Promotor Paulo Borges se manifesta contra a nova lei de abuso de autoridade

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 4 de setembro de 2019 às 10:59
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:47
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Promotor diz que nova redação da lei de abuso de autoridade é uma afronta ao estado democrático de direito

Ao fazer uma análise da nova redação da Lei de Abuso de Autoridade, aprovada na Câmara Federal, e que está agora para ser analisada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, tem trazido à tona várias discussões.

Os debates não acontecem apenas nas esferas federal, estadual e municipal de autoridades do Judiciário, Ministério Público e instituições como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). 

O promotor de Justiça Paulo César Correa Borges, professor de Direito Penal (graduação e pós) da Unesp-Franca, se manifestou publicamente sobre essa nova legislação. Segundo ele, existe uma série de situações a serem observadas. 

Ele citou que a nova redação apresenta um grave equívoco que atenta contra o estado democrático brasileiro, uma vez que tenta inibir o poder Judiciário, Ministério Público e a Polícia nas ações e investigações contra corruptos, políticos (autores de improbidade administrativa), além de todo o tipo de delinquência que incomoda a sociedade brasileira, principalmente aquela de ‘colarinho branco’, que se aproveita da situação para inibir qualquer tipo de punição.

Paulo Borges explicou que a nova lei, por exemplo, inibe o uso de algemas.

A preocupação não é com o delinquente, mas sim com aqueles que tem poder político econômico.

Com relação ao Ministério Público e ao Judiciário é o erro ou interpretação divergente nesse novo formato. 

É fácil de se entender, diz ele: “quando um promotor recebe denúncias contra um prefeito, vereador ou pessoa pública e entende que deve ser feita diligências e escuta telefônica, e no transcorrer do trabalho tal pessoa descobre que está sendo investigado, pede habeas-corpus para trancar o procedimento e o promotor e o juiz que autorizaram a investigação são punidos pois praticaram crime. Isso é inadmissível”, diz. 

No entender de Paulo Borges o presidente da República precisa vetar essa lei e se não fizer demonstrará de que lado está. 

“Eu acredito que, dentro desse cenário, se o presidente não fizer sua parte e a sociedade precisa se mobilizar será uma grande transformação”, ponderou.

Os críticos da nova lei de abuso de autoridade, que atualiza a legislação de 1965, dizem que ela é uma reação à Lava Jato. Já seus defensores afirmam que se trata de coibir o desrespeito aos direitos dos cidadãos pelo aparato repressor do Estado.

Para muitos o projeto prejudica fortemente as instituições de Estado destinadas à aplicação da lei e à persecução de práticas criminosas. 

Mais grave é deixar vulnerável a separação dos poderes e a independência do Poder Judiciário e do Ministério Público e fornece poderosa ferramenta de retaliação contra Juízes/as, Promotores/as, Policiais e Fiscais em benefício de pessoas acusadas.


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