​Os que criticam os críticos do ENEM

  • Língua Portuguesa
  • Publicado em 6 de janeiro de 2018 às 22:22
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:20
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Caro prestador de ENEM, cansei de voltar ao mesmo tema

Parodiando um grande amigo: Os anos se repetem numa mesmice inquietante. Pior, a viseira, também. Pior ainda, o tapa olho “idem, ibidem, na mesma proporção”. Confira as reportagens nos veículos de comunicação sobre os resultados do ENEM por escola.

Os alunos com maiores posses ocupam as melhores escolas que ocupam os primeiros lugares nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio: óbvio. O levantamento socioeconômico confirma esse fato todos os anos. Cansou: passou da hora de acordar.

O agora maior vestibular do país é uma grande e sórdida enganação: óbvio. Se assim não fosse, não haveria razão para escrever um artigo como este todos os anos. Provoca estresse, esperança (?), mas não indignação, por incrível que pareça. O Brasil ainda acredita na história do bilhete premiado. É tudo ficará pior ainda, se é que há jeito, com a “disforma educacional”.

1. Grande quantidade de alunos que precisavam da isenção das taxas de inscrição, não conseguiu. O sistema “caía” na hora “H”: óbvio. O governo “gasta” muito dinheiro com essa prova, diz o ministro. Os apaniguados ganham também? 

2. Em todos os anos, há escândalo. Em 2016, houve dois ENEM: uma prova muito fácil; outra bem difícil. Todo mundo fez e se calou. Ninguém faz nada. Ninguém exige transparência. A segunda prova não poderia existir: é um exame nacional.

3. O que é mais engraçado em tudo isso: os cursinhos não se entendem sobre o gabarito das provas. Que prova bem elaborada, não? E os alunos, coitados, como ficam? 

4. Alunos ricos e alunos pobres não têm as mesmas chances, tanto é verdade, que o índice de abstenção só faz crescer entre os de escolas públicas: óbvio. Como publicado, entre as 10 escolas, que conseguiram melhor desempenho, não há escolas públicas.

5. Tudo mudou, para ficar exatamente igual, como sempre neste Brasil varonil. A professora Maria Inês Fini (mãe do ENEM) rugiu, rugiu e ruiu. Pariu um traque. As provas mantêm os mesmos 90 testes que devem ser resolvidos em 4:30h. O primeiro dia ainda possui uma 1h a mais, mas é “o fim da picada” esperar que alguém escreva sobre um tema como o que foi oferecido pela banca neste exíguo tempo a mais.

6. O tema sobre a “surdez” vinculada “à educação” foi muito bem escolhido, porque abriu uma discussão pertinente, porém poucas vezes vi uma proposta tão mal elaborada. Quais seriam as “intervenções sociais”, além das óbvias que a coletânea trazia?Tentando “pegar os modelos de redação”, como disse a mãe, a prova continua estimulando a construção de “modelos”. O MEC “pegou a si mesmo”.

7. Pior, o ENEM manteve o mesmo sistema de incentivo ao “decoreba”, ao candidato “robotizado”. Isso é incentivar o “ensino criativo?”. Desincentiva um jovem a elaborar uma redação “Frankentein”? 

8. Muitas escolas continuam aplicando o velho golpe, usam CNPJ diferentes com o mesmo endereço. A jogada é óbvia, robotizar turmas específicas para alcançarem as melhores notas. Os pais, até hoje, creem que as melhores escolas são as que têm o melhor desempenho na prova. Pior, os alunos também.

9. Desgraça das desgraças: o ensino brasileiro “enenzou”, desde o quinto ano as escolas já preparam rebentos para PAPAREM o ENEM. Quer mais? Sinto muito, não cabe aqui.

Será que Chateaubriand tinha razão, quando batia no peito e berrava: “Esse é um país de botocudos”?


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