Patrimônio cultural

  • Aromas em Palavras
  • Publicado em 12 de dezembro de 2018 às 21:32
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:11
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Já ouviu falar em Grasse? A cidade do sudeste da França que simboliza a perfumaria mundial, e que testemunhou a expansão da indústria de perfumes a partir do século XVI, quando as fábricas de couro precisavam de matéria primas aromáticas para o tratamento dos produtos e para perfumar luvas. Ainda hoje, seu peso econômico é considerável afinal, as empresas da região movimentam 10% do volume de negócios do mercado mundial de fragrâncias e aromas. Seu território se espalha entre as montanhas dos pré-alpes do sul e o mediterrâneo, com solos relativamente ricos em argila, propício para o cultivo de plantas importantes para a perfumaria como o jasmim, rosa de maio, flor de laranjeira, tuberosa, íris e violeta. Porém, desde 1970 esse território vem sofrendo as consequências da pressão imobiliária, do desenvolvimento de produtos sintéticos e da concorrência de outros polos de produção.

E na semana passada as técnicas que regem a perfumaria mundial criadas lá foram finalmente declarada como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Essas técnicas possuem três vertentes diferentes: o cultivo de plantas para perfumes, o conhecimento e o processamento de matérias primas naturais e a arte da composição de fragrâncias. O selo da UNESCO deverá ampliar a possibilidade de reservar um certo número de terrenos para jovens agricultores, além de incentivar as empresas do setor de perfumaria a assinarem contratos de longo prazo que ofereçam aos floricultores a garantia de que poderão viver da colheita, realizar inventários dos rituais tradicionais associados à colheita e à extração do perfume, e a elaboração de itinerários de visitas turísticas denominados Caminhos Perfumados.

A formação para o setor de perfumes na região de Grasse abrange desde o ensino médio (em escolas integram um curso técnico em horticultura) até o mestrado universitário, mas o método mais comum naquela região de transmitir os conhecimentos ainda continuam sendo os informais aqueles passados por gerações, conhecimentos que escola alguma conseguiria ensinar, como as sutilezas do processo de destilação, enfleurage e extração por solventes. Alguns ofícios estão seriamente ameaçados como o de técnico em enxertos vegetais, vidreiro e destilador. Pois são necessários sete anos para se formar um responsável por destilação e é geralmente dentro das famílias que são transmitidos os conhecimentos indispensáveis ao cultivo de plantas destinadas aos perfumes.

Nas palavras do presidente do município de Grasse, Jérome Viaud, o reconhecimento do savoir-faire ancestral intimamente associado à região representa um evento histórico e um motivo de enorme alegria para toda a comunidade envolvida nesse setor. E já faz 10 anos que há um movimento para elevar as técnicas da perfumaria a tal título que agora sim foi concedido e com certeza motivo de orgulho para todo o mundo!

*Esta coluna é semanal e atualizada às quintas-feiras.


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