Tamanho exagerado de porções em restaurantes contribui para obesidade

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 11 de janeiro de 2019 às 11:08
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:18
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Estudo mostra que prato feito chega a ser 33% mais calórico que um lanche de fast food

O tamanho das porções de
comida servidas em restaurantes populares contribui para o aumento da
obesidade. A conclusão é de um estudo que pesou e mediu o valor calórico de uma
refeição completa, em cinco países: Brasil, China, Finlândia, Gana e Índia.

Excetuando a refeição
chinesa, o volume calórico por prato feito (PF), como se diz no Brasil, chega a
ser, em média, 33% maior do que a de um lanche de fast food
(comida rápida).

O consumo das porções servidas em
restaurante populares fornece entre 70% e 120% das necessidades calóricas
diárias para uma mulher sedentária, cerca de 2 mil quilocalorias (kcal). “Os
profissionais da área da saúde que lidam com pessoas obesas estão muito
preocupados em orientar a população para não comer fast food, mas, na
hora que vai ver a refeição completa, ela também está exagerada”, afirma a
pesquisadora brasileira Vivian Suen, do Departamento de Clínica Médica da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).

O trabalho, coordenado pela Tufts University e com o apoio da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi publicado no British
Medical Journal
.

Na média, os fast foods
ofereciam refeições com 809 calorias, enquanto as servidas à la carte (que
constam do cardápio), 1.317 kcal. A pesquisadora alerta que o resultado não
indica que o fast food é uma refeição mais saudável, pois não foi analisado
cada nutriente, mas chama a atenção para o PF, que poderia ser uma refeição
equilibrada e que, na verdade, está contribuindo para o ganho de peso.

Além da quantidade
de comida oferecida pelos restaurantes em uma única refeição, também foram
percebidos preparos que fazem aumentar o ganho calórico.

Vivian cita como
exemplo o arroz, que comumente está brilhante, indicando cozimento com excesso
de óleo. “O estudo não focou na qualidade, mas podemos dizer que tanto no
aspecto quantitativo quanto no qualitativo, essa alimentação não é saudável.
Precisa prestar atenção nesse prato feito, que é uma refeição completa, mas que
não está sendo saudável”, alertou.

Os dados mostram que
94% os pratos à la carte e
72% dos servidos em fast foods
continham mais de 600 kcal, mais que o consumo energético por refeição
recomendado pelo Sistema de Saúde Pública da Inglaterra (NHS).

O estudo mediu as calorias de 223 amostras de pratos populares e
de 111 refeições escolhidas aleatoriamente à la carte e de fast foods de restaurantes de Ribeirão Preto (Brasil),
Pequim (China), Kuopio (Finlândia), Acra (Gana) e Bangalore (Índia). Eram
considerados restaurantes que ficam a um raio 25 qiuilômetros de cada centros
de pesquisa.

Conforme as medições, o tradicional PF brasileiro, com arroz, feijão, frango,
mandioca, salada e pão, tem 841 gramas e 1.656 kcal. O clássico ganês fufu, com carne de
bode e sopa, tem 1.105 gramas e 1.151 kcal. O típico prato indiano biryani de carneiro
tem 1.012 gramas e 1.463 kcal.

Organismo resiste

A obesidade é considerada uma epidemia global pela OMS.
Estima-se que 1,9 bilhão de adultos tenham sobrepeso, dos quais 600 milhões
estão obesos. “Diabetes, colesterol aumentado, aumento do triglicerídeos,
pressão alta, tudo isso que a gente sabe que acompanha a obesidade quando ela
se torna uma doença crônica”, destaca Vivian.

A pesquisadora explica que as porções exageradas têm efeito no
chamado mecanismo compensatório. “São pessoas que não conseguem compensar numa
refeição seguinte o que ela comeu antes. O organismo do obeso desenvolve
defesas contra perda de peso.”  Segundo Vivian, a pessoa obesa
perderia a percepção para regular a quantidade de comida necessária para a
refeição subsequente.

Outro problema é que o organismo de pessoas obesas cria
resistência à perda de peso. De acordo com a pesquisadora, que há casos
descritos na literatura médica em que, à medida que se reduz a ingestão
calórica, a pessoa em tratamento começa a gastar menos calorias. “Parece que o
organismo, a partir de certo peso, tenta manter o peso que tinha antes. Ninguém
sabe explicar ainda como é que isso realmente funciona.”

Vivian diz que o melhor é prevenir o ganho de peso. “Se você vai
a um desses restaurantes em que a porção é excessiva, divida. Não coma tudo. E
tente, dentro daquilo que existe disponível, escolher as opções mais saudáveis.
Depois que a pessoa ganha peso é muito difícil perder”, recomenda a
pesquisadora, que aconselha ainda mudanças no ato de comer, como mastigar
devagar e dar mordidas menores na comida.


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