Sapato chinês invade País e prejudica fábricas de Nova Serrana (MG) e Franca

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 9 de setembro de 2016 às 06:57
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 17:56
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Principal polo calçadista de Minas, formado por 12 cidades próximas a Nova Serrana sente efeitos

O par de sapato chinês que o presidente Michel Temer (PMDB) comprou na China representa uma verdadeira praga para o mercado, e, consequentemente, para parte da economia de Franca e Nova Serrana, em Minas Gerais, apenas para citar dois polos calçadistas masculinos, importantes, assim como Birigui, Jaú e Novo Hamburgo (RS).

A exemplo de Franca, o principal polo calçadista de Minas, formado por 12 cidades sendo Nova Serrana o destaque, tem sentido os efeitos da redução do consumo interno e da invasão de importados. 

Desde outubro de 2015, já foram fechadas 50 empresas com a demissão de quase mil pessoas. 

Entre janeiro e agosto, a produção reduziu cerca de 15% frente ao mesmo período do ano anterior, segundo dados do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Calçados de Nova Serrana (Sindinova).

No último sábado, a foto do presidente experimentando o calçado na China ganhou a internet e motivou até nota da Associação Brasileira das Indústrias de Calçado. 

Para se ter uma ideia do tamanho do baque no polo de Nova Serrana, entre outubro de 2014 e outubro de 2015, quando a economia do país já apresentava um mau desempenho, apenas cinco empresas do polo faliram. 

O número é dez vezes menor do que o apresentado neste ano. A queda na produção no exercício passado também foi um pouco menor do que a apresentada agora. Na época, a baixa foi de 5%.

“O que mais pesou para o polo foi a queda do mercado de um modo geral. O lojista não comprava porque o consumidor não demandava”, afirma o presidente do Sindinova, Pedro Gomes. 

Agravou e muito a situação a dificuldade de competir com produtos estrangeiros. No ramo dos calçados esportivos, as marcas consolidadas no mercado mundial têm reduzido os preços dos tênis. 

Tendência que os empresários brasileiros não têm conseguido acompanhar por causa da alta dos custos. Os calçados chineses, por exemplo, têm preços abaixo dos praticados no mercado nacional.

Reinvenção

A Lynd Calçados é uma das empresas afetadas pela crise. No ano passado, ela amargou uma queda de 8% na produção frente a 2014. “A g[/TEXTO]ente crescia uma média de 10% a 15% ao ano. Desde que abrimos a empresa, em 1998, esse foi o pior resultado”, afirma o proprietário, Ronaldo Lacerda. 

Para melhorar o quadro, ele ampliou o mix de produtos em 50%, com a criação de diferentes tipos de tênis. A mudança demandou aumento no número de funcionários e elevou os custos de produção. 

Mas, até o momento, eles não conseguiram superar o desempenho de 2015.

Para tentar um melhor desempenho, o proprietário da Cromic, Júnior César Silva, mudou toda a linha de produção. Deixou de fazer sapatos esportivos e masculinos e partiu para a linha de calçados femininos. O resultado foi uma alta de 8% na produção do primeiro semestre comparado com 2015.

Projeto de lei pode render benefícios para tentar retirar as fábricas do fundo do poço

Apesar de o Arranjo Produtivo Local (APL) de calçados mineiro já existir fisicamente, ele poderá ser oficializado. Tramita na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o Projeto de Lei 3.286/2016 que institui o polo com doze cidades. 

Entram nessa lista as cidades Perdigão, Araújos, São Gonçalo do Pará, Bom Despacho, Conceição do Pará, Divinópolis, Igaratinga, Leandro Ferreira, Nova Serrana, Onça do Pitangui, Pará de Minas, Pitangui. 

O projeto já foi aprovado na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) e agora aguarda parecer da Comissão de Desenvolvimento Econômico. O texto precisa passar duas vezes pela apreciação em plenário.

“O que pretendemos com a criação do polo calçadista de Nova Serrana é o fortalecimento de toda a cadeia produtiva do setor, o crescimento da economia e consequentemente a geração de emprego e renda na região, que conta com esse potencial em desenvolvimento”, afirma o autor do projeto, deputado Fábio Avelar (PTdoB). 

Ele explica que o diferencial de se oficializar o polo é a possibilidade de ganhos como, por exemplo, benefícios fiscais e incentivos por meio de facilitações para a tomada de crédito.

No projeto inclusive é citada a obrigação do poder público de destinar recursos específicos para o desenvolvimento e a pesquisa de novas técnicas para o aprimoramento das fábricas locais, o tratamento tributário diferenciado e a criação de linhas de crédito especiais para subsidiar a produção.

A expectativa é a de que a análise da Comissão de Desenvolvimento Econômico seja concluída nas próximas semanas. Se tudo seguir o ritmo esperado pelo parlamentar, o projeto poderá ser aprovado ainda neste ano.

Para o presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Calçados de Nova Serrana (Sindinova), Pedro Gomes, é preciso primeiro a aprovação do projeto para que os empresários possam ver na prática os possíveis ganhos que ele pode trazer. “Porque se for para nos chamar de polo apenas, isso nós já somos”, pondera.

ARTE

(com reportagem de Tatiana Lagoa – Hoje em Dia)


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