O avesso do vírus

  • Língua Portuguesa
  • Publicado em 13 de março de 2020 às 16:54
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:20
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Surgiu o primeiro vírus seletivo na contramão da história. Há 100 anos, praticamente, a gripe espanhola enfiou milhares de pessoas pobres debaixo de sete palmos de terra. O corona é o primeiro vírus chique, ataca os ricos, que viajam pelo universo em aviões e cruzeiros marítimos. Pobre viaja de busão. Pega gripe. Já se sabia da existência do vírus muito antes do carnaval. A massa de turistas estrangeiros, chineses, italianos etc. etc. pelo jeito, não trazia na bagagem o tal corona, que aqui é nome de chuveiro. Chuveiro de raiz italiaa. Que perigo! Mas, se os turistas não viessem, haveria um caos econômico. Então, que vírus, que nada. Também!!! Não era preocupante. O Brasil é um país pobre, ele só ataca os ricos. Na América Latrina, pelo que se sabe, chegou atrasado e, em alguns países, nem chegou. A Europa ficou com todos para ela. Capitalizou o vírus. Socializou a confusão de informações. Só falta o movimento, SOMOS TODOS CORONA.

Os governos tomaram providências rápidas para enjaular o tal corona, nome de batalha italiana. Que perigo! Se o fizessem com tantas outras doenças, haveria uma praga de pobres zanzando por aí, querendo comer e beber. Seria a Guerra Mundial Z (de zumbis, sem Brad Pitt, que é rico), uma perigo para os catastrofistas de plantão. Será que, se o corona fosse uma doença de pobretões, haveria tanto alarde? Muita gente morre nas filas do SUS com doenças muito menos graves e ninguém faz nada. Gente pobre morre em pé de página. O Tom Hanks ri contaminado na primeira do Times. Ele não morreu em um naufrágio sem navio. O Náufrago sem nau. O corona dele é a coroa solar.

Você, desesperado leitor, vai me matar, xingar, porém não tem como contestar: a dengue e a febre amarela matam muito mais. Mas, são doenças de pobres. Esse vírus, de baixa letalidade, não justifica tamanha queda das bolsas de valores e a explosão do dólar, a não ser que especuladores estejam ficando biliardários à custa dele e subornando até as mães das mães?

Sério. Estamos vivendo uma crise econômica de proporções tão gigantescas, quanto a de 1929. A China sustentou o capitalismo durante, pelo menos, três décadas, agora a máquina emperrou. Os ricos aproveitaram a deixa e enfiaram, no meio do caos, a guerra do petróleo. Ela anda fazendo estragos monumentais disfarçada de corona. Trump está voltado para ela, de tal forma, que, mesmo tendo reuniões com um brasileiro contaminado, desprezou o vírus. Vírus brasileiro não pega em americano. É um vírus terceiro-mundista.

Existe uma máxima entre os economistas: “Enquanto uns choram, outros vendem lenços”. O perigo é a doença atingir os pobres e, como sempre acontece, são eles que levam a doença para a casa dos ricos. Então, temos que impedi-la, custe o que custar. A velha máxima: “Quer acabar com a fome, então mate todo mundo que está com fome”. O caos provocado pela gripe espanhola nos ensinou muita coisa: investir em higiene e em um sistema de saúde eficiente é crucial para destruir pandemias. Somos péssimos alunos. O sistema de saúde é um dos maiores ralos por onde escorre a corrupção no Brasil.

Sério. Muita coisa sobre o capitalismo, a pandemia confirmou: muito lenço está sendo vendido. A economia gira, sem uma guerra com armas letais. Guerras são muito caras; gaz Sarin, muito mais. Fabricantes de álcool gel, gêneros alimentícios e papel higiênico não podem reclamar. A inflação vai explodir, a falta de alimentos também. Os hipermercados vão estufar de tanto ganhar dinheiro. Quando enterrarmos o vírus, quem estava em casa, guardando dinheiro, sairá comprando o que ver pela frente. É assim que funciona, quando se quer reconstruir.

Assim sempre foi. Assim sempre será. Sabe quem mais ganha com tudo isso, por incrível que pareça, o meio ambiente que acaba sendo menos destruído pela nossa sonha consumista. Quem perde? Nossos relacionamentos: Distancie-se das outras pessoas (mais?). Expulse o sexo e o beijo do seu cotidiano (vírus maldito). E as baladas, como ficam? Cumprimente com o cotovelo (ridículo, melhor fazer mímica). Abraço? Nem pensar. Amar? Só mascarado. (como em Os Amantes, quadro surrealista de Magritte, em que os amantes se beijam, mas não se veem). O mundo já estava ficando chato, o corona fez ficar mais chato ainda. A desinformação e o alarmismo são piores que a contaminação. Cuidado com o seu dedinho no celular e no teclado do computador. Bem! Agora já era.


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