O hambúrguer do futuro chegou. Mas será que você vai querer experimentar?

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 12 de agosto de 2018 às 22:38
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:56
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Para imitar o sabor da carne e satisfazer carnívoros, Vale do Silício usa componentes da carne “de verdade”

Apesar do velho caso de amor com a carne vermelha, cada vez mais
americanos estão optando por imitações à base de vegetais em restaurantes e
supermercados. Não aquele hambúrguer vegetariano que parece um disco de hóquei esquecido no fundo
do seu freezer, mas alternativas à base de vegetais criadas para imitar o sabor
da carne de verdade.

Mas fazer vegetais parecerem carne
sempre foi difícil. Para criar algo que satisfaça os carnívoros, o Vale do Silício decidiu que é preciso utilizar componentes da carne de verdade – e isso
significa ir ao laboratório. A dúvida é se os consumidores vão querer devorar,
sem pestanejar, um hambúrguer feito de células cultivadas em um biorreator.

Como ocorre com quase tudo o que
os americanos compram, o gerenciamento de marca de uma carne tão artificial
será fundamental. Essa é a conclusão de um estudo divulgado na semana passada
pela Faunalytics, um grupo de defesa dos animais, e pelo Good Food Institute
(GFI), um grupo sem fins lucrativos da indústria de alternativas aos produtos
de origem animal. É improvável que um hambúrguer “feito em laboratório”, “in
vitro” ou “com carne artificial” faça um sucesso estrondoso. Mas chamá-lo de “clean
meat” (“carne limpa”), termo usado por esse setor incipiente,
pode atrair novos clientes.

Dois terços dos participantes da
pesquisa da Faunalytics disseram que provariam carne produzida a partir do
cultivo de células quando descrita como “carne limpa” e depois de ouvirem
descrições positivas dos produtos. O termo, segundo a pesquisa, “reduz a
sensação de nojo”. Mensagens negativas a respeito da carne convencional também
ajudaram na aceitação pelo consumidor.

Pesquisas de outras empresas não
associadas à defesa dos animais, no entanto, têm sido menos favoráveis. Segundo
dados da empresa de marketing agrícola e de alimentos Charleston|Orwig, apenas
3% dos consumidores não expressaram “nenhuma reserva” em relação à
ingestão desses produtos, enquanto 57% responderam “não, de jeito
nenhum”. Em um terceiro estudo, da empresa de pesquisa de tendências
alimentares Datassential, 68% dos participantes disseram que “não
estavam interessados” em carnes artificiais.

Alguém poderia pensar que os
benefícios gerados ao ambiente e ao bem-estar animal seriam argumentos de venda
para a carne artificial — mas não é assim. Embora os consumidores mais jovens
estejam antenados com esses assuntos, estes geralmente são os motivos menos
apontados para a redução do consumo de carne, disse Kyle Chamberlin, da
Datassential.

O crescimento dos alimentos à base
de vegetais é basicamente estimulado por preocupações com a saúde. Quase metade
dos consumidores compra hambúrgueres vegetarianos por considerar que eles são
mais saudáveis, segundo um relatório de março da Datassential. 

O GFI informou
que a agricultura celular gera benefícios para a saúde. Ao contrário da carne convencional,
esses produtos não têm contaminação fecal e dispensam o uso de antibióticos,
por isso não contribuem para a resistência humana aos antibióticos. Mas estes
argumentos relacionados à saúde não são tão comuns quanto evitar gordura
saturada e colesterol e perder peso. “Isto é um grande enigma”, disse Mark Gale, CEO da
Charleston Orwig. As empresas “não deveriam supor que haverá necessariamente
uma ampla adoção só porque elas poderiam conseguir criar isso.”


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