Quase 40% das crianças com menos de 2 anos já têm um aparelho digital

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 7 de julho de 2018 às 14:53
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:51
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Pesquisa revela que a relação das crianças com a tecnologia vem se modificando com o passar do tempo

A tecnologia digital e
a internet fazem parte do nosso dia a dia e da rotina das crianças, é fato. E
tudo indica que esse é um caminho sem volta. O que muda constantemente é a
maneira como nos relacionamos com ela.

À medida que os
aparelhos evoluem, adquirem novas e mais complexas funções, nós nos adaptamos e
criamos mais espaços para eles. As telas não são mais exclusividade das salas,
invadiram outros ambientes da casa e boa parte dos dispositivos pode ser carregada
para onde você for – o que, certamente, influenciou no tempo que gastamos com
eles.

Tudo isso (e muito
mais) foi observado em uma pesquisa exclusiva feita com pais e mães (com filhos
de 0 a 8 anos), com foco no uso da tecnologia pelas crianças. Para mostrar
quanto e como o consumo dos principais gadgets mudou, foram comparados os
últimos dados com uma pesquisa realizada em 2013, com 1.045 participantes com
filhos na mesma faixa etária. Desta vez, no entanto, a amostra praticamente
dobrou: foram 2.044 pais e mães.

Uma das conclusões foi que
aumentou o tempo que meninos e meninas passam diante de algum tipo de tela –
dos televisores aos smartphones. Hoje, 47% deles gastam mais de três horas com
a atividade. Há cinco anos, o volume era de 35%. “Também chama a atenção o
grande número de crianças que, com menos de 2 anos, já possuem algum
dispositivo digital”, diz o neurologista infantojuvenil Marco Antônio Arruda,
do Instituto Glia (SP), que analisou alguns dos dados da pesquisa. Segundo o
estudo, 38% delas já têm um celular, tablet, computador, videogame ou TV – no passado,
só 6% eram donas de um aparelho. Alguém se identifica?

Mas também há boas
notícias. A pesquisa realizada em 2013 trazia um dado alarmante: 84% dos pais
permitiam que seus filhos usassem algum tipo de dispositivo na hora de comer ou
dormir. De lá para cá, felizmente, esse número caiu.

Segundo o levantamento
atual, apenas 37% dos respondentes recorrem ao recurso na mesa e 23% na hora de
dormir. “Nos últimos anos, temos divulgado muitas orientações sobre os riscos
desse tipo de comportamento”, diz a neuropediatra Liubiana Arantes de Araújo,
presidente do Departamento de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade
Brasileira de Pediatria.

Os especialistas são
categóricos quanto aos efeitos negativos. Aparelhos que emitem luz, como a TV,
os tablets, os computadores ou os celulares, interferem na liberação de
melatonina, o hormônio do sono. Quanto mais luminosidade, menor a secreção da
substância, o que resulta em dificuldade para dormir. “Além disso, o conteúdo
de alguns filmes e videogames deixa as crianças falsamente calmas durante a
atividade e excitadas depois que os aparelhos são desligados”, complementa a
pediatra Regina Maria Rodrigues, do Instituto da Criança do Hospital das
Clínicas (SP).

Já na hora da refeição, o
problema não é químico, mas comportamental. E tem também efeitos graves.
Crianças que têm por hábito comer assistindo a desenhos estão mais
predispostas a apresentar disfunções alimentares, como obesidade. “Entretida
com a tela, a criança não presta atenção no que está comendo, não percebe os sabores
e, muitas vezes, nem se dá conta de que está ou não saciada”, afirma Regina.
Além disso, as refeições são momentos de convivência familiar e, na mesa, os
gadgets podem atrapalhar a interação. Que tal, nessa hora, colocar o aparelho
para carregar?


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