Liguei o chutômetro

  • Língua Portuguesa
  • Publicado em 20 de outubro de 2017 às 14:20
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:20
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Não tem jeito. Chegando a prova do ENEM, todo mundo, até a minha avó, “do outro lado do mistério”, resolveu dar pitacos nos temas que podem cair na prova. Cair, literalmente, porque a quantidade de “zeros” é brutal. O prestador conhece as regras do jogo, há anos.Para quem, ao longo de sua ainda imberbe vida, não apostou na construção de um bom repertório cultural (expressão da moda), agora está à beira de um ataque de nervos. Os critérios, que mais eliminam candidatos, são “a fuga ao tema proposto” e a “falta de uma intervenção social convincente, que não fira os direitos humanos”. Vamos lá:

Todos os temas trazem palavras-chave. Se a tese não as trouxer, ocorrerá a fuga. Abaixo sublinhei essas palavras chaves nos cinco últimos exames:

2012: Imigração para o Brasil no século XXI.

2013: Os Efeitos da Lei Seca

2014: Publicidade Infantil em questão no Brasil.

2015: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira.

2016: Caminhos para Combater a Intolerância Religiosa no Brasil.

Ferir os direitos humanos é uma regra muito complicada, por isso a cartilha (disponível no site do Inep) lista crime em exames anteriores. Um exemplo: Para acabar com a fome, o melhor é matar todo mundo que está com fome.

Não adianta agora fazer um “caminhão” de redações, se você não as corrigir com um professor especializado e receber as orientações necessárias, para não “cair nos braços” do jeito ENEM de “estuprar” o candidato. Parodiando Gabriel Garcia Marques, podemos chamar de “A crônica do estupro anunciado”. Por quê? Porque, como bons brasileiros que são,alunos acreditam em sorte: Na hora, “eu se viro”. Por que, como brasileiro que é, o professor jura que adivinhará o tema. Dá uns 40 temas na semana da prova e grita a plenos pulmões: “Viu? Eu não disse que ia cair?”.

Como bons brasileiros, que são, muito candidatos deixaram para a última hora, esperando um milagrezinho. Quando percebem que não há milagre, alguém lhes oferece um: plagiar outras redações que já caíram: a famosa Redação Frankenstein ou optar pela “forma de bolo”: a famosa Redação Padaria. É ético fazer isso? Nem um pouco. Mas, estamos no Brasil e, se até as autoridades, responsáveis por coibir a corrupção, são corruptas, ser loirinho e disputar a vaga pelo sistema de cotas para negros ou “copiar” redações já prontas, é apenas corrupçãozinha, um pecadilho.Afinal vestibular é competição e, em competição, vale tudo. Ademais, ninguém é de ferro.

Como dirão que estou enrolando, vamos a banca examinadora mudou, para manter tudo igual. Os últimos dois temas foram sobre violência contra alguém, portanto os “massacres contra os índios” e a “violência urbana” podem aparecer. Os últimos cinco temas trouxeram questões que envolvem leis, portanto “as questões que envolvem deficientes físicos e idosos” podem aparecer. Como o ENEM está atrasado em relação aos outros vestibulares, “A constituição da família nova brasileira”, “A corrupção”, “O trabalho escravo”, “A crise dos refugiados” podem cair.

Provavelmente não acertarei o tema, mas você, caro vestibulando, não pode dizer que não me orientei pela lógica. Ah! Se o Exame Nacional do Ensino Médio fosse orientado pela lógica! Se fosse, não existiria. Pelo menos, dentro desse modelo, não.


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