Preço do leite dispara e produto começa a faltar nos supermercados do país

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  • Publicado em 1 de abril de 2020 às 23:42
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:33
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Aumento não é uniforme, varia de acordo com a cidade, marca e tipo (integral, desnatado e semidesnatado)

O preço do leite longa vida disparou nos supermercados. A caixinha de 1 litro, que era vendida por R$ 2,79 antes da pandemia do coronavírus, agora não sai por menos de R$ 3,79 no supermercado. 

Parece pouco, mas esse R$ 1 a mais representa um aumento de custo de 35% em curtíssimo espaço de tempo. É muita coisa.

O problema é que não basta o preço ter explodido, o produto está em falta no mercado. Ou seja, o consumidor está precisando se virar nos 30 para achar leite e ainda pagar caro para levar para casa.

Mas o que está acontecendo e como os supermercados estão lidando com isso? De quanto foi o aumento? 

O aumento não é uniforme, varia de acordo com a cidade, marca e tipo (integral, desnatado e semidesnatado). 

Pesquisa da Horus mostra que o preço do leite Shefa, em São Paulo, passou de R$ 3,15 para R$ 3,96, uma alta de 25%, No Rio, o aumento foi ainda maior: 43% para o leite com tampa Italac, que passou de R$ 2,74 para R$ 3,93.

Há falta de produto nos supermercados? Sim. Levantamento da Neogrid, que monitora estoques do varejo, mostra que o índice de ruptura (demora de reposição) subiu 4,2% no final de março. Ou seja, há dificuldade para encontrar o produto nas prateleiras.

O que os supermercados dizem? O varejo culpa a indústria pelo aumento de preços. Na semana passada, a Abras (Associação Brasileira de Supermercados) denunciou a indústria de queijo e leite para a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor) pela prática de preços abusivos.

Isso seria um dos motivos para a falta de produto. “Reiteramos a nossa contrariedade e discordância às práticas abusivas de preços e solicitamos às nossas 27 associações estaduais de supermercados para que orientem seus associados a refutar qualquer aumento de preço sem explicação mercadológica”, diz a entidade.

A indústria se manifestou? A Viva Lácteos (associação brasileiro de laticínios) foi procurada por e-mail, mas não se manifestou sobre o aumento.

O que explica esse aumento? A pesquisadora de leite Natália Grigol, do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da USP, diz que existem fatores pressionando os preços do leite neste momento:

  • Produção de leite não cresce: apesar da demanda da indústria ter subido, os produtores não aumentaram a produção, o que elevou os preços do produto. “Existe um descompasso entre oferta e demanda desde 2019. Ao mesmo tempo, as indústrias estão competindo por esse leite que está no produtor, o que eleva o preço da matéria-prima.”
  • Falta de investimento: o setor produtor não investiu no aumento da capacidade. “O endividamento do produtor de leite é muito alto, por isso ele não investe na ampliação da produção. Além disso, ele não sabe se a demanda continuará alta.”
  • Variações climáticas: a falta de chuva interfere na qualidade da pastagem e, por consequência, na alimentação das vacas e na produção de leite. “A gente está saindo do verão, o que em tese seria uma estação de maior volume de chuva, mais pastagem e melhor alimentação para o rebanho. Mas tivemos um ano atípico do ponto de vista climático. Tudo isso influi na produção de leite.”

Os preços continuarão altos? Se levar em conta apenas esses fatores, a resposta é sim. Afinal, a produção de leite entrará no período de entressafra com a chegada do inverno (menos pastagem) e a demanda está alta. 

“Mas com a crise financeira que deve vir aí, não se sabe se essa demanda do consumidor final não será afetada”, diz Natália, do Cepea.

Além disso, a possibilidade de importação de leite cai à medida que as fronteiras entre países ficam fechadas para conter a pandemia.

Existe algum risco? Para Natália, o maior risco que existe é o de faltar produto porque o produtor não tem certeza do cenário econômico que vai encontrar. 

“Esse produtor não tem como estocar leite. Ele tira o leite da vaca e se não vender tem que jogar fora. Para não correr esse risco, ele reduz a produção. Já alertamos o governo sobre o risco de segurança alimentar se não houver incentivos à produção.”

*6Minutos


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