Responsabilidade das compras em 96% dos lares é das mulheres

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 24 de março de 2019 às 11:07
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:27
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Mulheres adaptam gastos nos lares para reagirem às dificuldades econômicas com trocas inteligentes

Segundo um levantamento
feito pela Nielsen — empresa global de análise de consumo — as mulheres são
responsáveis pelas compras em 96% dos lares brasileiros.

Mesmo chefiando apenas
37% deles, coube a elas, portanto, reagir à crise. Para tal, ainda de acordo
com a pesquisa, elas diminuíram o lazer fora de casa e as compras de roupas,
trocaram marcas por outras mais baratas e reduziram o uso de gás e energia
elétrica.

Há uma cultura de
organização doméstica há muitos séculos mais voltada para as mulheres, que
naturaliza uma divisão entre gêneros. Assim, existe uma percepção de que as
mulheres tipicamente conseguem distribuir melhor o orçamento para que chegue a
todos os componentes da família. 

Essa solidariedade intrafamiliar faz com que
sejam elas a receber, por exemplo, os benefícios dos programas de transferência
de renda, em geral. Mas é um trabalho invisível e estressante — explica a
professora de Economia, Vivian Almeida. O trabalho prova uma capacidade pouco
reconhecida nas mulheres: a gestão econômica. “É
interessante perceber que a economia produtiva, como o mercado de trabalho
formal, só existe porque tem alguém segurando essa economia que não é visível:
em geral, as mulheres”, acrescenta ela.

Na
casa da advogada Daniely Moreira, a função de lidar com as finanças nem sempre
foi dela, mas hoje é. Aos 35 anos, ela mora com o marido, Ricardo Domingues,
analista de Tecnologia da Informação, de 37, e divide o pagamento das contas. A
mãe dela, que mora há quatro anos com o casal, paga suas despesas pessoais com
a aposentadoria. “Meu marido já foi responsável pela nossa vida financeira, mas
não se deu bem, e eu assumi a responsabilidade. Faço a lista de compras,
pesquiso preços e vou comprar. Desde o início da crise, restringi lazer a datas
comemorativas, deixei de consumir alguns itens de mercado e troquei outros por
marcas mais baratas”, diz ela.

Organize
as despesas

Dentre
os gastos que mais consomem o orçamento da mulher brasileira, estão os básicos
(67%), que são divididos em bens de consumo de maior rotatividade (21,2%),
despesas do lar (11,7%), serviços de comunicação (11%), transporte (8,7%),
saúde (8,2%) e educação (7,3%). Além disso, elas chegam a gastar cerca de 50%
mais em itens como cuidados com as crianças (1,2%) do que os homens.

É a
terceira colocação no ranking de gastos que chama mais a atenção da educadora
financeira Miriam Médici. “Isso não pesava tanto dentro do orçamento doméstico
em outros tempos. Comunicação e tecnologia viraram necessidades básicas, mas é
preciso ter cuidado para que não representem um peso maior no bolso do que
produtos de primeira necessidade”, diz.

Para isso, a dica é fazer justamente
o que sugere a pesquisa: categorizar os gastos da família para diagnosticar os
destinos do dinheiro.

A administradora de empresas Regina
Pellizzetti Fejgiel, de 55 anos, faz isso. “Organizo
as finanças daqui de casa e da nossa empresa familiar em planilhas, para não
misturá-las. Anoto os gastos fixos, como contas de energia e água, e as
despesas que aparecem no dia a dia, como os pedidos em aplicativos de
transportes. Me faz ver o quanto gastei em cada coisa ao fim do mês e permite
gerenciar o fluxo de caixa melhor”, conta ela.

A
educadora financeira, Miriam, acrescenta exemplos do que pode ser verificado. “Às
vezes, o marketing de empresas e o pagamento automático de contas não deixam o
consumidor perceber que um serviço contratado nem é usado: um ponto de
televisão pago, grande parcela do pacote pós-pago do celular… Dentro do
orçamento, sempre há de 20% a 30% de gastos que a família pode enxugar se
prestar atenção a seu dia a dia e evitar desperdícios”.

Outra
dica clássica para ter o controle dos gastos é fazer uma lista antes de sair às
compras. O método, de acordo com a pesquisa da Nielsen, é utilizado por 50% das
mulheres, ainda que 47% das entrevistadas também compre mais do que o previsto
quando estão em uma loja ou um mercado.


+ Economia