Um pontinho esquecido em nossa história

  • EntreTantos
  • Publicado em 7 de novembro de 2017 às 16:04
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:27
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Saudações paciente leitor!

Eis-me aqui de novo, naufragando em minhas analogias turvas, quase imaculadas, perante as ruinas desta sociedade que tende a decrepitar meu surrado involucro carnal.

Novembro sempre lança sobre meu espirito muitas reflexões. Fato absolutamente compreensivo, já que este, é o mês responsável por meu envelhecimento. Todavia, além dos meus “aninhos” (Que já não são poucos ah-ah) há também os natalícios dos meus pequenos, a consumir boa cota de minha energia, pois, com a crise cada vez mais bem instalada, propor-lhes qualquer préstito fica cada dia mais difícil. No entanto, toda vez que novembro desponta por trás da colina imaginária em nosso calendário, se adensam os rumores, os manifestos pelo tal feriado da consciência negra.

Se o leitor desviar o olhar à margem superior deste, saberá imediatamente que sou negro. Tens ai então o primeiro argumento que usarei em minha defesa, caso seja aqui acusado de racismo, embora, muitos dos que acusam ou sentenciam tal crime, não façam a menor ideia do que significa. Se não for para lhe falar sob a segurança da honestidade, prefiro abortar esta minha gana pela escrita. Portanto, é com o coração que me solidarizo (em partes) com os que se opõem a tal feriado. Obviamente, não farei coro ao argumento pobre de que há feriados em demasia em nosso calendário. Visto que a maioria deles não representam m… nenhuma . (Ufa! Ainda não será desta vez que serei demitido, pelo menos, não por um palavrão).

20 de novembro simboliza o assassinato de Zumbi dos Palmares. Traído, degolado e exposto. Herói, a quem mais da metade dos brasileiros devem sua liberdade. Entretanto, centenas de outras almas lutaram em igual penhor pela causa abolicionista. Muitos em terrenos mais hostis que o pobre negro dos palmares. Os “pretinhos” Joaquim Nabuco e José do patrocínio que lutaram pela emancipação nos plenários, repletos de políticos apadrinhados por fazendeiros escravocratas. E como não lembrar de José de Seixas, que tivera o despeito e ousadia de instalar um quilombo no coração do Rio de Janeiro, numa das áreas mais caras e mais famosas do Brasil, o Quilombo do Leblon. Ah paciente leitor! A mídia racista daquela Belle époque, numa tentativa desesperada de eleger Zumbi, um negro fugido, como principal elemento de oposição ao sistema escravagista, praticamente enterrara personagens que dedicaram suas vidas à liberdade dos escravos. Homens que hipocritamente, não constam em nossos livros de história. Nossa própria história. Pouca gente sabe, pelo menos, quase nunca se aborda, mas, a classe jornalista foi a principal pilastra a sustentar de maneira ferrenha as revoluções em prol da abolição. Seria necessário muita tinta, para defender de maneira mais substancial esta minha visão. Por hora, proponho elegermos como feriado, como simbologia máxima da conscientização negra, o fatídico 13 de maio, afinal, como defendera um poeta do século XIX, cujo nome se perdera nos grotões desta minha memória envelhecida, “A importância do 13 de maio sobrepõe e muito ao 7 de setembro”

A luta contra o racismo e pela igualdade entre homens negros e brancos é outro assunto, que talvez um dia eu dedique um capítulo inteiro a disserta-la. Todavia, em conclusão, digo que o brasil foi um dos últimos países a abolir os escravos. Quase 4 séculos de escravidão. Milhares de seres humanos usurpados, violentados, humilhados e covardemente assassinados. São dados, são fatos. E não podemos mais permitir que todos estes fatos sejam esquecidos, por conveniência, por negligência. Estabelecer um feriado não justificará nada, mas, já é um pequeno avanço. Afinal, reconhecer o erro já é o primeiro passo.

*Essa coluna é semanal e atualizada às quartas-feiras.


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