Terapia hormonal trata 70% dos casos de câncer de mama em estágio inicial

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 9 de junho de 2018 às 01:23
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:47
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Estudo americano mostra que é possível evitar, em casos mais comuns, a ação agressiva da quimioterapia

Um estudo apresentado durante o Congresso Americano de Oncologia
Clínica (Asco) promete revolucionar a escolha do tratamento de mulheres em
estágio inicial de câncer de mama.

Realizado pelo Centro de Câncer Albert Einstein de Nova York,
concluiu que, para o tipo mais comum do tumor, nem sempre será preciso que a
paciente seja submetida à quimioterapia. O tratamento após a cirurgia seria
feito apenas pela terapia hormonal, menos agressiva e com reduzido efeito
colateral.


Coautora do estudo, a oncologista Kathy Albain diz que, com os resultados, é
possível evitar a quimioterapia em cerca de 70% das pacientes diagnosticadas
com esse tipo de tumor, desde que ele não tenha se espalhado para os gânglios
linfáticos. A estimativa dos pesquisadores é de que, só nos Estados Unidos,
cerca de 65 mil mulheres seriam afetadas pelo novo protocolo.

O presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), Sergio
Simon, calcula que, no Brasil, aproximadamente 20 mil mulheres deixariam de se
submeter à quimioterapia. “Isso representaria uma grande economia para as
fontes pagadoras do tratamento, sem falar nos benefícios para a paciente”,
comemora. Para ele, esse foi um dos grandes avanços apresentados durante a
Asco, encontro que reuniu cerca de 30 mil médicos de todo o mundo, realizado em
Chicago.


A indicação de tratamento, porém, só seria possível após a realização do
Oncotype DX, espécie de mapeamento genético que classifica o nível de
possibilidade de recidiva da doença. Hoje, esse exame, disponível no Brasil,
faz uma análise de 21 genes do tumor. A partir dessa avaliação, é criada uma
espécie de pontuação, que vai de 0 a 100.

De 1 a 10, é considerada baixa a taxa de recidiva, e o tratamento
é feito apenas com hormônio. De 25 a 100, o índice é considerado alto, e a
quimioterapia tem indicação clínica. “Havia, porém, uma área cinza, que ficava
entre o 11 e o 24, em que cabia ao médico, em conversa com a paciente, decidir
que tratamento usar, se o quimioterápico ou o endócrino”, explica Daniel
Gimenes, oncologista-clínico do Grupo Oncoclínicas, em São Paulo.


Os resultados do estudo, explica o médico, mostraram que o tratamento
quimioterápico nas pacientes que se encontravam nessa faixa intermediária é
desnecessário, bastando a terapia hormonal. “As descobertas terão um impacto
imediato na prática clínica, poupando milhares de mulheres dos efeitos
colaterais da quimioterapia, como náuseas, vômitos, perda de cabelo, fadiga e
infecção”, comenta Gimenes.

Durante os testes, em toda a população estudada com pontuação
entre 11 e 25, não houve diferença significativa entre os grupos tratados com e
sem quimioterapia. Os resultados mostram ainda que todas as mulheres com mais
de 50 anos e pontuação de 0 a 25 podem evitar a quimioterapia e seus efeitos
colaterais tóxicos. A mesma recomendação serve para aquelas com menos de 50
anos e pontuação de 0 a 15. “(O estudo) deverá ter um grande impacto entre os
médicos e pacientes. Estamos reduzindo a terapia tóxica”, ressalta Kathy Albain.

Alto Custo

Um dos obstáculos é que o Oncotype DX ainda tem um custo muito
alto no Brasil, em torno de US$ 4.500, e não é disponibilizado no Sistema Único
de Saúde (SUS). “Também nem todos os planos de saúde cobrem esse mapeamento
genético”, ressalta Simon. Disponível desde 2004, o teste é realizado em uma
amostra de tecido tumoral. O estudo também não é preciso sobre os resultados entre as pacientes jovens que
se encontram na faixa intermediária de risco de recidiva. “Não há a certeza de
que as mulheres com menos de 50 anos que estão na pontuação de 20 a 25 não
precisam de quimioterapia. Então, a decisão do tratamento tem de ser
individualizada e discutida entre médico e paciente.”

O estudo TAILORx englobou 10.273 mulheres, de 18 a 75 anos, com câncer
de mama receptor hormonal positivo, receptor HER2 negativo, o tipo mais comum
de tumor de mama. Dessas pacientes, 6.711 tinham o risco intermediário de
recidiva, de acordo com a pontuação do mapeamento genético. Elas foram
indicadas a receber a hormônio terapia isolada ou associada à quimioterapia.
Detalhes do trabalho também foram divulgados em artigo publicado no New England
Journal of Medicine. 


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