Ribeirão terá a primeira unidade de medicina translacional de SP

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 20 de março de 2018 às 01:23
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:37
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Estrutura está em obras na USP e vai agilizar validação de pesquisas para doenças como leishmaniose

A Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) planeja inaugurar, ainda no primeiro semestre deste ano, sua primeira
unidade de medicina translacional do Estado, no campus da USP, em Ribeirão
Preto .

Com um investimento inicial de R$ 7 milhões, a instalação
terá como principal mote a aproximação das descobertas científicas do
laboratório com as pesquisas clínicas em pacientes, reduzindo o tempo de
validação de medicamentos e soluções, em um primeiro momento voltados para
doenças como leishmaniose e câncer.

Em
um mesmo ambiente de inovação, profissionais da Fiocruz, da USP, além de
empreendedores ligados a startups do setor de saúde poderão atuar de maneira
menos fragmentada do que a convencional.

É o que Marco Krieger,
vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, chama de sinergia.
“É mais do que complementar. A gente não está só somando competências
individuais, a gente está obtendo um resultado que é maior do que a própria
soma desses individuais”, diz.

A unidade de medicina translacional, que poderia ser
definida como aquela que acelera a aplicação e a transmissão do conhecimento
gerado em laboratório, será possível graças a um acordo de cooperação assinado
com o Estado, que também prevê atividades voltadas para o desenvolvimento de
exames para doenças como dengue, febre amarela, zika vírus e chikungunya.

Após 16 anos de discussões, esta será a primeira sede da Fiocruz em são
Paulo.

Unidade de pesquisa translacional

Dos R$ 7 milhões, R$ 3 milhões são destinados à reforma de um prédio da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) que deve ser concluída em abril
para posterior colocação de mobiliário e equipamentos, segundo Krieger. Nela
atuarão pesquisadores especializados em imunologia e bioquímica da Fiocruz,
entre eles Rodrigo Stabile, Ricardo Gazzinelli e João Santana. “É a
primeira vez que estamos investindo num ambiente onde a pesquisa clínica vai
coexistir com a pesquisa básica. Nesse sentido é uma inovação, é uma atividade
inédita.”

Outros R$ 4 milhões serão utilizados para a manutenção das atividades no
laboratório por ao menos quatro anos. Demais recursos devem ser obtidos por
meio de subvenções do Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp).

Um deles, de acordo com Krieger, prevê um aporte de R$ 10 milhões no
desenvolvimento de soluções contra doenças infectocontagiosas e crônico
degenerativas.

Um dos primeiros trabalhos previstos é a concepção de nanobodies, versões reduzidas dos anticorpos
encontrados no nosso organismo que serão capazes de identificar a camuflagem
das células cancerígenas, o que facilitará sua eliminação. “A célula de
câncer acaba sendo na maioria dos casos reconhecida pelo sistema imunológico
como uma célula própria. Existem algumas moléculas envolvidas nesse
conhecimento. A ideia inicial é trabalhar com moléculas que vão impedir que
moléculas de câncer utilizem essa maneira de se camuflar como se fossem células
normais do sistema imunológico.”

Graças ao modelo de pesquisa
translacional, depois de testes pré-clínicos no laboratório, a solução segue
diretamente para os exames clínicos no Hospital das Clínicas da FMRP,
essenciais para a validação de qualquer terapia. Em uma aplicação mais ampla,
esse diálogo permitirá uma inclusão cada vez maior de professores e alunos da
universidade nesse processo. “Os estudos normalmente têm várias fases.
Obrigatoriamente, com a evolução satisfatória dos resultados, você tem que
partir para estudos multicêntricos em diferentes condições, mas os estudos
iniciais seriam feitos no HC de Ribeirao Preto”, afirma Krieger.

Segundo o vice-presidente de
Produção e Inovação da Fiocruz, a entidade ligada ao Ministério da Saúde
atualmente conta no país com unidades de referência na pesquisa, como o
Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará, e na produção de vacinas e
medicamentos, mas nenhuma delas promove uma sinergia tão direta entre
laboratório e universidade. “Se você tem as coisas acontecendo em
ambientes diferentes, você precisa finalizar uma etapa para daí levar essa
prova de conceito para outro grupo que vai iniciar outra etapa. A gente está
falando de uma pesquisa básica, pré-clínica, e uma pesquisa clínica. A vantagem
de ter pessoas no mesmo ambiente potencializa que esse tempo seja encurtado em
alguns anos porque as equipes já estarão dialogando sobre os resultados e os
protocolos em uma fase inicial.”


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