Novo tratamento para câncer no reto pode dispensar cirurgia

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 7 de julho de 2018 às 18:29
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:51
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Resultados de pesquisas mostram que pacientes que não fizeram cirurgia tiveram sobrevida maior

Novo tratamento para
o câncer de reto oferece ao paciente a possibilidade de não precisar fazer
cirurgia de remoção do intestino depois da quimioterapia e radioterapia
concomitantes.

Segundo estudo
publicado na revista médica britânica The Lancet, pesquisadores
internacionais, incluindo dois brasileiros, descobriram que muitos pacientes
com câncer de reto que não se submetiam a cirurgia
radical alcançavam taxa de sobrevida em três anos de 93%,
enquanto os que eram submetidos ao procedimento atingiam taxas de 90%. Apesar
da pequena diferença, os resultados mostram que operação pode não ser
necessária para um número significativo de pacientes.

Exclusão da cirurgia

O procedimento padrão para o tratamento da maioria
dos casos de câncer de reto é a utilização simultânea da radio e quimioterapia, seguida da cirurgia para a retirada
de tumor residual no intestino ressecado, geralmente agendada antes mesmo dos
resultados da regressão do câncer.

No entanto, em observação ao longo dos anos, a
médica brasileira Angelita Habr-Gama e outros pesquisadores brasileiros
perceberam, ainda na década de 1990, que em muitos casos a parte retirada do
intestino não apresentava tumor residual e, portanto, havia a possibilidade de
que alguns pacientes não precisassem ser operados uma vez que o tratamento
inicial poderia ser bem sucedido.

A partir daí, a equipe decidiu esperar a avaliação
da resposta ao tratamento antes de fazer a cirurgia, assim os médicos poderiam
determinar quais pacientes mostrariam sinais da regressão clínica completa do
tumor de reto, excluindo a necessidade de intervenção
cirúrgica.

Novas descobertas

Nos primeiros anos de publicação dos resultados, a
nova proposta de tratamento recebeu muitas críticas, no entanto, conforme os
resultados se mostraram promissores, mais pesquisadores passaram a reconsiderar
os novos achados, buscando observar a resposta dos pacientes que não faziam a
cirurgia.

A aceitação permitiu a descoberta de um novo esquema
de quimio e radioterapia que poderia
garantir um número ainda maior de pacientes que responderiam bem ao tratamento
inicial. O aumento da dosagem das medicações contra o câncer proposta pelos
pesquisadores visava melhorar os índices de resposta completa ao
tratamento, evitando, assim, a cirurgia.

Segundo Rodrigo
Oliva Perez, coordenador do
grupo de cirurgia colorretal oncológica do Centro de Oncologia da BP – A
Beneficência Portuguesa de São Paulo, hospital que oferece o tratamento, antes
do aumento das doses, 20% a 25% dos pacientes apresentavam resultados
positivos. Agora esse número chega a quase 50%. Os resultados das
observações foram publicadas em 2013 na revista Diseases of
the Colon & Rectum (DCR)
, da Sociedade Americana de
Cirurgia Colorretal (ASCRS, na sigla em inglês).

Benefícios e riscos

A exclusão da cirurgia, que apresenta risco de
complicações, é um dos principais benefícios dessa nova proposta de tratamento
do câncer de reto. Não passar pela intervenção cirúrgica também evita a
necessidade da colostomia definitiva
– uso de bolsa artificial colocada na barriga pela qual o intestino passa a
funcionar -, ou passar pela reconstrução
intestinal que pode comprometer a função evacuatória. Além
disso, é possível poupar os pacientes de sequelas funcionais, como impotência
sexual e disfunções urinárias.

Para os pacientes nos quais o tumor não desaparece
por completo (cerca de 24% dos casos), a realização da cirurgia é obrigatória.
“Dados dos estudos publicados mostram que o fato de o paciente ter sido operado
depois, quando já há evidência de que o tumor voltou a crescer, não parece
trazer prejuízos. O risco é o mesmo daqueles que são operados de imediato”,
esclareceu Perez.

Como essa alternativa terapêutica exige conhecimento
técnico e equipamentos adequados, nem todas as instituições brasileiras estão
preparadas para oferecer o novo tratamento.

Mortalidade e sobrevida

Outro dado mostra que a taxa de
sobrevida em três anos dos pacientes que não fazem a cirurgia é
de 93%; já os que fazem a operação imediatamente é de 90%, confirmando que
adiar a operação até a existência de informações concretas da volta do tumor
não coloca em risco a sobrevivência dos pacientes.

Entretanto, Perez explica que o novo tratamento
ainda não é capaz de interferir na taxa de
mortalidade da doença, embora consiga melhorar a qualidade de
vida. Essa é a realidade de muitas outras alternativas terapêuticas que têm
sido descobertas nos últimos anos para o tratamento dos diversos tipos de
cânceres.


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