Kichute: a história de um dos calçados mais populares da história do Brasil

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 10 de novembro de 2017 às 09:53
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:26
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Companheiro inseparável dos garotos nas décadas de 70 e 80, calçado fez história no país e deixou saudade

Unanimidade ou falta de opção nas décadas de 70 e 80? O que importa, na verdade, é que o Kichute, tênis que calçou 10 entre 10 garotos dessa época, fez história e deixou saudades.

O Kichute foi o sonho de consumo dos meninos de toda uma geração por décadas. Calçado simples e barato – e que servia tanto para o dia a dia quanto para jogar futebol na rua. Era um companheiro inseparável.

Lançado em 1970 pela Alpargatas, o calçado pegou carona e se aproveitou da paixão do brasileiro por futebol e a realização da Copa do México naquele ano. A seleção brasileira já era bicampeã mundial. Feito de lona resistente e com o solado que imitava os cravos de uma chuteira, o calçado era pretoe lembrava uma chuteira de verdade. Naquele tempo, não existiam variedades de modelos como hoje verdes, rosas ou douradas. Seu cadarço era imenso, o que fazia com que todo mundo o amarrasse dando voltas no tornozelo. Muito resistente, aguentava as duras partidas de futebol contra os meninos da “rua de baixo” e ainda acompanhava seu dono à escola. Aliás, era quase um item do uniforme dos colégios: a maioria deles exigia calçados pretos nos pés dos alunos. Ninguém largava seu Kichute por nada, e só o tiravam, relutantemente, pra tomar banho e dormir.

No auge da sua popularidade, o Kichute chegou a vender mais de nove milhões de pares por ano, o que o fazia um dos calçados mais rentáveis da gigante Alpargatas. Isso quer dizer que quase dez por cento da população brasileira comprava pelo menos um par de Kichutes por ano, um número espantoso.

A Alpargatas investia pesado em publicidade. Em uma das campanhas de TV, ninguém menos que o craque Zico foi contratado como garoto-propaganda. Devido ao sucesso e popularidade, a empresa chegou a lançar produtos complementares à marca Kichute, como as bolas de futebol de campo e de salão. E ainda, graças à sua durabilidade, a prefeitura de São Paulo instituiu, nos anos 90, o Kichute como parte do uniforme oficial dos garis da cidade.

Infelizmente, nessa mesma época, a popularidade do Kichute começou a cair graças à chegada de novas marcas importadas de tênis esportivos. Em 2002, já em seus últimos suspiros, o Kichute foi usado como parte dos desfiles de moda do renomado estilista Alexandre Herchcovitch. Em 2009, o cineasta Luca Amberg ganhou o prêmio de Melhor Filme do Júri Popular com seu trabalho Meninos de Kichute, ambientado nos anos 70 e que conta a história de um garoto de 12 anos que sonha em ser goleiro da seleção.

Hoje em dia, apesar de o Kichute não ser mais fabricado, ainda é possível encontrar alguns exemplares à venda no Mercado Livre e outros sites semelhantes, certamente procurados pelos garotos daquela época que agora têm mais de 40 anos – e que querem manter vivas as memórias de um símbolo que marcou uma geração.