Estudo mostra que casos de AVC aumentam com quedas de temperatura

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 20 de junho de 2018 às 00:17
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:49
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Aumento no número de mortes por AVC entre pessoas com mais de 65 anos cresce com o frio

As quedas de
temperatura foram associadas ao aumento no número de mortes por acidente
vascular cerebral (AVC), principalmente entre a população com mais de 65 anos.
Entre os idosos, a incidência de AVC associado a quedas na temperatura média é
maior entre as mulheres.

A conclusão é de um estudo que envolveu dados de
mortalidade e de estações meteorológicas de 2002 a 2011 na cidade de São
Paulo, realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da
Universidade Católica de Santos (Unisantos), com apoio da Fundação de Amparo à
Pesquisa do estado de SP (Fapesp).

Quando os dados do Programa de Aprimoramento das Informações de
Mortalidade no Município de São Paulo (PRO-AIM) e da Estação Meteorológica do
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP foram
confrontados, houve a descoberta de que o risco relativo para a ocorrência de
AVC (isquêmico e hemorrágico) era maior quando a temperatura média era
menor, abaixo dos 15°C.

Acima dos 65 anos,
as temperaturas médias mais baixas representaram maior risco de AVC hemorrágico
para as mulheres, um resultado que surpreendeu os pesquisadores. “No início do
estudo, achávamos que quando houvesse uma variabilidade acentuada de
temperaturas, tanto para o frio quanto para o calor, os resultados seriam
semelhantes para os dois subtipos de AVC. Ou seja, nos dias de muito frio ou de
muito calor haveria mais mortes de ambos os subtipos. Não foi o que ocorreu. No
caso do AVC hemorrágico, o frio é um fator muito mais importante, especialmente
entre as mulheres”, disse a geógrafa Priscilla Venâncio Ikefuti à Agência
Fapesp. Ela foi professora da Universidade Federal da Fronteira Sul e trabalha
na Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, no Centro de Vigilância
Epidemiológica (CVE).

Uma explicação para
o fato de o AVC ser mais comum entre os idosos é a diminuição do metabolismo na
terceira idade.

Os idosos têm menor
capacidade de manter a homeostase – regulação do metabolismo para manter
constantes as condições fisiológicas necessárias à vida – diante de mudanças
nas temperaturas. “Verificamos também que, para todos os casos de AVC, e para o
AVC hemorrágico em particular, o sexo mais vulnerável é o feminino. Os dados
mostram que as mulheres têm, mesmo que ligeiramente, mais alta mortalidade
média por AVC. O risco relativo do acidente, calculado para as variações da
temperatura média, também foi maior entre mulheres do que em homens. De forma
similar, as temperaturas médias mais baixas causaram maior impacto em mulheres,
em ambos os subtipos de AVC”, disse Ikefuti. 

Segundo ela, o
estresse pelo frio resulta em elevação da pressão arterial, aumento na
viscosidade do sangue e na contagem de plaquetas, o que eleva a pressão
arterial podendo causar um AVC hemorrágico.

Os pesquisadores destacam que uma questão importante para
explicar o maior risco de AVC entre as mulheres está na menopausa, quando o
corpo diminui a produção do hormônio estrogênio, o que a deixa sujeita a um
maior risco de doenças vasculares. “Nosso estudo contribui para a compreensão
do impacto da temperatura sobre a mortalidade por AVC em um país tropical, onde
a temperatura não seria, supostamente, um fator de preocupação para risco de
AVC. O trabalho comprovou que, pelo menos na cidade de São Paulo, este não é o
caso”, disse o médico Alfésio Luís Ferreira Braga, professor da Unisantos e
coautor da pesquisa.


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