Tuk-tuks transformam Sertãozinho em ‘Nova Deli’ do interior de SP

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 29 de abril de 2018 às 22:26
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:42
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Usadas no transporte de passageiros na Índia, tuk-tuks já são preferência dos moradores de Sertãozinho

Quem dirige pelas ruas de
Sertãozinho pode até imaginar que está em Nova Deli.

Os famosos tuk-tuks que
movimentam o trânsito da capital indiana também estão dominando as ruas do
município com 122 mil habitantes no interior de São Paulo.

Taxistas e motoristas de aplicativo não têm vez quando o
assunto é transporte de passageiros. A preferência dos moradores e aumento da
demanda fez com que a Prefeitura fosse obrigada a regulamentar o serviço em
legislação própria.

Agora, tuk-tuk tem até ponto exclusivo de embarque e
desembarque no Centro da cidade, ao redor da praça principal. A administração
estuda implantar “bolsões” de estacionamento em outras regiões, como próximo à
rodoviária.

Até o mototáxi, que há bem pouco tempo tinha clientela
fidelizada, está sendo substituído pelo tuk-tuk. Para a dona de casa Cássia
Morais, a diferença de preço entre os dois serviços é pequena e a relação
custo-benefício compensa. “Você se sente mais confortável, não toma sol, quem
usa saia não passa desconforto, a viagem é tranquila, gostei muito. O preço
está ótimo porque a gasolina está muito cara, então creio que está bom. Para
mim, vale muito a pena” afirma.

Doze vezes mais

O aumento no número de tuk-tuks em Sertãozinho tem relação direta com o
aumento do desemprego durante a crise econômica. Muitos metalúrgicos demitidos
encontraram nesse serviço uma opção de renda, como o motorista Marcelo Silva
Marques. “A cidade era forte na metalurgia, mas, devido ao desemprego, o jeito
foi trabalhar com tuk-tuk. Comprei um já faz um ano e meio. Cumprindo os
horários, dá para levantar um dinheiro para se manter”, diz Marques, que recebe
em torno de R$ 100 por dia com o trabalho.

Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) apontam que o número
de tuk-tuks em Sertãozinho passou de seis para 72 nos últimos cinco anos. Um
veículo novo custa em média R$ 15 mil e já há modelos disponíveis em
concessionárias da cidade.

Geralmente, o veículo é composto por moto e carroceria coberta acoplada,
onde duas pessoas podem ser transportadas sentadas. O Código de Trânsito
Brasileiro não obriga o condutor a usar capacete, mas os passageiros devem
utilizar cintos de segurança.

Quem
não tem condições de comprar um tuk-tuk zero quilômetro pode optar pela locação.
Foi assim que o caldeireiro Jucélio Ferreira Araújo voltou ao mercado de
trabalho, depois que a empresa onde estava empregado há oito anos faliu. “Nunca
imaginei trabalhar com transporte de passageiros. Mas, com o tuk-tuk, eu gostei
bastante porque é confortável, não pega sol, não tem chuva. O veículo não é
meu, é alugado. Eu não consegui adquirir um para ainda, mas, a minha intenção é
comprar”, afirma.

Araújo conta que a maioria dos
clientes é composta por idosos ou mães com crianças, que optam pelo meio de
transporte por ser mais barato que um táxi ou carro de aplicativo, e mais
seguro que o mototáxi. Uma corrida de tuk-tuk custa em média R$ 8. “Até então, essas pessoas não saíam muito. Não
passa ônibus na porta e o tuk-tuk é um serviço privativo, deixa no lugar que a
pessoa escolhe. As mães conseguem transportar bebês, às vezes até amamentando.
Por esse motivo, a adesão é grande”, diz. 

Regulamentação

O secretário de Segurança Pública de Sertãozinho, João
Batista de Camargo Júnior, explica que o aumento dos tuk-tuks levou a
administração municipal a regulamentar o serviço, em legislação aprovada em
novembro do ano passado.

A lei
determina que os motoristas tenham Carteira Nacional de Habilitação (CNH) na
categoria A pelo período mínimo de dois anos, além de curso de direção
defensiva. Os veículos devem ter placas vermelhas e passar por vistoria
semestral. “É um mercado alternativo. Virou uma febre na cidade e a Prefeitura
se preocupou com essa situação porque tem responsabilidade, se acontecer algum
acidente, alguma tragédia, a Prefeitura é responsabilizada”, afirma.

Camargo Júnior diz que a
legislação dos tuk-tuks foi elaborada com base na lei municipal que regulamenta
os mototáxis. O texto foi aprovado há 21 anos e, segundo o secretário, é
considerado pioneiro: antes dos triciclos, as motos já eram a opção mais
buscada para o transporte de passageiros em Sertãozinho. “Agora, estamos
fazendo um chamamento público para os taxistas fazerem o recadastramento na
Prefeitura. Mas, a quantidade é ínfima, não chega a dez carros. O serviço de
moto é mais barato e mais rápido, talvez seja por isso tenha se difundido tanto
na cidade”, conclui.


+ Cidades