Mais de 40% dos jovens formados ocupam postos de menor qualificação

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 12 de dezembro de 2018 às 17:34
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:14
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Economia brasileira não consegue gerar vagas compatíveis com aumento da escolaridade da população

Pelo menos 44,2% dos jovens entre 24
a 35 anos formados no ensino superior exercem atualmente trabalhos que requerem
menor qualificação do que a escolaridade adquirida. Em 2012, a taxa era de 38%.

Os dados foram divulgados nesta
quarta-feira, 12 de dezembro, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), dentro da seção Mercado de Trabalho da Carta de Conjuntura do quarto
trimestre de 2018.

 O estudo, do Instituto de
Pesquisa Econômico Aplicada (Ipea), foi feito com base nos dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho
e Emprego.

Segundo a técnica de Planejamento e
Pesquisa do Ipea Maria Andrea Lameiras, o estudo mostra que a economia
brasileira ainda não consegue gerar postos de trabalho compatíveis com o
aumento da escolaridade da população. 

O percentual de brasileiros com nível
superior passou de 10,2% em 2012 para 13,9% em 2018 e o número de trabalhadores
com nível superior passou de 13,1 milhões para 19,4 milhões no mesmo período. “Hoje temos uma população ocupada
cada vez mais escolarizada, um momento forte no número dos que têm diploma
universitário, mas um terço não consegue emprego compatível.”

A proporção de trabalhadores com
nível superior, que exercem função de menor qualificação, está em 38%, o maior
índice da série histórica, iniciada em 2012, quando a taxa era de 33%.

Vagas

Segundo a técnica, com a crise
econômica iniciada no final de 2014, diminuiu o número dos que conseguem cargo
compatível com a escolarização e, consequentemente, eles tiram as vagas de quem
não tem graduação. “Hoje tenho uma gama grande de
trabalhadores universitários que acabam tendo que desempenhar funções de
escolaridade média ou até de escolaridade fundamental, porque não há emprego
compatível com a graduação dele”.

A diferença salarial entre a
população de nível superior ocupada em cargo compatível e a que exerce função
abaixo de sua qualificação também aumentou no período.

Em 2012, a diferença era de 46% e no
terceiro trimestre de 2018 subiu para 74%. “Ou seja, um trabalhador que tem um
diploma e uma função compatível ganha 5.700 reais. E um trabalhador que também
tem um diploma superior, mas que não tem emprego compatível, está ganhando R$
3.200 reais.”

Mercado
de Trabalho

O estudo também mostra que a recuperação
do país está moderada. A taxa de desocupação caiu no trimestre móvel
encerrado em outubro, ficando em 11,7%. Porém, houve aumento de 10,4% no número
de pessoas subocupadas, que trabalham menos de 40 horas semanais, mas gostariam
de trabalhar mais, chegando a 7 milhões, na comparação com o mesmo período de
2017. Aumentou também o número de pessoas que procuram trabalho a mais de dois
anos, chegando a um quarto do total de 12,7 milhões dos desempregados.

O Ipea aponta que a recuperação da
economia e do mercado de trabalho em 2018 ficou abaixo da expectativa, apesar
da geração de 790 mil vagas com carteira assinada no ano.

Segundo a pesquisadora, o ano foi
“muito conturbado”, com greve dos caminhoneiros, desvalorização do Real e
eleições, que refletiram em falta de confiança no mercado para retomar o
crescimento econômico e impediram que os efeitos da reforma trabalhista fossem
sentidos no mercado de trabalho.

“Do final de 2014 para setembro de
2018 houve piora nos indicadores econômicos e no ano passado os números
estabilizaram num patamar ruim.” O mercado de trabalho é o último a entrar
na crise e o último a retomar. Em 2015 a economia estava muito mal, mas o
mercado de trabalho não. Quando a crise chega no mercado de trabalho piora
tudo, o que ocorreu no final de 2015 para 2016. Quando os outros setores da
economia voltam, demora a refletir no mercado de trabalho”.

Os dados mostram que a população
economicamente ativa teve leve alta de 0,9 e a população ocupada aumentou 1,5%
no trimestre terminado em setembro, o que leva a uma tendência de retração na
desocupação.

O Ipea destaca que o nível de
desemprego ainda está muito alto, assim como o desalento, ou seja, pessoas sem
ocupação que não procuraram trabalho, que está em 4,37 milhões de brasileiros,
um aumento de 10,6% em relação ao mesmo período de 2017. Isso corresponde a
2,7% da população em idade ativa. O número de trabalhadores sem carteira
assinada aumentou 2,9% e o de trabalhadores por conta própria subiu 5,2% no
trimestre.

A expetativa dos pesquisadores do
Ipea para 2019 é de melhora no mercado de trabalho, mas para isso é necessário
crescimento econômico mais forte.


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