Saiba por que os oxímetros viraram o novo desejo de consumo da pandemia

  • Entre linhas
  • Publicado em 2 de maio de 2020 às 18:40
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:40
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Aparelho que mede oxigênio no sangue virou desejo de consumo de grande parte das pessoas

No mundo inteiro, outra corrida às lojas e websites começou nas últimas semanas. A bola da vez agora são os oxímetros: um aparelhinho médico que mede a saturação de oxigênio nos glóbulos vermelhos do sangue.

Muitos pacientes com casos graves de Covid-19 demonstraram ter níveis extremamente baixos de oxigênio no sangue. Por isso as pessoas concluíram que é bom ter um oxímetro em casa, na tentativa de detectar a doença.

Com isso, a procura pelo produto mais que dobrou da semana passada para cá. Na maioria das lojas de equipamentos médicos, farmácias e sites já está em falta. O preço, que antes variava de R$ 60 a R$ 70, agora pulou para pelo menos R$ 150.

“Tivemos um crescimento de vendas de mais de 100% em relação ao mesmo período de 2019”, diz Pedro Henrique, gerente de marketing e produtos da Accumed-Glicomed, empresa detentora da marca G-Tech, uma das mais conhecidas de oxímetros.

Nos websites, os produtos estão em falta. Pudera, a busca foi gigantesca: desde o início do Google Trends (a ferramenta que analisa a popularidade das buscas, inaugurado em 2004), nunca a palavra oxímetro foi tão buscada quanto em março de 2020. 

ntre 31 de março e 27 de abril houve um aumento de 9.900% – quase 200 vezes mais – nas pesquisas por oxímetro.

As lojas físicas de equipamentos médicos – que podem abrir, conforme as regras da quarentena no Estado de São Paulo – têm estoques baixíssimos do produt. 

“Tinha duas unidades em estoque quando resolvi pedir mais 20 há uma semana. Vendi todos os 20 em menos de três dias”, diz Aparecido Sidney Nicola, da loja de equipamentos médicos Cirúrgica Med+, em Santa Cecilia, no centro de São Paulo.

E por que o preço subiu?

O oxímetro é importado. Geralmente, vem da China e, por isso, sofre as variações da cotação do dólar, diz Pedro Henrique, da Accumed-Glicomed. 

Além disso, para garantir que não falte oxímetros no mercado, as importações agora estão sendo feitas por avião, em vez de navio.

“O transporte aéreo está adicionando aproximadamente 30% de custo em relação ao modal marítimo. E ainda estamos enfrentando grande aumento de custo, oriundo da grande desvalorização recente do real. Por estas razões, o preço de venda está mais elevado do que no início do ano.”

E como funciona um oxímetro?

Geralmente, os aparelhos parecem um prendedor de roupa. A pessoa prende o dedo dentro dele e o equipamento funciona iluminando a pele, que é analisada para determinar a quantidade de oxigênio transportada no sangue.

O índice normal de saturação de oxigênio no sangue é acima de 90% a 92%. Mas cai em pacientes graves da covid-19.

Posso usar um app de celular?

Existem relógios inteligentes (smartwatches) que funcionam com celulares que medem a saturação. Um deles é o Samsung Galaxy Watch Active 2, que custa mais de R$ 1.500. 

Alguns usuários de celular estão usando aplicativos de smartphones, que usam a câmera do aparelho para fazer a leitura. 

Mas, segundo especialistas, o smartphone não é uma boa alternativa para isso, uma vez que não medem com precisão o nível de oxigênio no sangue.

Então vale a pena comprar um?

As pessoas acreditam que medir a saturação de oxigênio no sangue com o uso de um oxímetro pode detectar precocemente casos de pneumonia provocada por coronavírus.

Mas, de acordo com os médicos, isso não é completamente verdade. “A saturação de oxigênio só cai na terceira semana de infecção”, diz a neurologista Cleise Pereira de Castro Prôa, de São Paulo.

“Na primeira semana, a pessoa não sente nada. Na segunda, começa a febre, a tosse seca persistente, o mal estar, a falta de sensibilidade para gostos e cheiro. Só na terceira semana é que a saturação cai. Então o oxímetro não dá um diagnóstico precoce. Por isso, não vejo utilidade em ter um deles em casa. O melhor mesmo é procurar ajuda médica na segunda semana, com a tosse persistente, que vem para a grande maioria dos casos, mesmo que outros sintomas não apareçam.” Nesse caso, vale ligar para o atendimento telefônico do Sistema Único de Saúde (SUS), o 136, ou recorre ao site https://missaocovid.com.br.  “Vale lembrar que o problema não tem sido o diagnóstico precoce, ou não. Mas a falta de atendimento por colapso do sistema de saúde.”

A SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia) divulgou nota em que condena a busca por oxímetros. “A SBPT não recomenda o uso irrestrito de oxímetro domiciliar para monitorização da saturação de oxigênio durante a pandemia”, divulgou a entidade. 

“Como não há estudos científicos sobre a referida monitorização em pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado de covid-19, sugerimos que a decisão sobre usar ou não usar monitoração por oximetria domiciliar fique a cargo do médico que assiste o doente. Não existe indicação do uso de oxímetro domiciliar em indivíduos sem doenças pulmonares crônicas ou como método de diagnóstico precoce da covid-19”.

Por que, então, todos querem um oxímetro?

Num cenário de incertezas, como o que estamos vivendo, todos querem ter um porto seguro, diz Flávia Ávila, especialista em economia comportamental e fundadora da consultoria InBehavior Lab. 

“As pessoas querem ter controle sobre algo nessa situação incerta. E, ao medir a saturação, mesmo que medicamente isso não seja útil, elas conseguem um feedback positivo: ‘ufa, deu tudo certo agora, está tudo bem’”, explica  Flávia. “Elas querem ter esse quentinho no coração.”

*6Minutos


+ Saúde