O impacto causado pela saída dos filhos de casa na vida dos pais

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 20 de maio de 2018 às 19:11
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:44
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Tristeza, depressão e solidão estão entre os sintomas, principalmente nas mães que sofrem com o ninho vazio

A Síndrome do Ninho
Vazio é caracterizada por um sentimento de tristeza e desânimo que acomete os
pais quando os filhos se tornam independentes e saem de casa. A maioria das
pessoas educa seus filhos e os prepara para buscar seus próprios caminhos, mas
alguns pais (principalmente as mães) que dedicaram suas vidas exclusivamente
aos filhos começam a perceber que não descobriram outros papéis enquanto
indivíduos a não ser o de pai/mãe e, assim, começam a se sentir desconfortáveis.

Além disso, é comum que os casais que estão passando por esta fase
acabem tendo conflitos. Isso porque, quando os filhos já estão criados e a vida
financeira é estável, existe um reencontro entre o casal que, às vezes, pode
perceber que não há mais nenhum projeto comum. Inconscientemente, marido e
mulher estabelecem um compromisso de vínculo para educar os filhos e, quando eles amadurecem, os pais sentem que sua função foi
cumprida.

Apesar de sentir-se realizada
ao ver a única filha casar e estruturar uma nova vida, Hebe desmoronou quando se
viu sozinha em casa, em 2017. “Quando
eu falava dela, sentia uma vontade incontrolável de chorar. A razão dizia que
eu precisava construir novos laços, mas o sentimento era de não querer
conversar com outras pessoas”, conta Hebe, hoje com 52 anos e viúva há 13.

Formada em Economia, ela
trabalha como bancária há 29 anos. Apesar de gostar do trabalho, não conseguia
lidar com a solidão e sentiu dificuldades para recriar a rotina, agora voltada
para si e não mais para a filha Ana Carolina. “É difícil não ter mais uma
pessoa para cuidar e conversar. Eu não fazia muita coisa sozinha, a maioria do
meu tempo era para ela, com ela e por ela”, diz Hebe. “Ela tinha
atividades durante o dia, mas a gente sempre conversava quando ela chegava em
casa, mesmo que fosse tarde da noite. Eu não ficava totalmente sozinha.”

Após a saída da filha, Hebe
começou a apresentar sintomas depressivos: só saía de casa para trabalhar e
visitar os pais, sentia dores intensas no corpo e vontade constante de chorar.

Em
abril de 2018, após 11 meses, Hebe decidiu buscar uma psicóloga e foi
diagnosticada com a síndrome do ninho vazio (SNV), caracterizada pelo
sofrimento dos pais após o esvaziamento da casa pela saída dos filhos.

Apesar
de não se arrepender da dedicação à filha, Hebe hoje reconhece a importância de
buscar outras atividades de seu interesse e de construir si mesma em outros
papéis além da maternidade.

Se antes esperava convites
para sair de casa, agora Hebe busca viver de outra maneira. “Chorava a
ausência dela e pensava que alguém poderia me convidar para sair. Agora não
fico mais lamentando e tento convidar as pessoas”, conta.

Hoje, Hebe acompanha Ana Carolina por telefone e nos
almoços de fins de semana. Apesar de ainda sentir falta da filha, ela considera
que o contato não se perde: apenas se transforma. “Os filhos precisam
seguir o caminho deles e nós que temos que buscar o nosso, sem a presença deles
tão constante.”

Dificuldade para
diagnosticar

Segundo
a psicóloga Adriana Sartori, mestra no tema pela Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (FMUSP), a síndrome do ninho vazio (SNV) começa como uma tristeza
leve e pode evoluir até a depressão.

Ela
afirma que há poucos estudos sobre o tema no Brasil e que a síndrome é difícil
de ser diagnosticada, pois costuma ocorrer simultaneamente a outros processos
desafiadores – como a aposentadoria, o envelhecimento e o adoecimento dos
próprios pais.

Outro
fator que dificulta o diagnóstico é a falta de um prognóstico adequado que
investigue os fatores emocionais por trás dos sintomas físicos comumente
apresentados por pacientes com a SNV, como cansaço e dores musculares extremas.

Em
sua pesquisa de mestrado, a psicóloga conversou com muitos pais que acabaram
buscando em casas de bingo um conforto para a solidão do ninho vazio e constatou
que, quanto mais intensa a SNV, mais graves serão os sintomas de vício em jogo.

Diferenças entre gêneros

Ainda
que as mulheres tenham conseguido maior inserção no mercado de trabalho nas
últimas décadas no Brasil e tenham outras responsabilidades além da criação dos
filhos, a síndrome do ninho vazio ainda é mais frequente entre as mães.

Segundo dados do IBGE, em 2016
as mulheres dedicavam uma média de 18 horas semanais a cuidados de pessoas ou
afazeres domésticos, 73% a mais do que os homens (10,5 horas).

A psicóloga explica que a menopausa é outro fator que
diferencia o impacto da SNV entre homens e mulheres. “Quando elas ocorrem
simultaneamente, a síndrome intensifica sintomas negativos da menopausa, como
ansiedade, cansaço, depressão e alterações na libido, memória e humor.”

Como lidar com a partida dos filhos

Entenda a nova fase

Reconheça que é natural
que os filhos saiam de casa para buscar sua própria independência é natural.
Neste momento, é importante refletir e aceitar que a fase de mãe protetora
passou e perceber que outras possibilidades podem se abrir e a descoberta de
novos papéis é essencial. Encare essa nova fase como uma oportunidade de cuidar
de você e realizar novas tarefas.

Encerre o ciclo

Faça um exercício:
inspire e segure a respiração. Repare como o “ar antigo” nos sufoca, não
deixando novos ciclos de oxigênio acontecerem. A mesma coisa ocorre quando nos apegamos a ciclos que já se encerram e quando temos medo
da perda e não conseguimos focar nos ganhos que ela nos traz.  Permita-se
abrir espaço para o novo.

Tire seus sonhos da gaveta

Orgulhe-se de ter
completado sua missão: você criou seus filhos para serem independes e cumpriu
sua tarefa. Agora é o momento de tirar seus sonhos da gaveta. Encontre novos hobbies, pratique exercícios, comece um novo
curso e aprenda coisas novas. Reflita honestamente sobre as ações que te dão
prazer. Ao longo da vida, as pessoas acabam adiando uma lista de atividades
prazerosas por conta da correria diária. Faça uma lista com tudo que deseja
realizar e coloque-se no centro da sua vida.

Pense nos lados positivos

Além de ter mais tempo
para você, muitas vezes o relacionamento com os filhos melhora quando eles
mudam de casa. Aproveite a nova fase para dar mais atenção ao seu
relacionamento e sair mais à dois.


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