mecanismos podem estar envolvidos na resistência do no carrapato bovino à
ivermectina, incluindo a capacidade fisiológica de desintoxicar ou tolerar
substâncias tóxicas. Os mecanismos metabólicos da desintoxicação são mediados
por famílias de enzimas e também por proteínas específicas, escolhidos pelo
processo da seleção natural, disse Tatiana.

O trabalho mostrou que os carrapatos que não contavam com a ação
de tais enzimas e proteínas morriam em presença da ivermectina. Já aqueles que
produziram essas substâncias sobreviveram e produziram mais descendentes, que
acabaram por formar as linhagens resistentes. A meta do estudo foi identificar
quais proteínas teriam papel predominante na desintoxicação da ivermectina em
uma linhagem multirresistente do carrapato bovino.

Segundo a Fapesp, para testar a influência de tais proteínas na
resistência, os pesquisadores usaram inibidores específicos para cada uma das
famílias proteicas e compararam as taxas de mortalidade em tratamentos com
ivermectina na presença e na ausência dos inibidores. “Tal conhecimento
pode auxiliar na busca de novas estratégias para lidar com a resistência à
ivermectina no campo. Por exemplo, os inibidores testados, ou outras moléculas
de efeito análogo, poderiam ser introduzidos em formulações comerciais de
ivermectina”, disse Tatiana.

De acordo com a Fapesp, os prejuízos da pecuária com parasitas
externos (que se instalam fora do corpo do hospedeiro), como o carrapato
bovino, chegam a US$ 3,2 bilhões ao ano (23,2%).

A mosca-dos-chifres
provoca perda de US$ 2,5 bilhões (18,3%), enquanto o berne, a mosca-da-bicheira
e a mosca-dos-estábulos causam prejuízo estimado em US$ 1 bilhão (7,5%). “A
infestação ocorre no momento em que o carrapato se alimenta com sangue do
animal. É quando o inseto inocula substâncias anti-hemostáticas, anti-inflamatórias
e imunomodulatórias contidas em sua saliva. Essas substâncias modificam a
fisiologia no local da picada, causando perda de sangue, redução na imunidade
do hospedeiro e irritação. O estresse do animal causado pelas infestações
conduz à interrupção da alimentação e, consequentemente, à perda de peso
e à redução da fertilidade”, explicou Tatiana.

O controle do
carrapato bovino é feito com a aplicação de pesticidas, o que conduz,
invariavelmente, à seleção de linhagens resistentes. Hoje, no Brasil, o carrapato
bovino apresenta resistência, em maior ou menor grau, a todos os pesticidas
comerciais empregados no controle da praga.


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