Sarampo: doença pode matar e voltou a assustar no Brasil – entenda

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 8 de julho de 2019 às 16:44
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:39
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Causada por um vírus e altamente contagiosa, sarampo foi erradicado em 2016 mas voltou com força em 2018

Apesar de
existir uma vacina segura e barata contra a doença, o sarampo ainda causa mais
de 100 mil mortes por ano no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS). No Brasil, a doença havia sido completamente erradicada em 2016, mas
voltou com força em 2018 graças à diminuição da cobertura de vacinação.

Em 2018, foram
mais de 10 mil casos de sarampo confirmados no país todo, de acordo com o
Ministério da Saúde. E neste ano, até 05 de junho, o Brasil registrou 123
casos.

Quem é vacinado
está imunizado e não corre o risco de contrair a doença. “Basta não estar
imunizado e você tem risco de se contaminar”, afirma a médica Lessandra
Michelin, coordenadora do Comitê de Imunização da Sociedade Brasileira de
Infectologia.

Mas
há um grupo grande de pessoas que não pode receber a vacina por causa de
eventuais riscos à saúde. Entre eles, crianças menores de um ano, pessoas com o
sistema imunológico comprometido, grávidas e idosos que não foram vacinados
antes e pessoas com alguns tipos de alergia.

Segundo
a Organização Pan Americana de Saúde (Opas), os sintomas mais comuns são tosse
persistente, febre, corrimento no nariz, irritação nos olhos e mal-estar
extremo. Logo depois do surgimento desses sintomas iniciais, também costumam
aparecer manchas avermelhadas na pele do rosto, que progridem para as pernas, e
manchas brancas dentro da bochecha.

Também
podem ocorrer febre, conjuntivite, convulsões e perda do apetite. “Doenças respiratórias, como resfriados, não tem como sintomas
irritação nos olhos e manchas na pele e na boca. Então a presença desses
sintomas, em conjunto com a tosse, a coriza ou a febre deve ser um sinal de
alerta”, explica Michelin.

Nesse caso, diz
a infectologista, é extremamente importante procurar um médico.

Casos graves de
sarampo sem tratamento podem ter consequências que afetam a pessoa para o resto
da vida – desde cegueira e perda auditiva a danos cerebrais permanentes, diz a
Opas.

O sarampo ainda
é uma grande causa de mortalidade infantil em muitos países de baixa renda, apesar
de se acreditar que a vacina evitou mais de 20 milhões de mortes entre 2000 e
2017

Sintomas

– Tosse
persistente

– Corrimento no
nariz

– Irritação nos
olhos

– Mal-estar

– Febre

– Conjuntivite

– Convulsões

– Perda do
apetite

– Manchas
avermelhadas na pele do rosto

– Manchas
brancas dentro da bochecha

Embora a doença
não tenha um tratamento específico – como antivirais que combatam
especificamente vírus do sarampo – o acompanhamento médico, a ingestão de
líquidos e o controle da febre são importantes para evitar complicações.

Entre essas
complicações podem estar meningite e pneumonia, por isso o acompanhamento
médico para monitorar o avanço da doença é importante, explica Michelin.

Calendário de vacinação

Para evitar a
doença, é importante seguir o calendário de vacinação em crianças
disponibilizado pelo Ministério da Saúde.

A vacina contra
sarampo faz parte da tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), cuja
primeira dose deve ser tomada aos 12 meses de idade. A segunda dose deve ser
tomada entre os 12 e 19 anos. Aos 15 meses, deve ser tomada a vacina tetra
viral (contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela), em dose única. As vacinas
estão disponíveis de graça no Sistema Único de Saúde (SUS).

Se você não
sabe se já tomou a vacina porque não tem o registro de sua vacinação na
infância, deve se vacinar mesmo assim – uma dose adicional não gera nenhum tipo
de risco para a saúde, explica Michelin.

A vacina é
contraindicada para mulheres grávidas, pessoas que receberam transplante ou que
estejam com o sistema imunológico deprimido. Pessoas acima de 60 anos devem
consultar um médico.

Pessoas que
sofrem de alergias devem procurar um médico ou serviço de saúde para saber se
podem ou não tomar a vacina. “A maioria das alergias – a antibióticos,
certos tipos de comida – não tem nada a ver com a vacina”, diz Michelin. 

Porque a cobertura de vacinação
caiu?

A partir dos anos 1980, quando a vacina contra sarampo se
tornou amplamente usada, o número de casos caiu significativamente no mundo –
alguns países conseguiram até erradicá-lo. O Brasil ganhou o certificado em
2016, para perdê-lo dois anos depois.

Nos anos 1970,
havia cerca de 2,6 milhões de morte por sarampo no mundo a cada ano.

Nos últimos
anos, a doença tem voltado a se espalhar pelo mundo, sem chegar, no entanto,
aos níveis históricos. Houve um aumento de 31% nos casos em 2017 na comparação
com o ano anterior, levando a cerca de 110 mil mortes no mundo todo.

De acordo com o
Unicef (braço da ONU para a infância), 98 países registraram um aumento de
casos de sarampo em 2018, com quase três quartos disso ocorrendo em 10 países.

Os novos surtos
de sarampo ocorrem em locais onde a cobertura da vacinação tem caído, ou seja,
onde não houve o chamado efeito de “imunização de rebanho”, em que o
alto número de vacinados impede que a doença alcance os não vacinados.

Os motivos da
queda na vacinação variam muito de um lugar para o outro.

O movimento
antivacinação influenciou muitas pessoas em partes dos Estados Unidos e da
Europa. Apesar de abundantes evidências científicas a favor da vacinação, os
chamados antivaxxers acreditam que vacinas são desnecessárias ou prejudiciais.

No
Brasil e em países em desenvolvimento, esse movimento ainda é muito pequeno e
tudo indica que a diminuição da cobertura de vacinação resultou de uma
conjunção de fatores.

Segundo o
Unicef, não há evidências suficientes para apontar um único culpado, mas as
hipóteses apontam para o desfinanciamento do SUS – por causa da PEC do Teto dos
Gastos -, que gerou uma diminuição nas campanhas de conscientização e diminui a
disponibilidade de vacinas em algumas regiões.

“Pode ter
a ver também com mudanças sociais, culturais e econômicas no mundo, como as
dificuldades das famílias em imunizarem as crianças em horário comercial”,
disse a chefe da área de Saúde e HIV do Unicef no Brasil, Cristina Albuquerque,
à BBC News em fevereiro.


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