SUS vai disponibilizar insulinas de última geração para pacientes

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 2 de dezembro de 2018 às 22:34
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:12
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Brasileiros com diabetes tipo 1 terão acesso à versão ultrarrápida com canetas aplicadoras

Pela primeira vez na história do
país, uma insulina análoga humana de altíssima tecnologia e fabricada
totalmente no Brasil será fornecida a pessoas com diabetes por meio do Sistema
Único de Saúde. O medicamento, da farmacêutica Novo Nordisk, é o hormônio de
ação ultrarrápida e, na rede pública, será destinado a pacientes com o tipo 1
da doença que preencham alguns critérios médicos. Ele já vem embutido em uma
caneta para aplicação, dispensando frascos e seringas.

Estima-se que 400 mil brasileiros
de todas as regiões serão beneficiados com a distribuição pelo SUS.

A insulina é feita na fábrica da
Novo Nordisk, companhia de origem dinamarquesa, em Montes Claros, no norte de
Minas Gerais. A unidade produz nada menos do que 15% de toda a insulina usada
no planeta. Os lotes que saem de lá ainda correspondem a um quarto dos fármacos
exportados pelo Brasil.

De acordo com Allan Finkel,
vice-presidente e gerente-geral do laboratório no país, a medicação que chega
ao SUS é de uso mais simples, seguro e efetivo que as insulinas rápidas
regulares, o que favorece a adesão do paciente. “É um avanço que reflete o
compromisso da companhia em ajudar a reverter o cenário de que sete em cada dez
diabéticos não alcançam o resultado esperado do tratamento”, declara.

Em geral, pessoas com diabetes
tipo 1 — versão da doença marcada pela agressão do sistema imune ao
pâncreas, o que acaba com a produção de insulina pelo organismo — precisam usar
dois tipos de insulina: a basal, de lenta duração, e a rápida ou ultrarrápida.
A basal é aplicada logo pela manhã e seu efeito se estende ao longo de todo o
dia (há versões cuja duração é ainda maior). Já as rápidas e ultrarrápidas são
indicadas para os momentos que antecedem as refeições.

Enquanto a rápida demora cerca de
meia hora para fazer efeito e atua por entre cinco e oito horas, a ultrarrápida
age entre dez e vinte minutos e tem duração de três a cinco horas. “Ela simula
melhor a ação da insulina produzida pelo nosso corpo”, observa o
endocrinologista Rodrigo Mendes, gerente médico da Novo Nordisk.

É a partir dessa característica
que vêm à tona as vantagens da medicação ultrarrápida, conhecida como asparte.
“Estamos falando de uma insulina que gera menos hipoglicemias, as quedas
bruscas de açúcar no sangue, propicia menos ganho de peso e favorece a adesão
ao tratamento diário”, analisa o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri,
pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo.

Fazendo as aplicações como manda o
figurino, o diabético ganha qualidade de vida e menor risco de enfrentar as
complicações da doença, como problemas cardiovasculares, perda de visão,
falência renal, amputação de membros…

A caneta pré-preenchida com o
hormônio, pronta para uso, é outro destaque. “Ela dá mais flexibilidade para o
paciente, evita inexatidões com a dose, resiste mais ao calor, o que facilita
transporte e manuseio, oferece menos dor no local da aplicação e menor risco de
ferimentos”, lista Mendes. “Também faz um clique quando utilizada para guiar
pacientes que já tenham algum déficit visual”, completa.

Um estudo conduzido na Irlanda
mostra que 95% dos diabéticos do tipo 1 preferem a caneta no dia a dia, em
detrimento do modelo mais antigo e sujeito a falhas, dependente de frascos e
seringas.

Existem alguns critérios para o
paciente receber a insulina asparte pelo sistema público em unidades
especializadas de atendimento. Em primeiro lugar, deve ter o tipo 1 da doença e
ser acompanhado periodicamente por um médico. Em segundo, já deve ter tentado,
sem sucesso, o tratamento com a insulina rápida (ou regular) por pelo menos
três meses, monitorando a glicemia com um aparelhinho, o glicosímetro, pelo
menos três vezes ao dia.

Outro critério é a ocorrência, em
um período de três meses, de episódios frequentes ou graves de hipoglicemia,
inclusive noturnas.

A mesma medicação também está
disponível na rede privada, ficando a cargo do médico elegê-la ou não para
diabéticos do tipo 1 ou mesmo pessoas com o tipo 2 que dependem da
insulinização. “No mundo ideal, todo paciente com diabetes tipo 1 deveria ter
acesso à versão ultrarrápida, já que ela mimetiza melhor o processo que
acontece naturalmente no organismo”, opina Couri.

Calcula-se que entre 5 e 10% das
pessoas com diabetes — um universo de 12,5 milhões de cidadãos no
Brasil — tenham o tipo 1 da doença.


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